domingo, 30 de dezembro de 2012

Balanço

Sou uma pessoa, diria eu, de necessidades básicas. Sendo assim, visto que as pessoas que me são queridas estão bem de saúde, que continuo linda e magra e que mantenho os meus dois empregos, factor importantíssimo para a manutenção dos meus vícios e vida boémia, posso dizer que o ano correu bem. Mas depois, a consciência pede sempre, em tom de estímulo para um processo evolutivo e de aprendizagem enquanto ser humano, para fazer uma avaliação das partes menos boas do ano que está a acabar. Não foi difícil, bastaram dois segundos apenas para me lembrar daquela fatídica noite de Verão. Estava eu, alcoolizada, a dançar de olhos quase fechados enquanto a minha amiga de 1,82m estabelecia contacto com um indivíduo de 1,85m. Lembro-me que do alto dos meus 1,50m apenas via peitos e sovacos, até que uma criatura com cerca de 1,57m, de sexo supostamente masculino, cabelo à top-model, camisola de cavas, e calções cor-de-rosa-bebé decide iniciar uma conversa com a frase 'Então o meu amigo e a tua amiga estão a falar, ahn?'. Ao que eu respondi 'Tu és gay, não és?'. Foi mesmo isso, um homem borderline nos critérios do nanismo, vestido de cor-de-rosa, teve a ousadia de vir falar comigo. Não entendi muito bem o que se passou a seguir, mas conversa para cá, conversa para lá, desconfio que ele tomou como missão convencer-me da sua heterossexualidade. Coisa que não conseguiu. Mesmo assim houve beijos. Pronto, cá está a revelação, a humilhação, eu perder a pose e revelar ao mundo a vergonha do meu pior e mais embaraçoso episódio de 2012. Que aconteceu no dia em que o beijei outra vez. Sóbria. 


Antes que saiam todos de casa de catana na mão à minha procura, asseguro-vos que fingi que tinha um drama pessoal terrível, coisa que me deixou super-sensível ao ponto de me ter ofendido com uma coisa fictícia gravíssima que ele me disse, mas que nunca lhe esclareci o que foi e desapareci. 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Do jantar de sushi de ontem ao poema desta manhã

Procurem, procurem a fundo
Nas avenidas de Lisboa ou nas rotundas de Viseu
Não encontrarão outra mulher bonita neste mundo
Que se peide tanto como eu.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A masculinidade, esse bem tão precisoso

Meninos! Que se cansam a fazer figuras de parvos, a pensar que parecem machões! Que pensam que a sua virilidade só fica patente com atitudes machistas e com o soar da voz grossa! Meninos! Não passam de meninos! A virilidade é um revelar subtil, mas firme, de uma atitude. Não o explodir de anormalidade como acontece com o vosso acne. Aprendam com um verdadeiro macho (história real, passada num consultório médico):

Médica (calma e pausadamente): Pode ficar descansado, não é nada grave. É apenas um furúnculo, localizado mesmo à entrada do ânus.
Macho (calma e pausadamente): Entrada do ânus? Saída, se faz favor.

Estão a ver, meninos? É tão simples.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Deste Natal

