sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Teste de auto-controlo: prova superada!

Não ter um ataque de riso, nem sequer um tremelicar de voz, enquanto se chama através de um telecomunicador para uma sala de espera de uma instituição pública, por uma senhora baptizada com o nome de Pissi Bambi Titi. 
Damn, eu hoje mereço uma medalha.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal dos hospitais

"Linda. Tu és uma mulher linda. O cabelo e os olhos. Linda! Mas onde tu és mesmo linda é aí dentro. Tu és linda no coração."
 
Entre sangue e dentes desfeitos, estas foram as últimas palavras que o homem de pernas engessadas, braços amarrados às grades da maca e nome estrangeiro me disse enquanto o maqueiro arrastava a maca para fora do gabinete. O sotaque deixou-me receosa. Receosa, mas intrigada. Entre a dicção marcada pelo excesso de fluídos orgânicos que saíam em pequenos esguichos vermelhos e que pintalgavam o lençol branco com o logotipo do hospital e a fala arrastada resultante de alguma coisinha na veia para lhe acalmar os nervos, a musicalidade da pronuncia de um qualquer país de leste era ainda evidente. Estaria eu a ser preconceituosa? Seria possível identificar a nacionalidade de um sotaque com todas aquelas condicionantes? O nome Yuri num homem de olhos azuis e roupa de servente das obras teria influenciado o meu raciocínio? Porque estava eu a pesquisar o processo de um doente para satisfazer a minha curiosidade? Efeito de quase vinte horas consecutivas de trabalho? Exacerbação de carências afetivas? O facto de ele ter dito que eu sou linda cinco vezes em trinta segundos terá despoletado em mim alguma reação libido-psicológica? Ele vinha da Rússia? Da Ucrânia? Da Roménia? Da Hungria? Fui ver. Vinha da psiquiatria.
 
 
Um bom Natal a todos.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Diz que este post vai chegar aos 50 comentários (ou então fico triste)

Há umas semanas, em conversa de pausa para café, as mulheres crescidas lá do trabalho falavam disto: como é bonito ser-se independente mas sem o desatino dos 20 anos, de não fazer tudo de cabeça quente, de controlar melhor os impulsos e de viver as coisas serenamente em nossa casa. Nesse dia, chamei velhas frígidas a todas elas. Uma delas limitou-se a responder-me 'daqui a uns tempos, falamos'. E ontem à noite, estava aqui eu aborrecida e pensei: Olha, estou aqui a mamar sushi e vinho tinto feita parva e a olhar para a televisão... isto queria era que eu me passasse dos cornos e fugisse de casa e conduzisse sem destino, desse boleia a gajo lindo de morrer e com uma pila da largura do meu punho, que encostássemos num sítio qualquer e pinássemos até ser dia. Mas depois pensei: Oh filha, deixa-te mas é de coisas que já estás em pijama e fugir de casa quando se vive sozinha é assim um bocado a dar para o estúpido, para além de que tu não conduzes nem tens carro e isso de engatares gajos na carreira 731 da Carris não é boa ideia que ainda te sai um traficante de bairro ou um cliente do traficante, sendo que isto é quase indiferente porque o grau de putrefação dos dentes deve ser semelhante, e quando desses por ti estavas a pinar no campo de futebol do Olivais e Moscavide, e com o frio que está na rua ainda apanhavas uma pneumonia. Desmoralizei um pouco e considerei que o meu plano inicial era levemente megalómano, que os riscos podiam ser realmente elevados, pelo que a minha revolta ficou-se apenas por adormecer no sofá com a televisão ligada e ter acordado sobressaltada de madrugada, gelada, com o nariz a transbordar de ranho, enquanto sonhava com uma pinadela à antiga, daquelas com mamas aos saltos como quando a Bo Derek cavalgava em pelota. Foi assim que acordei no dia em que completo 35 anos. E não, não estou a ficar velha, foi aquela puta que me lançou bruxedo. Parabéns a mim. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Qualquer semelhança entre o texto seguinte e a apresentação de famílias desgraças em programas televisivos de remodelações de casas é propositada.

Olá, o meu nome é Snail. Sou uma família em nome individual e a única fonte de rendimento do meu agregado familiar sou eu. Por este motivo, cheguei a partilhar casa e despesas com uma indígena angolana, que falava com Deus e peidava-se a toda a hora sem pudor, a maior parte das vezes em simultâneo. Algumas vezes ainda a vi comer, peidar-se e falar com Deus. Passados dois anos de vida em comum, a minha indígena decidiu deixar-me, assim sem mais nem menos, argumentado que eu tinha hábitos de vida desadequados. Decidiu emigrar. Na altura não entendi, hoje vejo que foi fruto do choque e do desespero, mas iniciei um romance tórrido com um individuo do mesmo padrão cromático que a minha companheira de casa algumas semanas antes da sua anunciada partida. Não se peidava, não falava com Deus, não o vi a comer muitas vezes, mas usava sapatos feitos de pele de animais exóticos e cantava kizomba ao meu ouvido enquanto me comia por trás. Confusa, exausta e desesperada, mandei o indivíduo embora, deixei a amiga a empacotar coisas na casa antiga e mudei-me sozinha para uma nova casa. Entretanto, as amigas de infância começaram a parir desenfreadamente este ano, bem como as namoradas actuais da maioria dos meus ex-relacionamentos, e ninguém tinha tempo para mim, pelo que, em poucos dias, dei por mim absolutamente só. Refugiei-me no exercício físico, com idas frequentes ao ginásio, local onde fiz amizade com uma senhora de 50 anos que fala, fala, fala, não diz nada de jeito, mas diverte-me. Ela gostou tanto de mim que chegou a tentar fazer arranjinho entre mim e o filho solteiro dela, descrito pela própria como um puto giro e muito bem constituído, treinador de futebol de iniciados e muito divertido. Certo dia, não sei que voltas deu ela, mas acabámos por nos encontrar os três: eu, ela e um gajo de corsários brancos, havaianas e t-shirt azul bebé, que me deixou na dúvida se era portador de alguma forma de estrabismo exótico ou se tinha um olho de vidro. Lembrei-me da minha preta e com um 'Ai senhor, acho que estou com cólicas!' dei o mote para a minha fuga estratégica. Decidi ficar uns tempos afastada do ginásio e comecei a dar umas corridas ao fim do dia para manter a forma. Castigo ou não, torci um pé, fiz uma rotura parcial de ligamentos e estou há quase duas semanas em repouso. Aborrecida de estar em casa, sozinha, sem poder treinar, a ruminar no sofá como a mãe de todas as vacas gordas, decidi passar o fim de semana na terrinha e ir visitar as minhas amigas que pariram, obrigando o meu pai a fazer de chauffeur. Pedi-lhe que usasse luvas brancas e vestisse um fato preto para a ocasião. Mandou-me à merda mas levou-me a todo o lado na mesma. Numa das visitas aos meus pequenos sobrinhos, fiquei a admirar os brinquedos da pequena Joquinha. As coisas lá vão mudando, mas as meninas continuam a receber pequenas versões em peluche ou borrachinha cheirosa de utensílios das mulheres crescidas. E é precisamente aqui que venho, mais uma vez, apelar ao vosso bondoso coração. Bem sei que já pedi isto várias vezes, mas pode ser que desta vez vos comova. Não sei se é do vosso conhecimento, mas o meu aniversário está próximo, bem como a época natalícia. E não é só na televisão que as boas acções ficam bem. Na vida real, também. 

Mostro-vos o brinquedo que inspirou tudo isto. 
Espero que vos inspire também. 
Um bem-haja a todos vós.



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Querido diário,

Trabalhar num hospital é muito divertido. Acontecem sempre coisas diferentes e falamos com montes de pessoas novas todos os dias. A maioria das pessoas são velhas, têm poucos dentes e andam de fralda, o que é chato e cheira mal. Mas às vezes aparecem rapazes novos e com banho tomado, o que me deixa a sorrir com ar de malandra, porque fico a imaginar se cada um deles tem uma pila pequena ou grande, mas não digo nada a ninguém. As conversas com as pessoas também são interessantes. Algumas são mais tristes que outras e algumas até nem dizem nada. Estas que não falam é que me deixam a pensar muito e às vezes até vou a pensar nelas para casa, porque não consigo perceber o que têm nem o que querem. Como a senhora que saiu agora do meu gabinete, após uns longos 20 minutos sem palavras. Apenas gemidos, suspiros, movimentos repetitivos e os olhos fixos em mim. Não tive capacidade para perceber se aquilo era masturbação e eu sou linda de morrer, ou se é algum tipo muito agressivo de micose e eu tenho cara de Canesten. Vou tentar melhorar, porque parece-me que esta é uma limitação muito grande para a minha profissão. Beijinhos e até amanhã.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Não há fome que não dê em fartura, quem espera sempre alcança, depois da tempestade vem a bonança e outras balelas

Daqui a cinco minutos. Eu pequenina. Luz baixinha. Ele em tronco nu. 
Por enquanto, apenas a requisição do exame na minha mão. Índice de massa corporal de 64. 
Tenho medo. 
Paz à minha alma.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Celebremos a efeméride

Se há coisa bonita numa amizade, é quando duas pessoas com estilos de vida e ideais diferentes atingem a harmonia do consenso. Estava hoje em conversa de hora de almoço com uma colega, estava ela a falar sobre unhas encravadas e joanetes, estava eu já a pensar na minha vida de tão enfadonha que era a lenga-lenga dela, até que de repente pensei em voz alta sem querer: 'Vou deixar o preto'. Ela inclinou a cabeça para o lado, pôs a mão no meu ombro e disse com voz doce: 'Fofinha, deves estar senil... mas tu já deixaste o preto há 3 meses...' E foi assim que acabou o meu almoço, comigo a levantar-me da mesa a deitar fogo pelos olhos, a querer explicar-lhe pela milésima vez que eu bem sei quando deixei o preto porque, por acaso, não vejo nenhuma pila desde então, mas que por mais que ela pense que eu passo a vida a pensar em pilas, quer pine quer não pine, às vezes também penso noutras coisas importantes, questões pertinente e, diria até, vitais na vida de uma mulher, mas foi só esta parte que consegui dizer: 'O cabelo, sua mula! Vou deixar de pintar o cabelo de preto! E são 4! Quatro! QUA-TRO-ME-SES!!!!'. Vi os olhos da minha colega perderem a vida por segundos, até que ela voltou a respirar e perguntou-me quase sem voz: 'Mas estás há quatro meses sem pinar, é isso? Logo tu?'. Triste, mas é verdade. A conversa continuou em forma de interrogatório. A pobre coitada, gorda e desmazelada, casada mas mal amada, via o seu ídolo reconhecer humildemente a época de crise que atravessa. Pergunta após pergunta quis saber os porquês, onde está o preto, os gajos das forças armadas, o da gaita, os outros que já nem se lembrava, porque não havia novos, porque não reaproveitava algum dos antigos, porque é que era sempre tão bruta quando me fartava deles, se fosse mais meiga ou menos fria, eles não se sentiriam usados e não se afastavam definitivamente. Estava incrédula com o que ouvia, tentei explicar-lhe que as coisas não são assim, que as pessoas podem ser usadas e que eu sou fria quando quero e que ao contrário do que ela pensa, nem todas as pessoas se afastam quando eu sou bruta com elas. 'Isso quer dizer que há alguém em mira?', perguntou curiosa. Contei-lhe então a história das últimas semanas. Um amigo de um amigo meu tem andado a mandar-me mensagens. 'Ai que bom!', exclamou entusiasmada. Não é bom, expliquei-lhe, é um gordo, careca, com pêlos nas orelhas, acne aos 30 anos e dedos pequeninos. 'Credo! Deus anda mesmo zangado contigo, mulher!', brincou. Contei-lhe que ao terceiro dia depois de me ter conhecido ligou-me a perguntar quando é que eu o convidava para ver um filme em minha casa e se eu lhe fazia umas massagens. 'Diz-me que foste bruta e que o despachaste como só tu sabes fazer, Snail!' Disse-lhe que tentei, mas que não resultou e que ele continua a mandar-me mensagens todos os dias. A sorte é que não sabe onde moro. 'Querida, por muito que a tua rata chore, com esse não, está bem? Quem sobrevive quatro meses, sobrevive cinco ou seis. Mas o que é que tu lhe disseste em relação a isso do convite? O homem não percebe que não é não?'. Baixei os olhos e apenas disse 'Pois... pelos vistos, não...'.




