quarta-feira, 23 de abril de 2014

Aleluia.

Há uns tempos, publiquei uma foto com cerca de vinte pares de sapatos numa rede social. Quarente e oito pessoas - quarenta e sete mulheres e um gay - gostaram da foto. Se ele não é gay, perdeu a oportunidade de ficar sossegado, pensei eu na altura. Pensei também em dar-lhe uma palavrinha sobre isto, porque perder coisas pode deixar uma pessoa um bocado fodida mas no mau sentido, mas entretanto fui de férias. Fui de férias e aconteceu o seguinte. E passo a relatar. A coisa ia correndo mal logo no início, porque deixei-me dormir e ia perdendo o avião. Já ia meio fodida porque tive a triste ideia de ir beber copos na véspera e isto das ressacas já não são o que eram há 10 anos atrás. Devo ter perdido o fígado algures. Passado o stress inicial e a ressaca, lá comecei a aproveitar a coisas, road trip pela Europa, faz e desfaz malas em cada paragem, até que dou por mim e: como é que uma pessoa consegue perder três peças de roupa interior em menos de uma semana??? Como??? Olhei para o tecto, como as Divas fazem nos filmes, e disse ''Eu não sei que tipo de mensagem queres passar, meu... mas isso de me fazeres perder coisas 'tá a deixar-me fodida!''. Os dias lá passaram, ainda perdi um isqueiro, um frasco de gel de duche e 50 euros numa multa de trânsito. E é na última tarde que reúno mentalmente tudo isto e traço a seguinte regra teórica, a meio de uma caneca de cerveja: perder coisas é mau, nada de bom vem por ter perdido coisas, não tenho as coisas e estou fodida, foda-se, estou tão fodida. E ora que chega a última noite, roupa fancy, perfume, jantar num bom restaurante, saída para uns copos, discoteca, malta muito bêbeda, rapaz lá ao fundo a sorrir, Oh Deus não pode ser!, Snail?, Zé?, Tu aqui?. 
Graças a Deus que perdi a virgindade, e há já muitos anos. Todas as regras têm uma excepção, e algumas têm mais que uma. Fui fodida, foda-se, fui tão fodida. 

domingo, 6 de abril de 2014

Momentos de reflexão

Faria sentido voltar com um pedido solene de desculpas devido à ausência prolongada, não era? Era. Um treinador bonzaço lá do ginásio também pede sempre para eu me desculpar quando me baldo mais de dois dias seguidos. Nas últimas semanas aconteceram-me várias coisas caricatas. Após cada uma delas pensei, ''Olha, isto até dava um post!''. Algumas foram no trabalho. Houve o jovem que pediu-me para eu lhe beliscar os mamilos. Houve a senhora que me acusou de ter roubado o casaco ao marido. Houve o vendedor de suplementos para desportistas que conhece o meu treinador bonzaço. Outras foram no ginásio. Há o chinês meio gay que tanto diz que gosta de mim, como da cinquentona fresca, como do treinador bonzaço e que diz que temos todos de ir beber café e passear no parque uma noite destas. Não percebi se ele ainda não fala bem português ou que raio de hábitos eles têm lá na China de ir passear no parque em pleno Inverno, mas temo que ele queria combinar uma espécie de double date. Coisa que, dado a sua orientação sexual dúbia, me deixa com igual probabilidade de calhar com ele, com a cinquentona ou com o bonzaço. Qualquer uma destas situações davam para criar um post com uma mensagem subtil de orientação espiritual? Dava. A verdade é que eu não sei bem o que se passa comigo. Ainda hoje de manhã pensei em escrever qualquer coisa, e até foi uma manhã engraçada, porque acordei com um olho inchado e percebi logo que a chuva tinha ido embora e que as alergias tinham voltado. Depois almocei e comi feijoada, e enquanto comia a fruta senti uma ligeira turbulência intestinal e pensei "Eh lá, que o peido já está em gestação!". Depois estive a limpar a casa e enquanto aspirava foi um tal de me libertar, o que até foi giro, porque senti que fazia parte de uma linha de produção industrial de gás natural, o tubo a engolir ar e eu a soltá-lo como um homem. E uma parte importante da vida é isto, sentirmos que fazemos parte de alguma coisa, não é? É. O treinador bonzaço lá do ginásio também diz que sim. O que eu quero explicar é isto, é que eu penso em fazer as coisas, mas depois distraio-me não sei bem com o quê, o que é uma pena. Pena também, é o sexo continuar a não fazer parte da minha vida. Ainda no outro dia lamentei-me disto com uma amiga, e disse-lhe que estava a precisar de férias, imperiais e sexo. ''Férias e imperiais vais tu ter já para a semana, quanto ao resto não te posso ajudar nem estou interessada.'', disse-me a bruta. O mais engraçado é que três dias depois, conforme as escrituras, um antigo quase-namorado, que por acaso é muita giro, ressuscitou sob a forma de um sms a perguntar como estou e que gostava de beber um café um dia destes. Café a puta que o pariu, que essa conversa já eu conheço. Não foi preciso muito esforço para saber que se separou e que anda a 'sentir-se sozinho'. Mas isto é como diz um treinador bonzaço lá do ginásio, que por acaso também é muita giro e muita divorciado: ''Tu é que tens razão Snail, não vamos perder tempo com o passado.''. Mas isto tudo, se calhar, é cansaço e não ter tido tempo para muita coisa nos últimos tempos, nem para as noitadas. Ainda hoje estava a falar com o treinador bonzaço lá do ginásio na net, ele estava a contar-me que ontem foi sair e que anda destreinado dos copos, que só de beber duas coisinhas ficou meio torto e que por isso é que me mandou mensagens a dizer "Anda daí!" e "Zimboraaaaa!" quando sabia perfeitamente que eu estava a trabalhar. Eu ri-me e disse-lhe que também ando enferrujada nisso dos copos e ele propôs que fossemos só os dois sair, sem mais ninguém ver, para treinarmos os fígados para o Verão que se aproxima sem passarmos a vergonha de andarmos fraquinhos. Ele é engraçado, não é? Eu também acho. E pronto. Já me baralhei toda. Acho que é aquilo da semana antes de entrarmos de férias que deixa as pessoas assim meio tontas e sem conseguir pensar na mesma coisa durante muito tempo, não é?