Este ano, tal como nos últimos quatro anos, estive de serviço na véspera de Natal. Foi um turno calmo, posso dizê-lo, pelo menos quando comparado aos anteriores. Saí do serviço às 23 horas e o caminho até casa dos meus pais, tal como nas vésperas de Natal dos anos anteriores, foi feito perdida em pensamentos. Lembrei-me que este ano ia menos cansada. Lembrei-me que no ano passado um dos últimos doentes que vi foi um monhé com gastroenterite, com um aroma que misturava harmoniosamente o cheiro a caril e vomitado. Lembrei-me que a luz tinha faltado poucos segundos depois de ele entrar na sala e que, no escuro, o olfacto apura-se de tal modo que tinha tido a sensação que me estavam a espancar o nariz com chamuças fora de prazo a fervilhar de salmonelas. Depois lembrei-me daqueles ceguinhos que pintam postais com os pés melhor do que eu desenho o boneco enforcado daquele jogo infantil de adivinhar palavras. E depois ainda me lembrei dos autistas que decoram listas telefónicas inteiras. Daqui a lembrar-me do meu pai foi um instante. Na última festa familiar, lembrou-se de contar uma história interminável sobre a pila dele e da reacção da mesma à algália durante um internamento que teve há uns anos. Palestra essa, dada à mesa de jantar com a sogra da minha irmã presente. Coitadinha da senhora, merecia uma medalha por ter mantido a pose durante a odisseia de quinze minutos sobre a pila do compadre. Entretanto, chego a casa. Todos sentados à mesa, com o meu pai meio bêbedo a falar entusiasmado, a minha mãe meio bêbeda a rir que nem uma desalmada, a minha avó de boca aberta e estática como quem está a olhar para o demónio, os meus tios a fingir que viam qualquer coisa no telemóvel e a minha prima com uma cara de quem pede socorro. Ainda apanhei parte da conversa dele que dizia qualquer coisa como "ali estava na marquesa.... a anestesia.... o tubinho a entrar.... a próstata....". Indignada, perguntei "Tu não me digas que estás a falar da tua pila outra vez??". Com a língua a enrolar, disse com o ar mais sério deste mundo "Se trabalhas num hospital, devias saber que o exame à próstata é feito pelo cú!". Meu rico pai. Fiquei muito mais descansada. E, acima de tudo, esperançada. Talvez na próxima festa de família ele decida falar sobre joanetes. E talvez um dia eu venha a saber o que é um Natal e uma família normais. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Serei eu a única pessoa... #3

... que ao responder à questão 'quais os filmes que já viste mais vezes na tua vida?' finge não se lembrar de mencionar o 'Música no Coração'?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Conto de Natal

A pequena Maria foi visitar umas amiguinhas à hora de almoço e entrou numa sala onde estavam Sabrina e Snail. Maria gosta muito de Sabrina, pelo que gritou alegremente 'Olá Sabrina!!!', nem dando pela presença de Snail. Snail ainda sorriu na sua direcção, no entanto, Maria nem para ela olhou, tal não era o entusiasmo de poder falar sobre coisa nenhuma e rir com Sabrina. Snail ficou aborrecida, pois não gosta de ser tratada como uma parece e saiu da sala. Minutos depois, Maria seguiu alegremente para outro sítio qualquer e Snail foi queixar-se da pouca educação de Maria a Sabrina. Sabrina entendeu o sentimento de Snail e apressou-se a chamar a atenção de Maria sobre o sucedido. Maria, triste, confessou não ter feito nada por mal, que Snail devia saber que ela a admira muito mas que Snail também não lhe tinha dado os bons dias quando ela entrou. Ai Maria, Maria, a menina não sabe que é quem entra numa sala que deve saudar os presentes? Nervosa, Maria correu todas as salas à procura de Snail para se redimir. Procurou, procurou, procurou e foi encontrá-la na copa, a almoçar com outras cinco pessoas. Entrou, sorriu e disse de braços abertos 'Bom Natal, Snail!!!'. Os restantes olharam espantados, também eles à espera dos votos de feliz Natal entusiastas de Maria. Porem, Maria nem os viu, correu para os braços de Snail, deu-lhe duas beijocas gordas na cara e saiu alegre, convencida que, agora sim, era uma menina bonita e que, por isso, ia ter o sapatinho cheio de presentes daqui a uns dias. Os outros ignoraram e continuaram a comer. Todos sabem que Maria apenas vive no seu mundinho de conto de fadas. Coitadinha da Maria.

Esta é uma obra de ficção baseada em factos verídicos. A identidade dos intervenientes não é revelada, mas para saber a história real, basta substituir onde se lê 'Maria' por: senhora oriunda de uma das melhores castas de Cascais, com 55 anos de idade, professora catedrática, com tom de voz nasalado como se tivesse sinusite crónica e cujo nome é precedido por um grau de parentesco familiar feminino cada vez que alguém fala dela pelas costas.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Take #2

Hoje o alarme de incêndio disparou outra vez. Foi o detector de fumo da minha sala que foi brindado com a luz vermelha, sinal que localiza qual o detector de fumo que foi activado. Outra vez. Mas, desta vez, eu estava sozinha na sala. E lá apareceu o segurança de ontem, outra vez, com uma conversa deveras inteligente, enquanto olhava para o tecto da sala com cara de quem faz uma análise profunda da situação.

