quinta-feira, 30 de maio de 2013

Como tornar o meu dia negro

Tenho uma amiga que adora felinos. Daquelas maluquinhas que vivem com seis gatos e decoram tudo com miaus. A doida até tem uma agenda que vai decorando com fotos de felinos, dos grandes aos pequenos. Não sei onde ela arranja tempo para estas mariquices. Nem sei porque ela acha que eu quero saber das mariquices dela. Nem sei porque hoje achou que eu queria ver as novas fotos que decoram a sua agenda pirosa. Nem sei porque raio ela foi logo mostrar-me a foto de uma pantera negra a comer uma gazela. Se não era uma gazela não sei, mas era um bichinho escanzelado, magrinho e de cor clara. Isto despoletou uma reacção de pavor na minha pessoa, desatei aos gritos e a transpirar e pedi-lhe para guardar aquilo. Ela ficou preocupada com a minha reacção e sugeriu que fossemos tomar um café, não fosse eu estar a precisar de desabafar sobre alguma coisa. Lá fui com ela, mas já decidida em não falar sobre nada. Até porque não tinha nada para falar. Nem percebo porque ela foi achar que eu não estava bem. Cheguei ao bar e mudei de assunto para os salgados. Disse que me apetecia uma empada. Uma empada de galinha, disse eu. Disse-lhe a ela e disse ao senhor do bar. Diz-me ele sorridente: "Hoje vai provar é uma destas". Esticou-me uma empada linda, que se revelou a melhor empada da minha vida. Perguntei eu de boca cheia: "O que é esta maravilha que está na minha boca?". Diz-me o senhor com ar paternal: "Empada de porco preto... nunca mais vai querer das outras, não é?". Desatei aos gritos e a transpirar. Aquela merda devia ter pimenta a mais. A minha sorte é que o dia de trabalho naquele sítio já tinha terminado e tinha a tarde ocupada no meu segundo trabalho, para onde me desloco a pé, a ouvir a minha música e a olhar para as pessoas sem pensar em nada. Pelo caminho vi três pretos com uns tubos gigantes a cavar buracos na estrada. Fiquei feliz por andar sempre com desodorizante na mala, porque desatei a transpirar como um cavalo. O sol hoje até estava quente. Tão quente que acho que me queimou de repente. Só não gritei porque tive medo que os três pretos viessem perguntar se eu precisava de ajuda. O resto da tarde serviu para recuperar a calma, vir para casa a pé por causa da greve do metro também serviu, chegar a casa e não ter vontade de cozinhar também serviu, deitar cereais numa tigela e cobri-los com leite também... Depois estava a achar adorável o tom castanho do chocapic a largar chocolate no branquinho do leite enquanto a rádio estava a tocar a "Untitled" do D'Angelo, mas não sei porquê aquilo fez-me transpirar e até acho que gritei um bocadinho. Deitei aquilo tudo fora e fiz umas torradas. A meio das torradas, que por acaso se queimaram, o meu telemóvel recebeu uma mensagem. O preto que já vos falei, acho eu, perguntava se queria beber café hoje. Disse-lhe que hoje tive um dia estranho e até já estou de pijama e meia molinha. Ele respondeu agora mesmo que se sente insultado com isso, porque para estar comigo nunca se sentirá mole. O quê? Porquê?! Logo hoje que eu nem pensei na pila dele!...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Snail, a fazer amigas desde 1978

Colega chega demasiado activa e faladora para aquilo que se pode considerar aceitável numa segunda feira antes das 10 da manhã. Acha que é boa ideia estabelecer contacto directo com o vulto que se encontra em estado semi-vegetativo em frente ao computador e de luz apagada.

- Credo, rapariga! Mas tu nunca vens com boa cara à segunda feira? 

- Deixa-me.

- Olha-me só para essas olheiras! Isso foi o quê? Sexo a mais ou sexo a menos?

- Ressaca.

- Mas tu não percebes que já não tens idade para essa vida? Devias pôr qualquer coisa na cara para disfarçar isso. (tira um frasquinho de dentro da mala e estica-o na direcção da múmia, sorridente)

- Base?

- Sim. Toma. Eu também não me sinto nos melhores dias, hoje... Não estou com boa cara, pois não?

- Não.

- Também devia pôr qualquer coisinha....

- Devias.

- Base?