 'Massagens?? Eu massajo-te é o caralho!!' 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Porque isto também podia ser uma coluna de citações das estrelas numa qualquer revista da especialidade

"É uma tonta, essa rapariga (Snail). Oiça, diz que para além de deixar o resto (sexo) também deixou de fumar. Agora não faz nada. É o ser mais inerte do planeta."
O pipi da Snail.


"Histórias novas para partilhar? Oh filha, vocês bem podem contar-me o que andam a fazer aí fora, mas eu agora sou como o Benfica: só me posso gabar de glórias passadas."
O pipi da Snail.


"É quase como dizia a outra senhora, sinto-me como uma criança somali ou etíope, com fome... mas mais bonita... e sem os piolhos, as moscas, a carapinha e o cheiro a catinga... Ok, sou uma Angelina Jolie. Mas sem Brad Pitt."
O pipi da Snail.


"Lá porque lhe cortam no ordenado, ela não tem o direito de me negar ração! Fim à fome! Fim à clausura! Fim ao boicote de quatro meses! Já!!!"
O pipi da Snail.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O lugar da vírgula

Há dias, apareceu-me à frente um artigo de jornal sobre o lugar da vírgula. Li com atenção, uma vez que artigos sobre vírgulas e outros aspectos pertinentes da pontuação são sempre do meu interesse e agrado. E foi também com agrado que percebi que há toda uma doutrina em redor da vírgula, havendo até locais onde as vírgulas não podem, de todo, aparecer. Talvez este tema tenha sido abordado durante os primórdios do meu percurso académico, mas... é daquelas coisas... a malta só se interessa pela escola quando ela deixa de ser obrigatória. Ou melhor, quando começamos a trabalhar e deixamos de andar na escola. Antes disso, o tempo de aulas era preenchido com actividades lúdicas, como jogos do galo ou curtes atrás do ginásio, ou tarefas extra-curriculares, como organizar jantares ou arranjar alcunhas para os colegas. Esta última tarefa, de extrema importância na organização da hierarquia e sub-grupos dentro da turma, emergia de forma exponencial quando existiam duas pessoas com o mesmo nome. E eu gostava do desafio de ter essa tarefa a meu cargo. Lembro-me das Tânias. Eram duas na minha turma, o que fazia com que, a menos que morressem ou mudassem de escola, tivéssemos um problema para resolver logo no início do ano lectivo. Ficou então estipulado oficialmente que, enquanto pertencessem as duas à mesma turma, sempre que alguém se referisse a uma das Tânias, dissesse o nome próprio da mesma seguido imediatamente do cognome 'Gorda' ou 'Muda'. Uma delas tinha problemas de peso e a outra problemas de audição, como já devem ter percebido. É certo que a obesidade é uma doença e a surdez uma limitação importante, porém distingui-las com cognomes 'loira' e 'morena' só porque tinham cores de cabelo diferentes, era sintomático de uma fraca dedicação e empenho da minha parte nesta nobre tarefa. Sei que a Tânia Gorda casou e que está ainda mais gorda e que a Tânia Muda casou com outro surdo e que tiveram um filho que ouve. Bonito, não é? A par das Tânias, e no mesmo ano lectivo, tive a tarefa dos Edsons. Já não bastava alguém chamar-se Edson, ainda por cima tinham de ser dois. Um deles chama-se Edson Horácio. Tive de dar a mão à palmatória: nunca na vida eu conseguiria arranjar uma alcunha melhor que o nome de baptismo deste jovem. Reconhecer as nossas limitações também é uma virtude, e Edson Horácio assim ficou. Estive muitos anos sem o ver, mas, curiosamente, soube há pouco tempo que se casou com uma modelo polaca e que emigrou. O outro Edson  ficou o 'Edson da Vírgula'. Se era bom em Português, não faço ideia. Nem faço ideia o que será daquele rapaz hoje. Aliás, nem nunca soube nada acerca dele. Nem me lembro de alguma vez termos tido algum tipo de conversa. Ele não gostava de mim. Só me lembro que ele tinha uma cárie do tamanho de um grão de milho num canino, cárie essa, que lhe moldava o dente em forma de vírgula. E Edson da Vírgula ficou. E agora pensam vocês: olha que giro, por causa de um artigos sobre onde devem estar as vírgulas, ela lembrou-se de um rapaz a quem deu a alcunha de Edson da Vírgula e que, curiosamente, é o único a quem perdeu o paradeiro ao fim destes anos. E agora penso eu: isto de me lembrar de pessoas que nunca gostaram de mim e de escrever mais de 10 linhas em sua homenagem só pode ser falta de sexo.

domingo, 15 de setembro de 2013

Crónica de uma mudança anunciada

Toda a gente, quando muda de casa, e principalmente as mulheres, depara-se com uma série de questões e descobertas durante o grande dia. E eu, qual mulher comum com acessos constantes do síndrome de Diva, passei o dia de ontem com alterações extremas do ritmo cardíaco, alternando entre estados de dúvida existencial e o entusiasmo da descoberta. Como organizar a minha colecção de sapatos? Olha, afinal não tinha perdido o carregador da máquina fotográfica! Onde fui eu arranjar tantas malas? Epa, já nem me lembrava que tinha isto! Os meus vestidos vão caber todos no roupeiro novo? Como é que eu consegui acumular tanta tralha? Lindo, medicamentos fora do prazo... Oh meu Deus, como é que eu nunca fiquei grávida????


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Rentreé

Sempre primei pelo dom da modéstia e vocês, meus fieis seguidores, já devem saber o quanto isto é verdade. Igualmente do conhecimento de todos vós, é o facto de tudo na minha vida acontecer com uma intensidade muito superior à vossa. E, só por isso, as vossas mensagens de preocupação e saudades pela minha ausência de três semanas levaram-me a pensar duas coisas: 1) a vossa vida é triste sem mim; 2) bando de maricas, eu estou sem pinar há 2 meses e, isso sim, é sofrimento. E é aqui que apresento a minha justificação para a prolongada ausência: sou uma mulher limitada e a mudança de casa que tem estado em curso levou-me as forças e o tempo livre.
Posto isto, já todos perceberam: três semanas depois, ela volta num registo completamente diferente, mais humilde e numa nova pele de recém-virgem na sua purificante travessia do deserto da castidade adquirida a caminho da sua nova morada. E agora que sou uma mulher como as outras, que passa o dia a fazer coisas cansativas e que chega à noite demasiado fatigada para sequer pensar em sexo, vou fazer o que as demais fazem a esta hora: vou queixar-me de qualquer coisa. O tema escolhido para hoje é, nada mais nada menos, que as companhias de distribuição de gás natural canalizado. Ora, onde é que já se viu uma coisa destas, mandam um funcionário ver se está tudo bem e pagas! Se não estiver tudo bem, pagas na mesma e não tens gás. Tens de arranjar o que não estiver bem e pagar! Depois eles voltam lá e pagas outra vez, mesmo que ainda não esteja tudo como eles querem! Entretanto pagas e pagas e pagas e só à visita 1000 é que está tudo a postos para fazerem a ligação. Foi assim que me descreveram o procedimento. Fiquei assustada. Até agora só estive em casas totalmente 'movidas' a electricidade. E, precisamente hoje, tinha marcada a visita dos senhores do gás. Treinei o meu sorriso ao espelho durante toda a semana. O plano era sorrir muito, de forma a que eles simpatizassem comigo e dissessem que estava tudo bem à primeira. O senhor para fazer a verificação da canalização chegou cedo. Sorri muito, mas apenas três minutos depois de ter entrado na minha casa nova, o senhor do gás ainda não tinha olhado para a minha cara mas já estava a dizer ''Esta mangueira não está bem, sabia?...''. Tremi e suei. ''Como não? Sei lá ver se estava bem ou não! Eu lá percebo de mangueiras! Eu não pino há 2 meses, senhor!'', pensei eu enquanto tinha vontade de chorar sem conseguir calcular quanto tempo ia levar a consertar uma coisa que nem sequer sabia que estava ali. Ele continuava sem olhar para a minha cara, mas com um sorriso disse ''Promete que arranja isto o quanto antes? Vou fazer de conta que não vi e o gás é instalado já hoje.''. Eu sorri também sem perceber. Seria tímido? Já não frequento a igreja há muitos anos, mas em Setembro não é altura de boas acções, pois não? Será isto uma recompensa divina pela minha nova vida casta e humilde? Ele assinou uns papeis, despediu-se sem olhar para a minha cara e saiu. Fui até à sala, acendi um cigarro, olhei para o meu reflexo num espelho ainda meio embalado e perguntei-lhe: "É isto que acontece às pessoas que são boas, humildes e puras? A tua cara não interessa, mas os teus desejos acontecem?''. O meu reflexo respondeu-me prontamente: ''Não filha, isto é o que acontece a pessoas com um par de mamas desses! A tua cara não interessa, mas os teus desejos acontecem.''

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Rapidinha matinal

Perguntava um teste (altamente fiável e elaborado por psicólogos especializados na área) de uma revista cor de rosa: "Que tipo de mulher mais facilmente aceita fazer sexo anal? a) as loiras, b) as obesas, c) as licenciadas." Resposta certa: c). Oh... e eu a pensar que elas me olhavam de lado e eles me piscavam o olho na rua por causa do meu fabuloso decote...