"Sabe, você tem isto aqui tudo mal organizado. O detector de fumo não pode estar em frente da saída do ar condicionado, sabe? O detector de fumo devia estar, digo eu, mais para a direita (dedo indicador direito a desenhar linhas imaginárias no tecto), para além de que o filtro do ar condicionado deve estar sujo e a soltar vários tipo de impurezas (mesmo dedo passa a desenhar círculos no ar). Volto cá mais tarde para ver se está tudo bem, ok? (pisca olho esquerdo na minha direcção e sai)"

Ignorando o facto de ele insinuar que tenha sido EU a montar (e de forma errada) o sistema de detecção de fumos e os aparelhos de ar condicionado, ignorando o facto de ele propor subtilmente que EU devia parar tudo o que estava a fazer e tratar de ir buscar um aspirador e uma chave-de-fendas, limpar todo o tipo de equipamento que está instalado junto ao tecto da minha sala de trabalho e re-instalar tudo segundo as normas por ele sugeridas antes do seu regresso, começo é a desconfiar que este gajo tem um plano diabólico para me tentar seduzir e é ele que anda a sabotar o alarme de incêndio do serviço. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Porque as coisas (às vezes) fazem sentido

A terminar 17 horas consecutivas de trabalho, o alarme de incêndio do serviço disparou. Partilhava a sala com dois estagiários e um cabo-verdiano muito bem parecido que estava em tronco nu (damn you, you gorgeous motherfucker!). Lembrando-me das últimas vezes que o alarme disparou, acalmei os presentes explicando-lhes que a última vez que isto aconteceu, foi porque uma das empregadas se esqueceu das torradas na torradeira e as restantes nunca se chegou a saber porquê. Sem filtros, devido à privação do sono, ainda fiz a piada que desta vez a culpa devia ser minha por ser uma mulher muito quente, ao que o cabo-verdiano respondeu, na mesma linha de piada atrevida, que talvez fosse por ele ser africano e ter feito faísca com 'esta' mulher fogosa (you sexy naughty gorgeous motherfucker!!!). 
Isto podia ser o mote de uma comédia romântica de domingo à tarde, até termos percebido que foi exactamente o detector de fumo da nossa sala que fez o alarme de incêndio de todo o serviço disparar, quando apareceu um segurança a perguntar se estávamos bem, com o seguinte paleio: "Está tudo bem aqui?" - "Sim, está..." - "Não se passou nada estranho?" - "Não... estamos a trabalhar..." - "Não viram fumo nem passar uma onda de calor?"

Passar uma onda de calor???
UMA ONDA DE CALOR A PASSAR???!!!
Antes ou depois dos cinco tornados e da manada de elefantes?
Abuso de drogas ou escassez de cérebro?
Normalmente não sou fã de piadas elitistas, mas quando o sexy naughty motherfucker sussurrou "é por isto que alguns chegam a doutores e outros não", concordei de imediato. Até porque um homem com uma peitaça daquelas deve ter sempre razão. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sei que o fim do mundo (realmente) está próximo...

... porque, no último mês, quase todas as minhas amigas e mais umas quantas colegas de trabalho vieram pedir-me conselhos sobre as suas relações, casamentos ou sobre o homem a quem andam a fazer o cerco. A mim, que neste momento mais parece que ando a fazer uma experiência prática para um estudo sociológico sobre o celibato e que fiquei 4 horas a pensar em pilas depois de ouvir uma senhora terminar a explicação sobre a última técnica que aprendeu para tricotar cachecóis com a seguinte frase "o entusiasmo que me deu ao vê-lo crescer". A mim, que não tenho uma relação estável há quase cinco anos. A mim, cujo melhor amigo é o ex-namorado. A mim, cujo segundo melhor amigo é gay. A sério, meninas, o que vos leva a crer que eu perceba o que quer que seja sobre homens e qual o caminho a seguir para melhorar as vossas relações amorosas? 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Sinais do tempo