- Botox.

domingo, 26 de maio de 2013

Ter respeito pelo outro é isto:

Deixar propositadamente o telemóvel no quarto, com o som desligado e com a porta fechada e ir dormir a sesta na sala, com a porta também fechada, para poder dizer ao fim da tarde que estava a dormir e não ouvi o telemóvel tocar, como forma de fugir a um passeio de domingo à tarde com o preto que me quer estilhaçar a rata, combinação essa sugerida por mim durante a noite de ontem via sms enquanto desfrutava de uma monumental bebedeira, da qual só tive conhecimento esta manhã através de um telefonema do próprio a dizer-me frases bonitas como "Então vai ser mesmo hoje que vais levar comigo, né?" ou "Estou a despachar-me e só me falta comer e estou a ligar para te dar o toque nesse sentido.", às quais apenas conseguia responder "Sim" e "Ok", apesar de na altura ainda não fazer ideia do que ele falava, enquanto tentava perceber se precisava de vomitar ou não, tendo mais tarde vomitado em jacto depois de ler o teor das mensagens trocadas. Inventar uma desculpa? Não gosto de mentir a ninguém.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Exercício

Normalmente levo marmita com o almoço para o trabalho. Ora, podia agora eu começar a expor argumentos sobre a crise, sobre os meus rígidos e saudáveis hábitos alimentares ou sobre os meus extraordinários dotes culinários, mas não. Venho só dizer que hoje não levei e que por causa disso fui comprar almoço no num dos cafés lá do hospital. Optei por uma alheira. E lá fui eu a cantarolar de saco na mão até à copa onde costumo almoçar com as minhas colegas. Ao ver-me colocar a comida no prato, uma delas comentou: "Alheira? Era a coisa mais parecida com uma pila que tinham para te vender?". Isto, meus caros, é sintomático de vários factores. Um deles, indubitável, é que eu sou uma pessoa com créditos confirmados em qualquer lado. O outro, mais questionável, uma vez que pode ter sido apenas um golpe de sorte, é a capacidade desta minha colega de analisar comportamentos e vontades. 

Vamos então analisar o que acabaram de ler. Eu disse que normalmente levo marmita e que hoje não levei. Tudo certo. Eu comprei uma alheira e esta foi comparada com uma pila. Mais ou menos certo. Eu nunca vi uma pila humana em forma de U. Eu, de facto, falo muito em pilas e ando aqui com umas ânsias a esse respeito desde ontem. Dois é maior que um, mas quando alguém refere 'vários factores', pode-se partir do princípio que vá apresentar um número considerável de argumentos e não apenas dois. Outra coisa, esta para os que lêem as coisas mesmo com atenção, seria notar a incoerência de alguém que diz ter 'rígidos e saudáveis hábitos alimentares' e duas linhas depois dizer que foi comprar uma alheira para o almoço. Os que despertaram a mente para este exercício acabaram de confirmar o número de linhas entre estas duas informações no parágrafo anterior. 

Estão a ver a ideia? É que hoje descobri (graças a uma mente iluminada) que não posso contar com vocês para nada. Isto que acabei de vos mostrar, é ler as coisas com atenção e fazer uma crítica construtiva! Isto vai muito para além do que vocês têm feito! Mas pronto, bonito, bonito é vir para aqui chamar-me taradona, maluca, obcecada e mandar-me (literalmente) ser fodida por um preto! Agora vão todos ao post de ontem ler aquilo com atenção e depois digam-me qualquer coisa. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A cabeça das mulheres, uma nova visão dos factos

As mulheres sãos seres demasiado complexos. Ou melhor, os homens dizem que as mulher são seres demasiado complexos. Ora isto, na minha opinião, foi um mito urbano lançado nas ruas pelas próprias. A realidade é que as mulheres têm um défice de atenção e não conseguem ficar focadas muito tempo no mesmo pensamento. Daí terem muito espaço livre para pensarem em merda. A inveja, outra característica apurada nas mulheres, fez o resto. O que elas gostavam mesmo era de viver felizes, com mais de 90% dos pensamentos diários virados para o sexo. Os homens não conseguem pensar se as mulheres são complexas ou não, eles só pensam em sexo. E elas invejam-nos. Claramente, acabei de explicar que eu não sou obcecada por pilas, eu faço é um esforço desumano com exercícios de concentração diários para contrariar as minhas limitações impostas pela genética, e devo dizer que muitas das vezes a coisa já me vai saindo com alguma facilidade. Pois atentem nisto: hoje dei por mim a pensar nos três míticos objectivos da vida de qualquer ser humano: ler um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Os dois primeiros já fiz, ter filhos não me parece, "fazer" filhos já é uma coisa mais plausível, mas isso também já estou farta de fazer, tenho é que idealizar a foda épica da minha vida, uma coisa assim em grande... e plim: pinar com um preto. É isso! Eu não posso morrer sem pinar com um preto. Estão aqui a ver a força de vontade? Como eu consigo pensar em pilas, e das grandes, em menos de 5 segundos? Tenho orgulho em mim própria. Pois que estava eu perdida nestas coisas e de sorriso pateta na cara, quando recebo uma mensagem. Preto amigo com rasto perdido há mais de 10 anos e reencontrado há uns dias por acaso. Números de telemóvel mantêm-se. Mensagens são trocadas. Última dizia: "Gostei mesmo muito de te ver. Queres combinar um copo ou assim um dia destes?"