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Curta-metragem indie sobre a abstinência sexual

Terminadas duas horas de treino, uma jovem esbelta sobe as escadas interiores do ginásio em direcção aos balneários. 
Está ofegante e transpirada. 
Com a toalha, limpa as gotas de suor que escorrem do pescoço para a linha do decote enquanto se despede de dois jovens que estão em conversa à porta do balneário dos homens. 
Um deles, musculado e em tronco nu, descreve ao colega os benefícios do consumo de banana.
Bananas.
Muitas bananas.
A jovem continua a caminhar, enquanto no seu pensamento passam rapidamente cenas das última sessões solitárias de cinema porno, até chegar à memória da última sessão de sexo ao vivo da sua vida. 
Duas moscas da fruta a voar em cima uma da outra cozinha fora, parando de ora em vez para descansar em cima de uma maçã podre esquecida na fruteira.
Maçã podre.
Sexo.
Moscas.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

As lamentáveis incapacidades do ser humano

O que faz as pessoas apaixonarem-se umas pelas outras? Ora cá está uma questão pertinente, discutida por peritos e estudiosos de ocasião após a ingestão de três imperiais. Todos fazem o trabalho de casa no dia a dia: observam, analisam, criticam, armazenam informação, tecem teorias. Teorias essas que nunca são postas em prática na vida real, são sim guardadas, qual obra prima dos compêndios da psicologia analítica, para serem expostas gloriosamente numa qualquer conversa de café. O poético disto tudo, é que sempre que uma destas conversas acontece, pelo menos um dos participantes vai para casa pensativo e senta-se de olhar fixo no vazio a reformular a sua própria teoria. Ora hoje, fui eu. Café com amigo, conversa boa, elogios ao meu decote, sorrisos marotos, e plim: conversa sobre relações. Amigo critica atitude da sua última 'amiga', que lhe ligava de mês a mês apenas e só para efectivar uma questão, deixando-o sem notícias durante semanas até ao telefonema do mês seguinte. Disse-lhe eu, que ela obviamente não estava apaixonada. Ele lamentou que não era justo ela usá-lo assim, quando ele lhe dava carinho durante uma noite sem nunca ver qualquer tipo de retorno. Eu limitei-me a dizer que ela nunca lhe ligou a pedir carinho, ela sempre pedia sexo. Apenas e só sexo. Ele ficou triste. Eu chamei-o de maricas. Ele chamou-me ordinária. Curiosamente, depois disto, quem foi para casa pensar fui eu, e parte das relações mal sucedidas dos últimos 5 anos passaram a fazer sentido. Nunca tinha vindo para casa pensar nos meus erros depois de uma conversa destas. Dia épico na minha vida. Lembrei-me então da última vez que dissertei sobre o tema. Festival de verão há umas semanas, amigo de uma amiga junta-se ao grupo e a meio das cervejas o assunto da conversa estagnou nesta temática. Ele, a certa altura, falou sobre os desejos das mulheres numa relação. Vocês querem um amigo, um companheiro, um homem honesto e fiel, dizia ele. Nós gostamos disso tudo, mas se não há química sexual não estamos apaixonadas, apenas temos um amigo, dizia eu. Claro, vocês querem isto tudo e ainda um homem que seja 'big', dizia ele. Oh, isso sim, nós gostamos é de pilas grandes, dizia eu. Oh, eu não estava a falar de pilas, estava a falar de um homem musculado e grande, porque vocês querem um protector, dizia ele. Oh não, queremos uma pila grande... eu não quero que me protejam, eu quero que me fodam, dizia eu. Está bem, mas isso é secundário, vocês procuram mais o amor que o sexo, dizia ele. Oh cala-te, podes ser isso tudo, mas se a tua pila for pequena, só me serves para conversar, disse eu. Ele riu-se e abanou a cabeça assumindo a derrota. Eu ri-me descontroladamente e dei a conversa por terminada porque tinha fome. Nunca mais pensei nisso, até a minha amiga voltar a tocar na conversa que tinha presenciado nessa tarde, em tom de ralhete versão 'minha menina, agora que estamos sozinhas vamos ter uma conversinha'. Mas que mal tem o que disse ao teu amigo?, perguntava eu espantada. Não sabes quem é?, perguntava ela irada. Sei lá quem é!, dizia eu alarmada. É aquele meu amigo com quem pinei há uns anos e que nunca mais me tocou por ter a pila mais pequena que já vi à minha frente!, disse ela arrasada. Onde estavas Tu com a cabeça, oh Criador, quando privaste os humanos da capacidade da telepatia? Dava a minha fortuna para poder ter ouvido os pensamentos do jovem no seu caminho para casa.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Pensamento do dia.

Cuspir na sopa é feio. Ora analisemos esta questão a fundo. Esta atitude é feia até no sentido estético, no sentido de não ser agradável à vista por parte de quem presencia o acto e poderá inclusivamente provocar reacções adversas psicossomáticas como tonturas ou náusea. Por outro lado, ao analisarmos isto no âmbito das relações sociais e familiares, esta atitude também é feia, é desrespeitosa, envergonha familiares, amigos, colegas de trabalho e desconhecidos num raio de 10 metros. Para além disso, é nojento. Posto isto, se de repente um número considerável de pessoas, de idades, estratos sociais e beleza variáveis, começassem a cuspir na sopa, à vista de todos, na rua, em eventos sociais, no trabalho, em casa ou numa paragem de autocarro, isso faria com que cuspir na sopa fosse bonito? Não. Porque cuspir na sopa é feio. E isso era motivo para começarmos todos a cuspir na sopa? Não. Porque é feio. Feio.

Agora, que já expus o meu ponto de vista sobre a matéria, deixo-vos uma só palavra para vossa reflexão: alpercatas.

sábado, 13 de julho de 2013

Lambisgoia's open day

Não. Não vou deixar a porta de casa aberta e ficar escancarada à espera de visitantes. Vou para a rua. Já ontem fui. Copo de cerveja na mão. Cigarro na outra. Música. Goza com gordas. Goza com gays. Goza com feios. Goza com homens de calções cor de rosa. Goza com ingleses bêbados. Bate palmas à passagem das vítimas. Vê um anão. Grita e foge. Bebe mais cerveja. Mais música. Goza com toda a gente que passa. Comenta que esta música ainda é do tempo em que tinha pintelhos. Ninguém acha graça, mas ri sozinha na mesma durante cinco minutos. Vem para casa e tem sonhos eróticos com o Billie Joe. Hoje há mais e amanhã também. A quem a reconhecer ela promete tirar uma foto. É de aproveitar. Num qualquer passeio marítimo perto de si.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O dia em que deixei de beber café no trabalho

Tudo começou no dia em que chamei queijada a uma tarte. Do outro lado da caixa registadora, uma foca inchada com uma boca cheia de dentes podres e meia dúzia de cabelos oleosos, informava-me em tom altivo que as tartes são tartes e que se queira comer uma tarte que pedisse uma tarte. Após uma noite e meio dia de trabalho, fiquei meio atordoada com a resposta torcida da charroca mal fodida, pelo que pedi desculpa às tartes, queijadas e todas as coisas redondas do planeta pela ofensa e que era escusado a mocinha ficar aborrecida comigo por causa de uma equívoco tão pequeno. A foca careca, ainda sedenta de armar confusão, atira do outro lado da caixa que não são as batas brancas que dão inteligência às pessoas e que ela, mesmo sem bata, se sente no direito de ficar aborrecida com os erros parvos dos outros. Oi oi oi oi alto lá! Então mas esta pindérica acordou com vontade de me foder o juízo? Oh filha, o tamanho da tua peida também me parece errado e não é por causa disso que te vou falar dessa maneira, por isso dá-me mas é a merda da queijada ou da tarte ou lá que tu lhe quiseres chamar e não me moas mais a cabeça! Pronto. Isto era o que eu devia ter respondido. Mas ela é muito grande e, se eu a irritasse mais, ela começava a falar com mais força e o cheiro a cárie ainda vinha para o meu lado do balcão e depois a merda do bolo caía-me mal. E foi assim que comecei a ruminar um dos meus mais antigos ódios de estimação, estávamos no bonito ano de 2009. A partir daí foi o fortalecer de uma relação platónica, parca em palavras, mas cheia de emoções e sentimentos incontroláveis. Várias vezes fizemos o nosso jogo favorito: "são dois cafés - são 90 cêntimos - estica a nota de 20 - dá troco em moedas - provoca fila de 10 pessoas para conferir o troco - bufa que nem uma porca - sorri, conta moedas devagar, deixa cair duas ou três e volta a contar do início". Isto é bonito, senhores. Bonito também, é a ursa cair nisto vezes sem conta. E várias outras situações bonitas e amorosas como esta foram acontecendo ao longo destes anos, até que chegamos à semana passada. Lá fui eu ao café do costume e a morsa com bigodes e sem cabelo já não estava atrás da caixa, mas sim atrás do balcão a tirar cafés. Não aguentei e tive de lhe dar os parabéns: 'Então? Fomos despromovidas?'. Ela respondeu amorosa, quase em surdina: 'Olha, vai para o caralho'. Também em surdina, respondi: 'Não preciso, sabes? O caralho vem até mim... Mas tu é melhor ires, ou então és capaz de morrer sem conhecer nenhum...'. Não respondeu.  Eu já estava a terminar o meu café e preparava-se para sair vitoriosa. Estava quase a sair, quando ela rematou: 'Pensa duas vezes antes de voltares aqui para beber café ou para comer seja o que for. Eu agora toco no que tu comes...', enquanto fez o som estridente de quem puxa uma escarreta bem das entranhas da árvore brônquica. Nada mais há a dizer. A porca ganhou. E eu deixei de beber café no trabalho. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

A Ti que estás aí em cima e que nunca me deixas desamparada

O calor dá-me transtornos. Ontem fui petiscar com a preta durante a tarde e apanhei uma bebedeira sem querer. Fui apanhada de surpresa mas, apesar de não gostar de surpresas, até gostei. E hoje, tal como já esperava, trabalhei de ressaca. Disso já não gostei. E estava eu perdida e triste no meio de toda esta situação que eu não gosto quando me batem à porta do gabinete. Quatro homens estavam de pé do outro lado da porta. Um presidiário mulato, alto, cara de bandido, algemas, tatuagens, cheiro a sexo. Três guardas prisionais, altos, morenos, barba, ombros largos, cassetetes compridos, fedor a sexo. O mulato era o doente e não podia separar-se dos guardas. Eu achei que estava no céu. Disse para entrarem na sala. O mulato perguntou o eu queria que ele fizesse enquanto entrava. Os guardas entraram sem perguntar nada. Eu só disse 'peito destapado e deita de barriga para cima'. O mulato obedeceu. Os guardas não. Ora pois que fiquei desiludida. Com tanto aparato ainda fiquei na esperança que algum fã, admirador ou simples simpatizante tivesse tido a ideia brilhante de me surpreender no meu posto de trabalho com quatro stripers masculinos, pelo que estive vai não vai para tirar a bata e pedir-lhes que me apertassem as mamas com força e me arreassem com o cassetete nas nádegas. Mas não era nada disso. Rapidamente percebi que Deus estava de novo a mandar mensagens à sua rebelde favorita. Dois dias depois de ter despachado o preto de volta para a Pretolândia, terra dos ciumentos possessivos pseudo-libertinos, o Senhor manda-me a imagem desta espécie subjugada ao poder dos Deuses do Reino da minha líbido: barbas, ombros largos, peles morenas, maus feitios sexy, fardas. Vim para casa e pus música de brancos aos berros para não me ouvir a pensar, enquanto rabos masculinos e revestidos de fardas viris desfilavam na minha cabeça. Lembrei-me então, desse belo verão em que fiz a minha incursão pelas forças armadas. Um oficial do exército seguido de um oficial da marinha. Ainda tentei a força aérea, mas entretanto chegou o outono e a consequente época baixa de caça. Estava pois, triste e abatida, nostálgica e melancólica, de ressaca e a beber uma mini, quando um ex-estagiário que passou há uns meses lá pelo serviço mandou uma mensagem porque precisava de ajuda com um caso clínico. Coisa que podíamos fazer, sugestão do estagiário tesudo, durante uma imperial ou duas ao fim da tarde. Sorri ao lembrar-me dos seus ombros robustos dentro da bata, da sua barba escura sempre impecavelmente por fazer, da forma súbita como desapareceu e nunca mais ninguém ouviu falar dele. Sorri e perguntei que era feito dele para só agora estar a trabalhar no relatório de estágio. Disse-me, depois de me pedir para guardar segredo, que é comando e que esteve em missão. Os meus lábios humedeceram-se e ficaram entreabertos. A minha boca continuou a sorrir. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Choque cultural