Serve este texto como uma declaração de indignação para com as senhoras mais velhas que fazem ou fizeram parte da minha vida. Incluídas estão a minha mãe, avó, tia, vizinhas e ex-sogras.
Ao longo do tempo e com a minha apurada capacidade de observação e aprendizagem, vi-as envelhecer e engordar e estabeleci linhas de acção e estratégias. Não gostei do que vi na maior parte dos casos, pelo que vou ao ginásio, pinto o cabelo, uso cremes anti-rugas e procuro nunca me comportar de acordo com a minha idade. Os cuidados com a depilação também são uma constante, tal não foi a quantidade de buços e pêlos rebeldes no queixo que algumas delas exibiram toda a vida. Então, hoje examinava a minha patareca, a fim de verificar o seu estado capilar e agendar o massacre com cera e o fim do mundo quase aconteceu. Não é que eu quisesse que estas senhoras me mostrassem as suas ditas ao longo dos anos (Deus me livre!!!) mas, pelo menos, podiam ter-me falado e partilhado a experiência do choque, desespero e profunda tristeza que se apoderam de nós quando conhecemos o nosso primeiro pêlo púbico albino. Quero chorar. Cera. Amanhã!

sábado, 15 de dezembro de 2012

A manhã do terror

Imaginem ter de acordar de madrugada a um Sábado para ir trabalhar, porque se é boa pessoa (às vezes) e o colega pediu com tanto jeitinho para o substituir (devo-lhe 50.000.000 favores). E lá se vai de comboio para o outro lado do rio, para essa linda terra (not!) que é o Pragal e até se vai um pouco mais cedo que o previsto, para se estar um pouco ambientada com o equipamento antes de começar a fazer exames. Chega-se lá às 8h20, mas afinal aquela merda só abre às 9h ao Sábado e vai que a secretária que tem a chave daquilo se deixa dormir e só chega às 9h15. Não se tomou o pequeno almoço em condições porque se ia a contar com a cafetaria da clínica que, por acaso, não abre ao Sábado e fica-se a manhã toda com a neura, com sono e com fome. Estou tão feliz com isto que não me aguento. E só por causa disso sou capaz de me embebedar hoje.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O almoço de Natal do serviço

Considerado uma tradição secular do nosso serviço, com iguarias confeccionadas por todos os elementos, sem olhar a classe social ou profissional, realizado num espírito de amizade e comunhão e incluindo uma não menos tradicional troca de prendas, desde há dois anos a esta parte.
Podia agora dissertar sobre os enchidos das ilhas, sobre a moamba ou o bacalhau com natas, sobre os vinhos do Douro e Alentejo, sobre o médico que foi apanhado a olhar para o meu decote e que daí até ser condenado ao título de 'futuro-ex-qualquer-coisa-dela-porque-ela-até-lhe-pode-vir-a-dar-bola-mas-farta-se-depressa' foi um ápice, ou sobre a minha colega, que ao saber que eu tinha levado máquina fotográfica, perguntou se era para tirar fotos, eu ter respondido com ar de gozo "não filha, é para assar frangos" e que ofendida não me falou o resto do almoço. Mas não vou.
Vou antes contar como se pode quase morrer durante um almoço de Natal. Ou melhor, como se pode quase morrer durante uma troca de prendas.
Todos os anos, fazemos a troca de prendas de uma forma temática. No primeiro ano, as prendas foram numeradas, havia um saco opaco com rifas também elas numeradas, as pessoas tiravam um número e tiravam a prenda com o mesmo número. Tema desse ano: números.
No ano seguinte, o tema foi 'ditados populares'. Com o mesmo sistema, as rifas tinham o início de um ditado, cada pessoa dizia em voz alta o que tinha escrito na rifa e havia uma pessoa responsável por procurar o resto do ditado escrito nos embrulhos das prendas e dar a prenda correspondente a cada um. Não teve graça nenhuma, mas valeu pela inovação.
Este ano, o tema foi 'pares românticos'. Charlene e Alberto do Mónaco, Dama e o Vagabundo, Fiona e Schreck e por aí fora. E à vez, íamos dizendo o nome da apaixonada que nos tinha saído na rifa e recebíamos a prenda com o nome do respectivo apaixonado. Também este ano, não estava a ter graça nenhuma, até a única preta do serviço ter dito o que lhe tinha saído na rifa: Daaaaaamaaaa. Engasguei-me com o vinho tinto durante o ataque de riso e quase morri asfixiada.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Deverá este dia ser recordado...