Ou assim? O que é ou assim? Amendoins? (Não, Snail!!! Foca-te, filha! Estás a dispersar!)

Sexo, seu bandido, tu queres o meu sexo! Tu e a tua pila preta. (Reparem como voltei num ápice aos pensamentos simples e pouco confusos.) 

A tua pila grande! Muito grande! Muito muito grande! Enoooooorme! (Boa miúda! Cada vez mais focada!) 

Pila gigante no meu pipi pequenino! Tão bom! Rebentar com o meu pipi fofinho!... Oh diabo! Será que o meu seguro de saúde cobre reconstrução estética da vulva? E fisioterapia para voltar a andar de pernas juntas? Perfurações traumáticas do diafragma? Prolapsos uterinos? Sai daqui, telemóvel!!! Estás de conluio com o preto assassino de ratas!!! (Game over)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cão!

Os homens são cães. Por isso é que gosto deles novinhos. Os velhos babam-se e ficam senis. As outras mulheres costumam achar estranha esta minha faceta. Dizem até que a minha teoria sobre o envelhecimento masculino é injusta e descabida. Lançam logo uma série de argumentos sobre o chame do homem mais velho. Blá blá e os cabelos grisalhos, blá blá e a maturidade, blá blá e a conversa intelectual e envolvente. Pois que a minha teoria assenta neste mesmos pressupostos, mas analisados à luz de outra doutrina. Minhas caras, digo-lhes sempre, blá blá são velhos blá blá têm é falta de tesão blá blá cão que muito ladra pouco fode. Eu cá gosto é do vigor da juventude! Horas e horas de brincadeira na relva, salta para cima, rebola para o lado, cai e levanta logo outra vez. Isto sim, dá-me alegria. Falar sobre a conjectura sócio-económica internacional ao sábado à noite, já não. Isso só me dá sono e vontade de morrer. Sei disto porque já estabeleci contacto esporádico com três ou quatro canídeos da geração anterior à minha. Apenas e só porque gosto de ser uma pessoa justa e com o intuito único de poder falar mal com conhecimento de causa. A vida não pára, é certo, e eu já não vou para nova, como diz o meu pai quando se lembra que tem uma filha solteirona. Mas, apesar de ser uma pessoa de convicções fortes, também sou uma pessoal com uma maleabilidade variável. Como tal, os anos vão passando, mas a minha faixa etária de eleição para as salutares brincadeiras na relva mantém-se no intervalo de 5 anos posteriores ao meu nascimento. Fácil será então o cálculo: senhores com 60 anos, ainda me faltam cerca de 30 para começar a achar-vos graça. Mas estão são cães velhos. Senis. E babões. Ontem estive com um desses, em contexto profissional, claro. Acho que a bata branca a deixar adivinhar uns seios carnudos o deixou encadeado. Disse, assim que entrou, a olhar para mim: "Olha ela! Está boa, nem vou perguntar.". Fiquei com medo, mas tentei ser simpática na mesma: "Olá... Acho que me lembro de si...". Diz-me ele: "Também eu me lembro das suas mãos a passarem-me pelo pêlo.", enquanto esfregava o seu próprio peito despido e olhava para o meu tapado até ao pescoço. Agora que estava a pensar nisso, arrepiei-me três vezes e depois acrescentei um novo tópico à minha teoria. Os homens velhos são como os cães que correm atrás dos carros. Deixo-vos aqui, em tom de homenagem, a todos vocês, velhos babosos que se cruzam no meu caminho, uma mensagem ternurenta com uma festinha carinhosa entre as orelhas: "Oh bebé... escusas de correr que só te vais cansar. Não vais conseguir apanhar isto, 'tá?"

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Boatos e outras conversas

Comecei o dia com uma boa acção: passei pela tasca da rua para entregar umas garrafas de minis que a preta foi buscar na 6a à noite, para beber com uma amiga nossa, já que ia viajar para o seu país africano de origem na manhã seguinte e estava muito nervosa. Eu não me despedi, porque as despedidas mexem comigo e fico muito triste e depois choro e borro a maquilhagem toda e fico deprimida e sem dormir durante três dias, mas principalmente porque fui a um concerto nessa noite. Quando voltei a casa no dia seguinte (sim... concerto... noite.... casa dia seguinte... oh yeah baby!!!), tinha um fantástico passatempo elaborado por ela, certamente durante o auge da sua bebedeira de despedida, composto por diversos post-its espalhados pela casa com recadinhos como 'Não te esqueças de levantar a minha encomenda dia X, por favor', 'Vai vendo o correio, por favor' ou 'Entrega estas 10 garrafas de minis ao velho da tasca na 2a feira de manhã, por favor'. E hoje  lá comecei a epopeia dos favores à preta:
- Era para entregar estas garrafas que a minha colega veio buscar na 6a feira.
- Colega... pois.
- Sim, aquela pretinha...
- Eu sei quem é... colega... pois....
- Estão aqui as garrafas...
- Ela veio aqui com uma loira...
- É uma amiga...
- Amiga... pois...
Saí com um nó no estômago. Pelo canto do olho ainda vi a mulher do dono da tasca a cochichar com um dos clientes habituais de bagaço matinal na mão. É impressão minha ou dentro daquele estabelecimento eu sou conhecida como fufa? Fufa que anda com a preta? Fufa que a preta anda a encornar com a loira? E é impressão minha ou este tipo de boato é daqueles que percorre um bairro inteiro em menos de duas horas? E é impressão minha ou vocês estão todos de foguete na mão, já com o chão coberto de confetis, a abrir garrrafas de espumante e danadinhos para perguntar como foi a minha noite de 6a feira? 