Estávamos as duas, eu e a preta, encostadas a uma parede qualquer do bairro alto, de copo não e a jogar conversa fora. Nisto, passa uma outra preta, muito feia e muito gorda, com uns calções de ganga 3 números abaixo do tamanho dela, o que permitia apreciar o gingar de 30 Kg de celulite em cada perna. Diz-me a preta em tom crítico: admiro a coragem destas mulheres da minha raça... e ao mesmo tempo tenho vergonha. Pus-lhe a mão no ombro e disse-lhe: é por causa de coisas como esta que os pretos agora andam a comer brancas. És mesmo estúpida, respondeu ela. É, sou, mas consigo dizer coisas deveras engraçadas. E assim se dá o mote para um momento de reflexão sobre algumas coisas estranhas da raça dela. Porque eu estou, neste momento, a passar pela fase pós-traumática da primeira evidência do choque cultural do casal multi-racial. Não, não tive o jantar oficial de apresentação onde fui obrigada a falar com pessoas com nomes como Arionilson, Gilson, Leonilde ou Ludmila. Nem tive de comer moamba com doses cavalares de picante até lançar torpedos pelo cu. Nem fui obrigada a dançar kizomba com um qualquer tio barrigudo a cheirar a catinga. O choque aconteceu de surpresa na sexta feira à noite. O preto tinha ido a uma festa de pretos, a branca tinha ido a concerto de música de brancos. Terminados os dois eventos, combinaram encontrar-se à porta de casa dela para depois celebrarem o amor. O que a branca nunca pensou é que assim como ela se vestiu a preceito para o evento a que ia, ele tinha feito o mesmo. Sem mais delongas, apresento-vos o choque:

- Então, gostosa? (este podia ser o choque, mas ela assistiu a novelas brasileiras com pretos tesudos desde a infância)
- Oi... (branca dá último bafo no cigarro, deita fora a beata, o que a obriga a olhar para o chão) O que é essa merda?!
- O quê?
- Nos teus pés!!!
- Os meus sapatos bicudos de pele de crocodilo?

Não, filho. Não. Na terra dos brancos isso não são sapatos, são armas de destruição maciça de famílias inteiras de baratas nos cantos da sala. E pele de crocodilo? A sério? Vens mais alguma vez com essa merda de casca de osga para o pé de mim e bem que podes voltar para as kizombadas com as Ludmilas e as Leonildes que eu não quero saber! E ficas já a saber que não gosto de ténis do basket, nem de fatos de linho branco, nem de jóias de família nos dedos todos, nem T-shirts tamanho XXL, nem de gajos que ouvem kuduro no telemóvel aos altos berros para a rua toda ouvir, nem que me chamem dama, nem vou ter 5 filhos!!! Gosto de ter as coisas bem esclarecidas.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A dúvida consome-me

Tenho mudanças para fazer. Pessoas que já mudaram de casa várias vezes, sabem a trabalheira que isto dá. Investigar o mercado, visitar várias, escolher uma, o entusiasmo da novidade, as saudades esporádicas do passado... É quase como partir para uma pila nova, mas dá mais trabalho. Trabalho esse, que no caso de mudar de casa, não consigo fazer sozinha. E o paralelismo com as pilas podia ficar por aqui, não fosse algumas das ex-pilas da minha vida se terem oferecido para me ajudar a empacotar coisas. Isto inquieta-me. Serão estas ofertas, iniciativas disfarçadas de altruísmo, uma tentativa dissimulada de me ir ao pacote? Terão eles percebido 'montar-me na cama' quando disse 'desmontar a cama'? Estarão eles preocupados com a hipótese de perder definitivamente as coordenadas dos meus aposentos? Saberão eles que as coisas demasiado brancas agora ferem-me a vista mas já não me eclipsam a púbis? Será que eles vão perceber que estas questões não são dúvidas nenhumas, mas que na realidade o que me inquieta é que ainda não sei se prefiro aproveitar-me de cada um deles em dias separados ou juntá-los a todos na mesma tarde para minha diversão? 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A pedido do público e a título de excepção, sai uma pequena história sobre pilas

As mulheres são falsas. Ou pelo menos são mentirosas. As solteiras, então?... Pffffuuuu! Adoro ouvi-las dizer, convictas e firmes, que são mulheres modernas e independentes, que não precisam dos homens para nada, que isto é só sexo e mais nada, que não admitem ser controladas nem serem obrigadas a dar satisfações a ninguém. Adoro mesmo. E adoro mais ainda quando finalmente se encantam pelo dono de uma pila qualquer e de repente é vê-las a ter crises de ansiedade porque ele ainda não perguntou se ela acordou bem disposta, a terem um interesse súbito pela culinária e a renovarem de uma assentada quatro gavetas de roupa interior. É tão simples como isto: as mulheres não o assumem, mas adoram prestar vassalagem. E eu não posso, nem consigo, fugir à minha condição de mulher. Mas isto agora com a crise e tal, não estamos em tempo de andar para aí a fazer jantares pipi cada vez que se dá uma queca. E, graças a Deus, tenho por hábito ir renovando a minha roupa interior em toda a sagrada época de saldos. Ainda assim, a vassalagem está-me no sangue e ao resto da questão não consigo fugir. Posso passar mais incólume que as outras, mas venho aqui assumir: tornei-me numa serviçal do sexo. Mas não vou aqui descrever a arte da anaconda de chocolate nem descrever o estado de dilaceração da minha coisinha. Até porque não sou contorcionista. E mesmo que fosse, não ia ter coragem de encará-la de frente. Acho que ela odeia-me. Só sei que dói. E às vezes dói tanto, que no fim de semana passado decidi fugir para casa de um amigo de infância. O tempo estava uma real bosta, mas eu precisava mesmo era de descansar. Pelo caminho já sentia saudades do preto, mas vimos um lagarto esmagado na auto-estrada, o que me fez ter uma visão do que não consigo ver e saber que estava a fazer o mais correcto. Mas não vou ficar aqui a descrever metáforas com animais esventrados e o estado dos meus órgãos genitais. Vou sim, falar sobre a minha capacidade de trazer o bem à vida das pessoas. Dizia eu que fui passar o fim de semana com um amigo de infância. Daqueles que são quase irmãos, com quem só falamos de merda, com quem fazemos concursos de peidos e com quem um arroto a meio da cerveja é motivo para uma salva de palmas (às mulheres que lêem isto, se não têm amigos assim, a vossa vida é uma merda). Pois que fui passar 3 dias de pura gastronomia e enologia. Com passeios a meio da tarde para dar ar ao fígado. Numa dessas tardes vesti uma mini-saia. Fui à varanda e estava frio. Inteligente como só eu consigo ser, em vez de trocar a saia por umas calças, decidi enfiar umas collants na mala. A meio da tarde o frio nas pernas estava insuportável. Íamos de carro não sei para onde, havia pinheiros por todo o lado. O meu amigo ia falando da relação de longa data que terminou há poucos meses e de como as colegas da ex-namorada agora o tratam abaixo de cão. 'As mulheres são falsas, más e mentirosas', dizia-lhe eu enquanto vestia as collants de forma acrobática com o carro em andamento numa imensa rotunda, com o cuidado de virar o rabo para a janela e não para a cara do meu amigo. 'Por isso é que...' respondia ele ao meu comentário, quando parou subitamente de falar e ficou com cara de quem tinha visto a mãe em cuecas na rua. 'O que foi? Estás a ver o meu rabo pelo espelho do carro, seu badalhoco?', perguntei eu armada em pudica. 'O carro que estava ali parado para entrar na rotunda... são colegas da minha ex...', disse ele cada vez mais pálido. 'Viram-me o rabo, as badalhocas?', disse eu com ar de riso. 'Diz-me que tens roupa interior decente... ou que tens roupa interior, pelo menos... se é que isso faz alguma diferença...', disse ele a desfalecer. 'Tenho, tenho...', disse eu baixinho enquanto pensava no meu diminuto fio dental, nas escoriações que vão até meio das minhas coxas, mais o estado de lagarto esmagado do resto. Tivemos que traçar um plano de emergência. De certeza que, mais cedo ou mais tarde, ele ia ser confrontado com perguntas. Dizer que estava com uma amiga de infância de rabo ao léu dentro do carro em andamento e com um pinhal localizado a menos de 200m da rotunda do crime, não lhe ia servir de nada. Ninguém ia acreditar nessa história. Dizer que tinha feito um engate na noite anterior com uma espanhola que nunca mais irá voltar a portugal pareceu-nos uma desculpa mais credível. Perguntei-lhe agora sobre as consequências do sucedido. Diz ele que nenhuma das colegas da ex-namorada lhe perguntou sobre o misterioso rabo colado ao vidro do carro dele, mas todas têm perguntado se ele não quer ir beber um café uma noite destas. As mulheres sabem reconhecer os estragos de uma grande pila, digo eu. As mulheres são falsas, más e mentirosas, digo eu. O meu amigo ganhou a fama de ter uma anaconda dentro das calças e a culpa é minha, digo eu.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Snail, a fazer amigas desde 1978 #2

Pausa para café a meio da manhã no trabalho. Colega quarentona agarra numa qualquer revista e comenta em voz alta as gordas de todos artigos. Faz isso à minha frente todos os dias. Nunca tive coragem de lhe dizer que isso me aborrece. Sou boa pessoa. Finjo sempre entusiasmo à medida que ela vai falando e vou comentando em conformidade. Colega fica em estado de choque com esta:

- Já viste isto do Michael Douglas?? Diz que a causa do cancro que teve na garganta foi a prática de sexo oral!!!

- Estás com medo, é? Eu, por causa das coisas, já fui comprar Tantum Verde.

- És tão porquinha, benza-te Deus... Não é isso! Eu é que não sabia que ele era gay e que anda para aí a chupar pilas!

- Olha cá uma coisa... Se aos quarenta e tal anos ainda não sabes que os homens também fazem isso às mulheres, tens uma vida muito triste, sabias...?

terça-feira, 4 de junho de 2013

Ensaio sobre a analepse

Agora:
Ai. Dói. Muito.