... como o dia em que se combinou as iguarias que cada um iria levar para o almoço de Natal lá do serviço, o estagiário açoriano de 21 anos propôs levar uma tábua com queijos e enchidos lá das ilhas e eu, entusiasmada, gritei à frente do Chefe de Serviço, restante equipa médica, enfermeiros, colegas de trabalho e dois ou três doentes "quem come o teu chouriço sou eu!"

Snail, a levantar falsos testemunhos e a criar boatos sobre a sua própria índole e conduta desde 1978.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Medos

Essa coisa irracional, chamada pelos mais sensíveis de 'fobias'. Há que respeitá-los. Eu, por exemplo, tenho medo de muito pouca coisa. Aliás, vivo com uma preta de Odivelas (amigas que partilham casa, nada de fufices!) e não tenho medo. Nem sequer tenho medo da mãe dela, que também é preta e berra dentro do Pingo Doce cada vez que há promoção de peixe fresco. Tenho outro amigo preto, também ele oriundo de um bairro problemático, e não tenho medo dele. Mas tenho medo de um amigo dele, que é anão e eu tenho medo de anões. Já que falamos nisso, lembrei-me agora da noite em que conheci o anão. O preto embebedou-me primeiro, a dizer que a seguir íamos a uma festa onde um grande amigo dele, por sinal, advogado e DJ, ia passar som. Só duas horas mais tarde e quatro gins depois é que me disse que o gajo era advogado, DJ e anão. Gritei histéria e o meu amigo, que para além de preto é, também ele, advogado e dono de um grande poder de argumentação, disse "Tu vives com uma preta e não é por isso que vou deixar de sair contigo". Ao que eu respondi "O que estás a dizer é estúpido porque tu também és preto". A discussão acabou com a resposta "Sim, e tu tens um metro e meio e dizes que não gostas de anões? Isso sim, é estúpido!". Caso encerrado, tive de ir à festa do anão e fiquei rouca de tanto gritar a noite toda. Só não sei se me mijei pelas pernas abaixo porque estava perdida de bêbeda. Por falar em perdida de bêbeda, o meu quadro eléctrico cá de casa é que também anda perdido da vida. Agora deu em armar-se em sensível e vai abaixo quando há muitas coisas ligadas ao mesmo tempo. Uma noite destas, estava eu sozinha em casa e tive um apagão a meio do banho. Só porque tinha o forno, o aquecedor, a televisão e a máquina de lavar roupa ligados. Quadro eléctrico maricas de merda! Como disse, já era de noite, o que fez com que acabasse o banho sem saber bem em que refegos poderia ainda haver espuma, dar três cacetadas com as pernas na sanita enquanto procurava a toalha, ter dado uma cabeçada na porta da casa de banho e ter arriscado a vida ao procurar o botão do quadro eléctrico às apalpadelas. Outra noite, estava a lavar os dentes. Comecei então a desconfiar que o gajo gosta é de me deixar às escuras na casa de banho. Bem, isto era só para dizer que podem haver medos do mais mariconço que se possa imaginar e que eu, apesar de ter medos peculiares, nunca fui menina de ter medo de estar sozinha em casa ou do escuro. Mas juro, tenho medo do meu quadro eléctrico. E da noite em que ele me vai deixar a limpar o cu às escuras.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Da minha solidão