16 horas antes:
Psiu. Acorda. Tenho que ir trabalh.... pum-ba... pum-ba... pum-ba.... Opá tá sossegado! Tenho que ir embora... pumba....pumba.... pumba.... pumba... Opá! Pára! Pumba. Pumba. Pumba. Pumba. Oh...Se chagar atrasada 15 minutos ninguém nota, né? PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! PUMBA! 

4 horas antes:
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2 horas antes:
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1 horas antes:
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1 hora antes:
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1/2 hora antes:
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3 horas antes:
Ai! Pára! Não está certo! Isto não está certo! Nós não podemos fazer isto! Agora era assim, agarravas em mim, passeio e coiso, copos e coiso e pumba?! Assim? Com esta gente toda a ver?! Vamos para minha casa.

4 horas antes:
Vá, pronto... Desisto. Anda lá beber um café, então. Mas tem que ser coisa rápida.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Como tornar o meu dia negro

Tenho uma amiga que adora felinos. Daquelas maluquinhas que vivem com seis gatos e decoram tudo com miaus. A doida até tem uma agenda que vai decorando com fotos de felinos, dos grandes aos pequenos. Não sei onde ela arranja tempo para estas mariquices. Nem sei porque ela acha que eu quero saber das mariquices dela. Nem sei porque hoje achou que eu queria ver as novas fotos que decoram a sua agenda pirosa. Nem sei porque raio ela foi logo mostrar-me a foto de uma pantera negra a comer uma gazela. Se não era uma gazela não sei, mas era um bichinho escanzelado, magrinho e de cor clara. Isto despoletou uma reacção de pavor na minha pessoa, desatei aos gritos e a transpirar e pedi-lhe para guardar aquilo. Ela ficou preocupada com a minha reacção e sugeriu que fossemos tomar um café, não fosse eu estar a precisar de desabafar sobre alguma coisa. Lá fui com ela, mas já decidida em não falar sobre nada. Até porque não tinha nada para falar. Nem percebo porque ela foi achar que eu não estava bem. Cheguei ao bar e mudei de assunto para os salgados. Disse que me apetecia uma empada. Uma empada de galinha, disse eu. Disse-lhe a ela e disse ao senhor do bar. Diz-me ele sorridente: "Hoje vai provar é uma destas". Esticou-me uma empada linda, que se revelou a melhor empada da minha vida. Perguntei eu de boca cheia: "O que é esta maravilha que está na minha boca?". Diz-me o senhor com ar paternal: "Empada de porco preto... nunca mais vai querer das outras, não é?". Desatei aos gritos e a transpirar. Aquela merda devia ter pimenta a mais. A minha sorte é que o dia de trabalho naquele sítio já tinha terminado e tinha a tarde ocupada no meu segundo trabalho, para onde me desloco a pé, a ouvir a minha música e a olhar para as pessoas sem pensar em nada. Pelo caminho vi três pretos com uns tubos gigantes a cavar buracos na estrada. Fiquei feliz por andar sempre com desodorizante na mala, porque desatei a transpirar como um cavalo. O sol hoje até estava quente. Tão quente que acho que me queimou de repente. Só não gritei porque tive medo que os três pretos viessem perguntar se eu precisava de ajuda. O resto da tarde serviu para recuperar a calma, vir para casa a pé por causa da greve do metro também serviu, chegar a casa e não ter vontade de cozinhar também serviu, deitar cereais numa tigela e cobri-los com leite também... Depois estava a achar adorável o tom castanho do chocapic a largar chocolate no branquinho do leite enquanto a rádio estava a tocar a "Untitled" do D'Angelo, mas não sei porquê aquilo fez-me transpirar e até acho que gritei um bocadinho. Deitei aquilo tudo fora e fiz umas torradas. A meio das torradas, que por acaso se queimaram, o meu telemóvel recebeu uma mensagem. O preto que já vos falei, acho eu, perguntava se queria beber café hoje. Disse-lhe que hoje tive um dia estranho e até já estou de pijama e meia molinha. Ele respondeu agora mesmo que se sente insultado com isso, porque para estar comigo nunca se sentirá mole. O quê? Porquê?! Logo hoje que eu nem pensei na pila dele!...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Snail, a fazer amigas desde 1978

Colega chega demasiado activa e faladora para aquilo que se pode considerar aceitável numa segunda feira antes das 10 da manhã. Acha que é boa ideia estabelecer contacto directo com o vulto que se encontra em estado semi-vegetativo em frente ao computador e de luz apagada.

- Credo, rapariga! Mas tu nunca vens com boa cara à segunda feira? 

- Deixa-me.

- Olha-me só para essas olheiras! Isso foi o quê? Sexo a mais ou sexo a menos?

- Ressaca.

- Mas tu não percebes que já não tens idade para essa vida? Devias pôr qualquer coisa na cara para disfarçar isso. (tira um frasquinho de dentro da mala e estica-o na direcção da múmia, sorridente)

- Base?

- Sim. Toma. Eu também não me sinto nos melhores dias, hoje... Não estou com boa cara, pois não?

- Não.

- Também devia pôr qualquer coisinha....

- Devias.

- Base?

- Botox.

domingo, 26 de maio de 2013

Ter respeito pelo outro é isto:

Deixar propositadamente o telemóvel no quarto, com o som desligado e com a porta fechada e ir dormir a sesta na sala, com a porta também fechada, para poder dizer ao fim da tarde que estava a dormir e não ouvi o telemóvel tocar, como forma de fugir a um passeio de domingo à tarde com o preto que me quer estilhaçar a rata, combinação essa sugerida por mim durante a noite de ontem via sms enquanto desfrutava de uma monumental bebedeira, da qual só tive conhecimento esta manhã através de um telefonema do próprio a dizer-me frases bonitas como "Então vai ser mesmo hoje que vais levar comigo, né?" ou "Estou a despachar-me e só me falta comer e estou a ligar para te dar o toque nesse sentido.", às quais apenas conseguia responder "Sim" e "Ok", apesar de na altura ainda não fazer ideia do que ele falava, enquanto tentava perceber se precisava de vomitar ou não, tendo mais tarde vomitado em jacto depois de ler o teor das mensagens trocadas. Inventar uma desculpa? Não gosto de mentir a ninguém.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Exercício

Normalmente levo marmita com o almoço para o trabalho. Ora, podia agora eu começar a expor argumentos sobre a crise, sobre os meus rígidos e saudáveis hábitos alimentares ou sobre os meus extraordinários dotes culinários, mas não. Venho só dizer que hoje não levei e que por causa disso fui comprar almoço no num dos cafés lá do hospital. Optei por uma alheira. E lá fui eu a cantarolar de saco na mão até à copa onde costumo almoçar com as minhas colegas. Ao ver-me colocar a comida no prato, uma delas comentou: "Alheira? Era a coisa mais parecida com uma pila que tinham para te vender?". Isto, meus caros, é sintomático de vários factores. Um deles, indubitável, é que eu sou uma pessoa com créditos confirmados em qualquer lado. O outro, mais questionável, uma vez que pode ter sido apenas um golpe de sorte, é a capacidade desta minha colega de analisar comportamentos e vontades. 

Vamos então analisar o que acabaram de ler. Eu disse que normalmente levo marmita e que hoje não levei. Tudo certo. Eu comprei uma alheira e esta foi comparada com uma pila. Mais ou menos certo. Eu nunca vi uma pila humana em forma de U. Eu, de facto, falo muito em pilas e ando aqui com umas ânsias a esse respeito desde ontem. Dois é maior que um, mas quando alguém refere 'vários factores', pode-se partir do princípio que vá apresentar um número considerável de argumentos e não apenas dois. Outra coisa, esta para os que lêem as coisas mesmo com atenção, seria notar a incoerência de alguém que diz ter 'rígidos e saudáveis hábitos alimentares' e duas linhas depois dizer que foi comprar uma alheira para o almoço. Os que despertaram a mente para este exercício acabaram de confirmar o número de linhas entre estas duas informações no parágrafo anterior. 

Estão a ver a ideia? É que hoje descobri (graças a uma mente iluminada) que não posso contar com vocês para nada. Isto que acabei de vos mostrar, é ler as coisas com atenção e fazer uma crítica construtiva! Isto vai muito para além do que vocês têm feito! Mas pronto, bonito, bonito é vir para aqui chamar-me taradona, maluca, obcecada e mandar-me (literalmente) ser fodida por um preto! Agora vão todos ao post de ontem ler aquilo com atenção e depois digam-me qualquer coisa. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A cabeça das mulheres, uma nova visão dos factos

As mulheres sãos seres demasiado complexos. Ou melhor, os homens dizem que as mulher são seres demasiado complexos. Ora isto, na minha opinião, foi um mito urbano lançado nas ruas pelas próprias. A realidade é que as mulheres têm um défice de atenção e não conseguem ficar focadas muito tempo no mesmo pensamento. Daí terem muito espaço livre para pensarem em merda. A inveja, outra característica apurada nas mulheres, fez o resto. O que elas gostavam mesmo era de viver felizes, com mais de 90% dos pensamentos diários virados para o sexo. Os homens não conseguem pensar se as mulheres são complexas ou não, eles só pensam em sexo. E elas invejam-nos. Claramente, acabei de explicar que eu não sou obcecada por pilas, eu faço é um esforço desumano com exercícios de concentração diários para contrariar as minhas limitações impostas pela genética, e devo dizer que muitas das vezes a coisa já me vai saindo com alguma facilidade. Pois atentem nisto: hoje dei por mim a pensar nos três míticos objectivos da vida de qualquer ser humano: ler um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Os dois primeiros já fiz, ter filhos não me parece, "fazer" filhos já é uma coisa mais plausível, mas isso também já estou farta de fazer, tenho é que idealizar a foda épica da minha vida, uma coisa assim em grande... e plim: pinar com um preto. É isso! Eu não posso morrer sem pinar com um preto. Estão aqui a ver a força de vontade? Como eu consigo pensar em pilas, e das grandes, em menos de 5 segundos? Tenho orgulho em mim própria. Pois que estava eu perdida nestas coisas e de sorriso pateta na cara, quando recebo uma mensagem. Preto amigo com rasto perdido há mais de 10 anos e reencontrado há uns dias por acaso. Números de telemóvel mantêm-se. Mensagens são trocadas. Última dizia: "Gostei mesmo muito de te ver. Queres combinar um copo ou assim um dia destes?"

Ou assim? O que é ou assim? Amendoins? (Não, Snail!!! Foca-te, filha! Estás a dispersar!)

Sexo, seu bandido, tu queres o meu sexo! Tu e a tua pila preta. (Reparem como voltei num ápice aos pensamentos simples e pouco confusos.) 

A tua pila grande! Muito grande! Muito muito grande! Enoooooorme! (Boa miúda! Cada vez mais focada!) 

Pila gigante no meu pipi pequenino! Tão bom! Rebentar com o meu pipi fofinho!... Oh diabo! Será que o meu seguro de saúde cobre reconstrução estética da vulva? E fisioterapia para voltar a andar de pernas juntas? Perfurações traumáticas do diafragma? Prolapsos uterinos? Sai daqui, telemóvel!!! Estás de conluio com o preto assassino de ratas!!! (Game over)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cão!

Os homens são cães. Por isso é que gosto deles novinhos. Os velhos babam-se e ficam senis. As outras mulheres costumam achar estranha esta minha faceta. Dizem até que a minha teoria sobre o envelhecimento masculino é injusta e descabida. Lançam logo uma série de argumentos sobre o chame do homem mais velho. Blá blá e os cabelos grisalhos, blá blá e a maturidade, blá blá e a conversa intelectual e envolvente. Pois que a minha teoria assenta neste mesmos pressupostos, mas analisados à luz de outra doutrina. Minhas caras, digo-lhes sempre, blá blá são velhos blá blá têm é falta de tesão blá blá cão que muito ladra pouco fode. Eu cá gosto é do vigor da juventude! Horas e horas de brincadeira na relva, salta para cima, rebola para o lado, cai e levanta logo outra vez. Isto sim, dá-me alegria. Falar sobre a conjectura sócio-económica internacional ao sábado à noite, já não. Isso só me dá sono e vontade de morrer. Sei disto porque já estabeleci contacto esporádico com três ou quatro canídeos da geração anterior à minha. Apenas e só porque gosto de ser uma pessoa justa e com o intuito único de poder falar mal com conhecimento de causa. A vida não pára, é certo, e eu já não vou para nova, como diz o meu pai quando se lembra que tem uma filha solteirona. Mas, apesar de ser uma pessoa de convicções fortes, também sou uma pessoal com uma maleabilidade variável. Como tal, os anos vão passando, mas a minha faixa etária de eleição para as salutares brincadeiras na relva mantém-se no intervalo de 5 anos posteriores ao meu nascimento. Fácil será então o cálculo: senhores com 60 anos, ainda me faltam cerca de 30 para começar a achar-vos graça. Mas estão são cães velhos. Senis. E babões. Ontem estive com um desses, em contexto profissional, claro. Acho que a bata branca a deixar adivinhar uns seios carnudos o deixou encadeado. Disse, assim que entrou, a olhar para mim: "Olha ela! Está boa, nem vou perguntar.". Fiquei com medo, mas tentei ser simpática na mesma: "Olá... Acho que me lembro de si...". Diz-me ele: "Também eu me lembro das suas mãos a passarem-me pelo pêlo.", enquanto esfregava o seu próprio peito despido e olhava para o meu tapado até ao pescoço. Agora que estava a pensar nisso, arrepiei-me três vezes e depois acrescentei um novo tópico à minha teoria. Os homens velhos são como os cães que correm atrás dos carros. Deixo-vos aqui, em tom de homenagem, a todos vocês, velhos babosos que se cruzam no meu caminho, uma mensagem ternurenta com uma festinha carinhosa entre as orelhas: "Oh bebé... escusas de correr que só te vais cansar. Não vais conseguir apanhar isto, 'tá?"

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Boatos e outras conversas

Comecei o dia com uma boa acção: passei pela tasca da rua para entregar umas garrafas de minis que a preta foi buscar na 6a à noite, para beber com uma amiga nossa, já que ia viajar para o seu país africano de origem na manhã seguinte e estava muito nervosa. Eu não me despedi, porque as despedidas mexem comigo e fico muito triste e depois choro e borro a maquilhagem toda e fico deprimida e sem dormir durante três dias, mas principalmente porque fui a um concerto nessa noite. Quando voltei a casa no dia seguinte (sim... concerto... noite.... casa dia seguinte... oh yeah baby!!!), tinha um fantástico passatempo elaborado por ela, certamente durante o auge da sua bebedeira de despedida, composto por diversos post-its espalhados pela casa com recadinhos como 'Não te esqueças de levantar a minha encomenda dia X, por favor', 'Vai vendo o correio, por favor' ou 'Entrega estas 10 garrafas de minis ao velho da tasca na 2a feira de manhã, por favor'. E hoje  lá comecei a epopeia dos favores à preta:
- Era para entregar estas garrafas que a minha colega veio buscar na 6a feira.
- Colega... pois.
- Sim, aquela pretinha...
- Eu sei quem é... colega... pois....
- Estão aqui as garrafas...
- Ela veio aqui com uma loira...
- É uma amiga...
- Amiga... pois...
Saí com um nó no estômago. Pelo canto do olho ainda vi a mulher do dono da tasca a cochichar com um dos clientes habituais de bagaço matinal na mão. É impressão minha ou dentro daquele estabelecimento eu sou conhecida como fufa? Fufa que anda com a preta? Fufa que a preta anda a encornar com a loira? E é impressão minha ou este tipo de boato é daqueles que percorre um bairro inteiro em menos de duas horas? E é impressão minha ou vocês estão todos de foguete na mão, já com o chão coberto de confetis, a abrir garrrafas de espumante e danadinhos para perguntar como foi a minha noite de 6a feira? 

sábado, 18 de maio de 2013

Desilusão com a vida é isto:

Uma amiga mandar-te isto como piadinha de fim de semana...


... e isto fazer-te lembrar que já houve um gajo que te comparou com um sapato lindo mas com o número errado para te explicar que 'não ia dar'.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Num registo um pouco mais sério que o habitual

Ela - Pagaste a luz?
Eu - Não.
Ela - Já ontem te perguntei isto e também disseste que não!
Eu - Então porque insistes?

Adoro quando as minhas respostas tortas são o reflexo das minhas inquietações.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Carta ao Pai Natal

Isto de escrever coisas, por mais descabidas que elas possam ser, tem por base todo um ritual. Acende cigarro, música do dia a passar, escreve título parvo e daí o resto escorrega. E o verbo escorregar não surge aqui por acaso. É que acabei de escrever o título, enganei-me e quase que seguia uma carta ao Pau Natal. Se bem que, apesar de estarmos longe do Natal, este texto estava já idealizado para falar sobre desejos, o que faz com que o engano seja ainda mais fisiológico. Isto tudo porque vinha do ginásio a penitenciar-me em silêncio. Estou neste momento a atravessar a fase dolorosa e tipicamente feminina, descrita cientificamente como 'Estado Depressivo Pós-Férias', marcada por uma forte carga psico-dramática de arrependimento por tudo o que se comeu e bebeu durante 7 dias. Ainda hoje de manhã, ao ver uma colega bastante roliça a enfardar uma bola de berlim, pensei nos 128 g que engordei durante as férias, que agora só me permito duas folhas de alface e um rabanete por refeição por causa disso e que aquele espectáculo matinal só me dá força para continuar. Ela reparou no meu olhar crítico e disse-me secamente 'Sim, eu sei, são minutos de prazer na boca e o resto da vida no meu rabo. Mas eu não resisto'. O dia passou, fui treinar e agora lá vinha eu, apreensiva a pensar nisto, com uma pita de odivelas a dar música para a carruagem toda do metro com o seu telemóvel roubado, quando começa a dar esta e... sim, Pharrell, se tu quiseres, pode ser mesmo assim como disse a gorda. Ah, aquele sábio cachalote com pernas! 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Uma realidade que não é só vossa

Hoje voltei ao trabalho. Qual não foi o meu espanto, ao talvez não, quando fui recebida com manifestações emocionadas e entusiastas de alegria. Abraços e beijos lambuzados. Creio que algumas delas até choraram um pouco. Gritavam ao desbarato, as tontas: "Conta-nos tudo!!! Ai que linda que estás morena!!! Bebeste muito??? Vomitaste na praia?? E gajos?! Fala-nos de pilas!!!" Oh diabo... Mas eu sou algum filme porno com pernas?! Pedi que se explicassem imediatamente. Fiquei então a saber que na minha ausência falou-se apenas de hemorróidas, cálculos renais e toques rectais durante a hora de almoço. Estavam deprimidas, coitadinhas. Aquela hora não tem tido metade da magia, lamentavam elas. Fiz a minha cara número 43, aquela que fazia quando dizia à minha mãe que tinha ido à catequese, quando na realidade tinha estado a fumar tabaco de mistura e a dar curtes atrás do pavilhão do ginásio, e disse-lhes que não tinha nada para contar, que só tinha estado na praia a beber sumos naturais e a apanhar sol. Acreditaram a custo. Mas logo houve uma que perguntou: "Então e homens lá em casa?" Ai a merda, ahn?? Então mas eu tenho cara de empresária do putedo em nome individual?? Pedi que se explicasse imediatamente. Disse-me a tonta que da última vez que se avariaram coisas aqui em casa, veio sempre um homem qualquer com conversas hilariantes. Lembrou-me do guineense que vinha arranjar os azulejos da casa de banho, que bateu à porta e perguntou "Posso entrar e batumar isso tudo agora?". Lembrou-me do canalizador que me explicou "Isto é só esfregar aqui o buraquinho com vaselina até isto tudo escorregar sem prender, mas olha que isto é vaselina industrial, não é da que tu conheces....". Lembrou-me do senhor que veio arranjar o frigorífico numa manhã de verão em que eu estava de ressaca e que me deu o número pessoal de telefone depois de eu ter justificado o cheiro esquisito que estava em casa com "Este cheiro é aqui do bacalhau... por estar molhado... desde ontem... o que está no alguidar... que o resto cheira tudo bem.". Disse-lhes então que o microondas avariou durante as minhas férias. Houve gritos de alegria. Uma começou a fazer chá e logo apareceram pacotes de bolachas em cima da mesa. Dezenas de olhos brilhavam expectantes. Disse-lhes que a preta tratou de pedir à mãe um microondas velho que ela tinha lá para casa para desenrascar. Houve suspiros de desilusão. Os olhares estavam dispersos, uns pregados no chão, outros perdidos no infinito. A chaleira já fervia, mas ninguém se chegava para acabar o chá. Disse-lhes que a preta não conseguiu levar o microondas da mãe sozinha porque era muito pesado e pediu a uns homens lá do bairro para levá-lo a nossa casa. A água quente começou a ser distribuída nas chávenas e houve brindes com chá. Alguém barrava doce de morango nas bolachas que distribuía pelas restantes colegas entre gargalhadas eufóricas. Alguém pediu silêncio e fez-me sinal para continuar. Disse-lhes que aconteceu tudo na minha ausência e que quando cheguei das férias já tinha a peça de museu na cozinha e o microondas morto no lixo. Chávenas foram atiradas ao chão. Murros foram dados na mesa. Murros foram dados na cara umas das outras. Pessoas saíram com facas de barrar doce e colheres de chá em punho e não voltaram. Outras choravam e soluçavam desoladas. A preta ainda não chegou a casa. Estou preocupada.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Purificação da alma