Serve este pequeno texto como lição de vida para tantas outras almas femininas solitárias por esse mundo fora.
É sábado, acordei tarde e com uma preguiça incapacitante. O máximo que consegui fazer até à hora de almoço, depois de ter decidido que uma ida hoje ao ginásio foi a pior decisão que tomei ontem antes de me deitar e ter abortado o plano, foi pôr a máquina de lavar roupa a trabalhar. Roupa essa que ainda está à espera de ser estendida. Tal como a roupa está por entender, também o chão está por aspirar e a loiça de ontem por lavar. Já sentiste algo semelhante antes? Já? Então digo-te: Não! A Telepizza não é uma linha de apoio e aviares uma pizza média sozinha não te vai pôr a mexer! Porque rebolar como um hipopótamo a deitar pizza pelos olhos não é mexer! É só isso, rebolar! Como um hipopótamo. Gordo. E com uma overdose de pizza.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Do outro lado do Tejo, a pessoa mais incoerente do mundo (a seguir a mim)

Que é o senhor meu pai, claro está.

Nas  semanas em que não apareço: "Tu não queres saber da gente", "Tu nunca cá vens, não tens saudades nossas", "Vieste a semana passada, agora só apareces daqui a 3 meses, não é?", e outras lamechices do mesmo nível.

Ontem fui lá a casa: "Mas tu ficas um bocadinho calada ou não? Não me deixas ouvir o Benfica, não me deixas ouvir as notícias, não me deixas ouvir a Fatinha (tradução: Fatinha = Fátima Campos Ferreira, apesar de ter sido outra senhora a falar na televisão), 'tás só bla bla bla bla... chata!"

Resolução pré-Natal: eu vou dar o meu pai para adopção.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Relato de um dia de folga passado na loja do cidadão

7h00 - O despertador toca. Vou tomar banho sem abrir os olhos.
7h20 - Visto-me sem abrir os olhos.
7h43 - Apanho o metro na Praça de Espanha.
7h47 - Saio do metro nas Laranjeiras. Os olhos começam a abrir.
7h51 - Deparo-me com uma fila com mais de 100 pessoas à porta da loja do cidadão. Apercebo-me que esqueci-me de vestir o soutien.
8h30 - Abrem as portas da loja do cidadão. Acho que toda a gente está a perceber que não tenho soutien.
8h35 - A minha senha para o atendimento na Segurança Social é o 75. Vou tomar o pequeno almoço. O atendimento está na senha 3.
9h15 - Volto do pequeno almoço. O atendimento está no 9.
9h16 - Começo a olhar para as pessoas. Nunca vi tanta gente feia, gorda, mal arranjada e desdentada, dentro do mesmo sítio, em toda a minha vida.
9h21 - Puta da loucura. O atendimento já vai no 14.
9h35 - Aparece o único homem bonito que se encontra dentro do edifício. Fico derretida a olhar para ele. Ele retribui o olhar mas com ar desconfiado. Deve ter percebido que não tenho soutien.
10h11 - Pausa para cigarro.
10h17 - Volto a entrar. Há uma velha a dar goladas numa garrafa de sangria do Lidl no outro lado da sala.
10h18 - Fico apreensiva ao aperceber-me que reconheço uma garrafa de sangria do Lidl a 15 metros de distância.
10h53 - Chamam a senha 30. Tenho vontade de chorar.
11h29 - Um coxo e uma coxa passam várias vezes à minha frente. Se não estão a fazer uma corrida um contra o outro, então não percebo o que estão a fazer. Ele vai na frente e tem uma muleta. Tenho para mim que vai ser chamado ao controlo anti-doping.
11h44 - Tenho fome e vontade de cagar.
11h49 - Entra uma gorda, muito gorda, com umas leggings cinza e uns ténis rosa-choque. Parece uma foca com psoríase nos pés. Tenho medo dela.
12h18 - Senha número 52.
13h18 - Acho que as minhas mamas já não estão no sítio.
13h23 - As duas pessoas que estão ao meu lado olham para mim ao mesmo tempo. Não tendo sido as mamas que se esborracharam no chão, questiono-me sobre o motivo desse olhar em simultâneo. Não me lembro de ter produzido nenhum som orgânico intestinal, mas o estado de sofrimento é tanto que já não garanto nada.
14h48 - Chamam a senha número 75. Sento-me à frente da senhora do guichet número 1. Durante 5 segundos esqueci-me do que estava ali a fazer.
15h00 - Levanto-me. O atendimento, no total, durou 12 minutos.

Só me ocorre dizer: foda-se.