Já tinha lido vários folhetos informativos dos Jeovás sobre o chamamento. Normalmente não lhes dou muita conversa, mas fico sempre com os livrinhos, não vá a preta esquecer-se de renovar a biblioteca da casa de banho. E foi precisamente no jantar de aniversário da preta que senti que tinha de fazer algo diferente. O mega-homem novo que a freak trouxe para nos mostrar era de facto intrigante. Mais velho, com uma forma envolvente de falar, embebedou-nos a todos e deixou-nos falar entusiasmados sobre o nosso assunto favorito. Ria-se, o malandro. Levou-nos à exaustão e começou então a dissertar sobre a juventude de hoje e sobre o conceito, da sua autoria diz ele, da prostituição intelectual. Não me lembro da explicação que deu sobre a sua teoria. Na minha cabeça as coisas fluíram sozinhas. Estava na hora. Depois de caminhar a estrada da minha putificação, chegara o tempo de purificar a minha alma. Mas depois lembrei-me que Jesus tinha uma amiga que fez isso e ainda por cima a tipa vestia-se mal e eu não gosto desse tipo de misturas. Reflecti um pouco e lembrei-me desta: o que eu podia mesmo fazer era ser um Siddhartha dos tempos modernos. Então, mudei de planos, larguei tudo e fui para o Caribe. Chegada lá, deixei logo de parte o gin e o vinho e entreguei-me de coração aberto ao rum, com celebrações matinais e durante o resto do dia também. Falei com estrelas do mar, com palmeiras, com pretos de camisas às flores, e até com uma sanita depois de um banho de piscina em grupo durante a madrugada, todos em cuecas e debaixo de uma abençoada chuva tropical, do qual a minha digestão não gostou muito. Durante essa conversa mística com a sanita, reparei no seu pequeno ralo. Bem mais pequeno que os ralos das sanitas lusas. A da minha casa nunca entupiu com vomitado. Aquela entupiu. Embriagada, porém piedosa, salvei-a da asfixia antes de me deitar. Mas, no dia seguinte voltei a entupi-la, desta vez com material fecalóide. As lagostas eram mesmo grandes, pensei eu. Quatro visitas diárias ao buffet provoca hiperplasia do cagalhão, teorizei eu. Quem é bom para comer, também é bom para cagar e, se tiver tempo, para trabalhar também, lembrei-me eu. Respirei fundo, fiquei orgulhosa por não ter aumentado a intensidade do cheiro na mesma escala do aumento do tamanho do bicho e voltei a desentupi-la. E desentupi a do bar da praia. E desentupi a da discoteca. Fazia-o e olhava para mim, como se o meu espírito tivesse saído do meu corpo, ali empenhada em descarregar dezenas de vezes autoclismos até os meus detritos seguirem caminho. Cada vez mais morena, cada vez mais barriguda e com um futuro promissor no mundo da canalização caribenha. Mas depois acabei por perceber que o meu espírito estava sempre no mesmo sítio, que havia era muitos espelhos nas casas de banho e que eu é que estava sempre bêbeda e cada vez mais gorda. Lembrei-me com saudade de vomitar com estilo, magra e bonita, entre a porta do taxi e a porta de casa. Lembrei-me com nostalgia das vezes em que já íamos a sair de casa e de dizer suavemente, com uma falsa timidez, que tinha de ir a casa num instante só para fazer uma coisa, subir as escadas a suar e cagar como uma rainha um cagalhãozinho de princesa. Outrora, a pequena diva da minha rua. Agora, um pequeno buda das sanitas. Saber quando desistir também é uma virtude. Decidi voltar.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Momentos polaroid

A preta faz anos amanhã. A preta quer uma comemoração simples, disfarçada de petiscada, com o seu recatado e pacato grupo de amigos. Apenas cinco pessoas convidadas: a preta, a anã mamalhuda, a freak com pregos na boca, a loira burra, a girafa açoriana e a bicha histérica. A preta está triste porque faz 29 anos, passou a semana a correr todas as repartições de finanças da cidade só para armar confusão, diz que anda com falta de sexo e tudo é desculpa para fala em pilas. A anã mamalhuda vai apanhar um avião no dia seguinte e vai estar arrependida de apanhar uma bebedeira nessa noite ainda antes de começar a beber, não consegue dizer duas frases sem largar um palavrão, diz que anda com falta de sexo e por causa disso só fala em pilas. A girafa açoriana não sai de casa há 1 mês, gosta de ter conversas sérias e intelectuais, mas de momento diz que anda com falta de sexo e por causa disso só fala em pilas. A bicha histérica vai chegar atrasada porque antes do jantar vai a um casamento lésbico não sei onde, farta-se de pinar, mas mesmo que não pinasse só consegue falar em pilas. A loira burra não tem assunto e fala do que os outros estiverem a falar. A freak com pregos na boca, que tem andado desaparecida, limitou-se a responder ao convite com 'Vou levar um amigo especial, mega queca, mega corpo, alto partidaço... Por favor, sejam normais.'. Pelo sim pelo não, levo máquina fotográfica. 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Equívocos

Lembram-se de quando eram miúdos e gostavam de se gabar de coisas parvas? Como os arranhões nos joelhos ou a cicatriz da apendicectomia? (Termos técnicos! Esta mulher dá cartas, man!!! Sexy!!!) Claro que se lembram... ainda fazemos isso, não é? E isto não pára, aviso-vos já! Eu bem vejo os velhinhos todos os dias na sala de espera do serviço a competir sobre quem tem a doença mais grave ou quem toma mais comprimidos. Mas antes dessa fase competitiva deprimente, vem uma outra, também ela, carregada de ânsia pelo título de palerma do bairro. E, embora vos espante, não vou falar do jovem adulto que se gaba das foeiradas dadas ao desbarato. Vou falar da competição pela melhor figura triste realizada sob o efeito do álcool. Tenho o amigo que se gaba de não ter encontrado as chaves de casa depois de uma noite de copos, de ter adormecido na rua à porta do prédio e de ter acordado em conchinha com um cão vadio debaixo do carro do vizinho. Tenho a amiga que dançou eufórica na rua e com gritos histéricos a dizer que estava numa rave de estrunfes, quando na realidade estava no meio do corpo de intervenção da PSP. Tenho a minha avó que se penteou com Raid casa e plantas porque achou que tinha agarrado na lata da laca. Bem, a minha avó não estava bêbeda, mas é velha e senil, o que vai dar ao mesmo. E tenho-me a mim, que um dia cheguei a casa de madrugada e lavei os dentes com Halibut. E aqui estávamos todos, quase empatados, até chegar este fim de semana. O grupo saiu todo junto, copos e cenas, picámos o ponto em todas as tascas, acabámos numa disco duvidosa e pouco iluminada, há uma amiga que se encantou por um preto e lá esteve durante horas a trocar amassos à bruta. Até aqui tudo bem, se o preto fosse feio ela até se podia defender com o ambiente escuro e a consequente limitação da acuidade visual. Mas bonito, bonito, foi vê-la a beijar outro indivíduo da mesma tonalidade, que ficou incrédulo com a troca repentina e mais incrédulo ainda quando ela lhe disse 'Xiii pá! Desculpa aí! Enganei-me no preto....'. Uma salva de palmas para esta mulher que é a minha nova heroína!

domingo, 28 de abril de 2013

Santa inocência

Estava aqui eu a ver a vida dos outros para me entreter antes da sesta. Encanta-me esta gente que vai passear e tirar fotos para mostrar net fora. Agora andam todos a ver o sapato gigante da Joana Vasconcelos ou as estátuas gigantes do jardim do Berardo. Freud ia gostar de estudar este fenómeno, mas já morreu, 'tadinho. Outra pessoa que devia ser estudada é a minha mãe. Eu também devia ser estuda, porque pessoas com dois dedos de testa não misturam mãe e amigos na mesma rede social. E então lá me aparece a Maria a moer-me os cornos no chat: 'Oh filha, com este sol e tu em casa?'. Respondo com respeito, porque mãe é mãe: 'Não comeces...'. Ela insiste: 'Os teus amigos todos a passearem e a mostrarem fotos aqui e tu aí fechada...'. Continuei a responder com carinho: 'Oh merda! Eras mais feliz se eu andasse aqui a pôr fotos minhas ao lado de esculturas gigantes?'. De imediato lembrei-me de coisas boas e sorri, mas não sei porquê, mãe ficou chateada: 'Era pois! Para as minhas amigas também verem o que a minha filha faz aos fins de semana!'. A ignorância é uma bênção e ela ainda não se apercebeu disso.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um post cheio de cultura

Há dias vi o meu sobrinho a tomar banho. Não, não tenho nenhum tipo de patologia mental a roçar a pedofilia, mas disseram-me que as tias devem assistir a este tipo de evento e fingir que estão a achar muita graça. Ele tem daqueles livros impermeáveis com bonecos para brincar na água. Isso já achei bonito, introduzir-lhes a cultura literária logo desde pequenos. Eu tinha 13 anos quando a minha mãe me pôs a ler "Os filhos da droga". Hoje percebo o objectivo dela: chocar-me com aquele mundo logo desde cedo, para que eu nunca fosse por esse caminho. Mas lembro-me que, na altura, a parte da droga passou-me ao lado e o que me chocou foi a parte da prostituição e imaginar a miúda a meter pilas na boca para pagar o vício. É engraçado como as boas intenções da minha mãe saíram todas ao lado. A verdade, é que se ela me tivesse posto a ler livros sobre hospitais, tinha feito melhor figura e eu hoje podia ser uma esteticista de sucesso e não ter que trabalhar aos domingos e feriados. Ontem foi um desses feriados. Com sol e calor, só para agravar o meu sofrimento. E, claro está, quem se lembra de ficar doente neste cenário, também não deve muito à sanidade mental. Como o casal idoso que tive o gosto de conhecer pelas 18 horas. Vinham eles das celebrações do dia da Liberdade. Vinha ela com uma ferida aberta na cabeça. Vinha ele nervoso porque o Benfica estava quase a começar. "A minha mulher parte coisas. Fica nervosa e depois parte coisas. É muito doente dos nervos, ela. Eu não sou assim, eu só fico nervoso se partir coisas de valor. Ela fica nervosa e parte tudo. Eu só parto porque ela é nervosa e eu fico nervoso". Eu não consigo precisar exactamente quanto tempo ele esteve nisto, até porque estava calor lá fora e eu estava ali contrariada, mas creio que ele lhe partiu a cabeça. Acredito, no entanto, que há ali um amor daqueles a sério, verdadeiro e à antiga. Ainda assim, eu não sou uma pessoa sensível para descodificar e entender as relações amorosas. Juro que tento, mas não tenho o dom. Se calhar, porque a minha mãe nunca me deu um romance para ler. Os poucos que tentei ler, foram durante a escola secundária e acho que nunca acabei nenhum. Todas aquelas histórias davam-me suores, diarreia e pesadelos. Ainda hoje tenho vontade de fazer xixi nas calças quando penso no Eça de Queiroz. Acho que este trauma explica muita coisa na minha vida. Mas, continuando, disse então ao velhote que tudo ia correr bem, que mais um bocadinho iam para casa, e para ele se acalmar porque estava visto que mais dia menos dia, já não ia haver mais nada para partir lá em casa... A velha lamentou chorosa o fatídico destino do serviço Vista Alegre, mas eu estava mesmo a falar deles os dois. Acho que o velho percebeu o que me ia no pensamento, fez um ar desconfiado e perguntou se eu era funcionária do hospital. Eu disse que não, que só ando de bata branca porque gostava que fosse Carnaval o ano inteiro. A minha colega, que ajudava a velha a levantar-se, olhou para mim em estado de choque. A velha também. Ele riu-se, abraçou-me e disse até amanhã. Saíram. A porta fechou-se. Fez-se um silêncio estranho. Ouvi a minha colega dizer que é encantadora a minha facilidade de comunicar com doentes psiquiátricos. Digo eu que é assustadora a afinidade que eles têm comigo. Vou deixar de ler Boris Vian e passar a ler Danielle Steel. No banho. Parece-me uma boa iniciação.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Tendências

Há dias fui ver os meus pais. Às vezes faço isso, não vão eles esquecer-se da minha cara. E até me visto melhor quando lá vou. Faz-se sentir uma pessoa importante, com pouco valor, mas importante. Quase como se fosse embaixadora da boa vontade para uma organização não governamental com fins lucrativos. Uma Catarina Furtado de metro e meio e caracóis, mas com a capacidade de articular frases completas. Vou lá, faço-lhes festinhas na cabeça, eles ficam contentes e eu garanto a herança. Às vezes até me sento com eles e digo-lhes que sim, várias vezes, sempre a sorrir, enquanto eles falam das suas aventuras no campo. Sou um amor. Desta última vez, a minha mãe foi buscar um álbum antigo de fotografias, com fotos de férias de campismo de há 30 anos atrás. Houve uma foto que me fez rir. Eu, com dois anos, a fugir com um melão inteiro nas mãos. Sem a minha mãe dar por isso, roubei a foto. O mundo precisa de provas que eu não me tornei no que sou pelas rasteiras da vida, que as pessoas nascem já destinadas e que há coisas que devemos aceitar, porque são assim mesmo. E eu sou assim. Apesar de achar que estava a agir mal, trouxe-a para casa. Eu tenho a prova. Eu sempre gostei de brincar com a fruta. Mas só com fruta grande. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sestas e sonhos

A minha mãe estava a ver televisão no sofá. Ao seu lado estava um jovem, que nunca vi na vida, em tronco nu. Sentei-me com eles. O gajo começou a apalpar-me as mamas e a beijar-me. Demos a melhor curte que me lembro de ter dado nos últimos cinco anos. Talvez porque as curtes dos últimos cinco anos aconteceram comigo bêbeda. A minha mãe continuava a ver televisão. Adormecemos os três. O meu pai aparece, não gosta do que vê e começa a ralhar. Eu finjo que continuo a dormir. O jovem acorda e foge para a casa de banho. A minha mãe acorda e tenta justificar-se. O meu pai chateia-se e sai de casa. Abro os olhos e a minha mãe começa a alertar-me para a índole do jovem, que ele já andou metido em putas e droga e que não é boa pessoa. Eu respondo-lhe que ela é uma exagerada, que fala como se ele tivesse matado alguém e que toda a gente erra na vida. Digo que não me lembro de onde, mas que a cara dele não me é estranha. Ela ri-se e diz que ele é o agudo da São. Pergunto o que é um agudo. Ela diz que é o ex-marido da enteada. Pergunto quem é a São. Ela diz que é a sobrinha da Marta. Digo que não sei quem é a Marta. Ela diz que eu só me lembro de quem me interessa. Percebemos que o gajo está a ouvir a conversa por trás da porta, chamo-o, ele aparece cheio de eléctrodos no peito e ligado a um monitor, como nos hospitais, e muito nervoso, a dizer que me ia contar tudo da vida dele antes de nos casarmos. Pergunto se é suposto pensar em casamento com alguém com quem dei só uma curte. Ele e a minha mãe respondem que sim. Ele diz que tem pressa e pede-me o número de telefone para agendarmos a foda e oficializar o noivado. A minha mãe não diz nada. Um anúncio da televisão diz que há uma fábrica de salsichas em Vila do Bispo. A minha mãe diz que agora todas as salsichas do país são feitas em Vila do Bispo enquanto sinto alguém a encostar-se ao meu rabo. Olho para trás para ralhar com a minha mãe e dizer-lhe que não precisa encostar-se a mim para me dizer isso, mas quem se estava a encostar era o gajo e a minha mãe estava do outro lado da sala. Ao se aperceberem da minha confusão, gajo e mãe riem-se muito.

E pronto. Pessoas que percebem dessa ciência da interpretação de sonhos, expliquem-me porque é que a minha cabeça mostra-me a minha pessoa a curtir com gajos despidos à frente da minha mãe, fala-me de graus parentescos e pessoas que não existem e terras onde nunca fui, só para me dizer que ando a trabalhar demais? Da falta de sexo já nem é preciso falarmos. Isso devia ser considerado um direito básico de qualquer cidadão!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

No consultório

Olhe Doutor, eu não ando bem. E escusa já de fazer aquela cara que os homens fazem quando uma mulher diz que não anda bem, tipo enjoo repentino, enquanto pensa 'Olha, mais uma que não sabe porquê, mas que não anda bem...', porque eu não ando mesmo bem. Só não consigo perceber é o porquê! Isto é assim, imagine lá o disparate, como se uma pessoa deixasse de achar piada ao sexo. Eu sempre gostei da adrenalina de fazer coisas em locais menos próprios. Sexo também e continuo a gostar muito, graças a Deus, mas as cagadas fora de casa já não são a mesma coisa. Um centro comercial, um festival de verão... o ritual de me proteger de bichos alheios, de não fazer barulho, de não deixar marcas visíveis... de o fazer o mais rápido possível, de não deixar pessoas à espera nem que percebam o que estive a fazer ali fechada... a gota de suor a escorrer na testa, o vestir-me aliviada... Isso mexia comigo. Agora já não. Hoje foi no ginásio. Mulheres a tomarem banho, outras a equiparem-se e eu pumba, toma lá uma bomba que é de graça... mas foi assim... não foi cagar, foi mesmo só deixá-lo cair... sem fogo. Era quase como se estivesse em casa. Sem magia e sem pecado. Uma cagada como outra qualquer. Acho que é como aquele mito dos suecos serem tão felizes, terem tudo, ao ponto de a vida já não ter graça e de parecer que não há nada que os estimule a continuar e depois desatarem todos a suicidarem-se no outono, sabe? É este vazio que me consome. Acho que isto começou desde que me chateei com o meu chefe, roubei-lhe as chaves do seu WC privado e fui lá à socapa arrear uma poia tão grande que dava para garantir os postos de trabalho de uma ETAR inteira durante seis meses. Fazê-lo à pressa, limpar vestígios físicos, sair orgulhosa com a câmara de gás que deixei lá dentro. Foi tão bom. E a cara dele, quando lá foi minutos depois, a sair meio amarelo meio verde, sem perceber se seriam os esgotos que estavam entupidos ou se era ele que estava a morrer por dentro...Até fico comovida só de pensar nisso. Coisas destas só se fazem uma vez na vida, é isso? Sinto que não há mais nada épico que eu possa fazer com a minha merda, percebe? Ando triste. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Genealogia

Acho curiosas aquelas pessoas que conseguem identificar feições em crianças com menos de um ano. Ainda têm cara de joelho e já essas pessoas conseguem dizer que têm os olhos do pai, as orelhas do avô, ou o sorriso da mãe. Essa do sorriso da mãe, então é a minha favorita. Aconteceu-me há dias, uma ex-colega de curso que apareceu de surpresa, mãe há cinco meses, e que decidiu mostrar fotos do seu menino, ora a tomar banho, ora a mudar a fralda (doentes mentais do caraças!). Todas elas embevecidas e uma lá decide atirar 'Ah... tem o teu sorriso, Patrícia...'. E todas as outras 'Aaaaahhhhh.... pois tem!'. Ora isto já é levar a minha capacidade de auto-controlo ao limite. Eu, que estava a tentar controlar-me, com duas respostas geniais a palpitarem-me nas têmporas, tentando apenas ofender as mulas e não a desgraçada da mãe, que neste momento ainda parece uma vaca a sufocar nas próprias mamas, deixei de parte a pergunta se a mini-pila do puto era parecida com a do pai, não fosse alguma das outras responder que não (ou que sim) e a pobre Patrícia ir para casa a pensar que o marido anda a molhar o bico naquelas bandas e quando dei por mim já um lindo 'Este sorriso de 5 meses é da mãe? Patrícia, tira a prótese dentária já, sua fraude!' saía  da minha boca sem eu querer e cinco olhares de desaprovação caíam sobre mim. Salvou-me a avó da criança, que começou a dizer que o pirralho era a cara chapada dela própria, mostrando uma foto a preto e branco, dela em bebé, tirada numa praia fluvial em 1950. Fui obrigada a concordar, a cara de joelho é de facto uma constante, no bebé, na avó em bebé e na avó em velha. Prevejo um futuro muito negro para este miúdo. 
Já comigo, sempre disseram que eu puxava ao lado do meu pai. Nunca fui capaz de refutar isto, pois o buço que eu exibia aos 15 anos tinha muitas parecenças com o rato albino morto que o meu pai ostenta entre o nariz e o lábio superior. Avós desse lado, só conheci a minha avó paterna, mas não me lembro de ela também ter tido bigode. Pode ser herança deixada pelo meu avô, mas dele pouco sei, nem nunca vi uma foto. É quase como se fosse a personagem 'tabu' na história da família. Só sei que era um bêbado de vocação e morreu com uma cirrose hepática. Prevejo um futuro muito negro para mim. 
E este post podia, também ele, morrer aqui, não fosse hoje ter estado um calor de merda e eu ter corrido o dia todo como uma gazela, porque consegui atrasar-me para todo o lado onde tinha de ir. Acabei de chegar a casa e constatei que podia facilmente criar elefantes e leões no conforto das minhas axilas, tal não é o cheiro a circo que nelas se criou ao longo do dia. A conclusão é mais que óbvia. O meu avô ou era preto ou era monhé. Ou talvez fosse cigano. Vou tomar banho.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Exemplo a seguir

É bonito quando, no nosso local de trabalho, começam a conhecer e a respeitar a nossa individualidade. No inicio, quase tudo aconteceu a medo. Era a ex-aluna que lá tinha estagiado, sem se perceber muito bem se tinha sido escolhida pelo estágio com muito trabalho ou pelos decotes com pouco pano. Tarefa ainda mais penosa, quando se trabalha num meio maioritariamente de mulheres. Mulheres mais velhas. Mais velhas e gordas. Gordas e com buço. Buço e maridos gordos. Maridos gordos que também trabalham com mulheres mais novas. Mas entretanto, os anos passaram e algumas dessas mesmas mulheres começaram a aceitar-me tal como sou. O meu peculiar medo de anões, as minhas actividades de tempos livres, o abraçar as mamas e dar-lhes beijinhos e sussurrar que a mãezinha nunca lhes irá fazer mal quando falam em amamentar filhos, o facto de eu conseguir beijar as minhas próprias mamas. Mais importante que me aceitarem, é o facto de me respeitarem na minha diferença, de preverem reacções, de se acautelarem nas perguntas que me fazem. Tal como a senhora, já avó, que hoje me perguntou 'Como é que se chamam aquelas chouriças pretas que você gosta muito sem serem pilas?'. Foi bonito. Esta senhora merece todo o meu respeito e amizade. Até porque tinha um saco de morcelas para me dar. As outras que se riram da pergunta, 'pá merda mas é! Invejosas.