sábado, 18 de maio de 2013

Desilusão com a vida é isto:

Uma amiga mandar-te isto como piadinha de fim de semana...


... e isto fazer-te lembrar que já houve um gajo que te comparou com um sapato lindo mas com o número errado para te explicar que 'não ia dar'.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Num registo um pouco mais sério que o habitual

Ela - Pagaste a luz?
Eu - Não.
Ela - Já ontem te perguntei isto e também disseste que não!
Eu - Então porque insistes?

Adoro quando as minhas respostas tortas são o reflexo das minhas inquietações.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Carta ao Pai Natal

Isto de escrever coisas, por mais descabidas que elas possam ser, tem por base todo um ritual. Acende cigarro, música do dia a passar, escreve título parvo e daí o resto escorrega. E o verbo escorregar não surge aqui por acaso. É que acabei de escrever o título, enganei-me e quase que seguia uma carta ao Pau Natal. Se bem que, apesar de estarmos longe do Natal, este texto estava já idealizado para falar sobre desejos, o que faz com que o engano seja ainda mais fisiológico. Isto tudo porque vinha do ginásio a penitenciar-me em silêncio. Estou neste momento a atravessar a fase dolorosa e tipicamente feminina, descrita cientificamente como 'Estado Depressivo Pós-Férias', marcada por uma forte carga psico-dramática de arrependimento por tudo o que se comeu e bebeu durante 7 dias. Ainda hoje de manhã, ao ver uma colega bastante roliça a enfardar uma bola de berlim, pensei nos 128 g que engordei durante as férias, que agora só me permito duas folhas de alface e um rabanete por refeição por causa disso e que aquele espectáculo matinal só me dá força para continuar. Ela reparou no meu olhar crítico e disse-me secamente 'Sim, eu sei, são minutos de prazer na boca e o resto da vida no meu rabo. Mas eu não resisto'. O dia passou, fui treinar e agora lá vinha eu, apreensiva a pensar nisto, com uma pita de odivelas a dar música para a carruagem toda do metro com o seu telemóvel roubado, quando começa a dar esta e... sim, Pharrell, se tu quiseres, pode ser mesmo assim como disse a gorda. Ah, aquele sábio cachalote com pernas! 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Uma realidade que não é só vossa

Hoje voltei ao trabalho. Qual não foi o meu espanto, ao talvez não, quando fui recebida com manifestações emocionadas e entusiastas de alegria. Abraços e beijos lambuzados. Creio que algumas delas até choraram um pouco. Gritavam ao desbarato, as tontas: "Conta-nos tudo!!! Ai que linda que estás morena!!! Bebeste muito??? Vomitaste na praia?? E gajos?! Fala-nos de pilas!!!" Oh diabo... Mas eu sou algum filme porno com pernas?! Pedi que se explicassem imediatamente. Fiquei então a saber que na minha ausência falou-se apenas de hemorróidas, cálculos renais e toques rectais durante a hora de almoço. Estavam deprimidas, coitadinhas. Aquela hora não tem tido metade da magia, lamentavam elas. Fiz a minha cara número 43, aquela que fazia quando dizia à minha mãe que tinha ido à catequese, quando na realidade tinha estado a fumar tabaco de mistura e a dar curtes atrás do pavilhão do ginásio, e disse-lhes que não tinha nada para contar, que só tinha estado na praia a beber sumos naturais e a apanhar sol. Acreditaram a custo. Mas logo houve uma que perguntou: "Então e homens lá em casa?" Ai a merda, ahn?? Então mas eu tenho cara de empresária do putedo em nome individual?? Pedi que se explicasse imediatamente. Disse-me a tonta que da última vez que se avariaram coisas aqui em casa, veio sempre um homem qualquer com conversas hilariantes. Lembrou-me do guineense que vinha arranjar os azulejos da casa de banho, que bateu à porta e perguntou "Posso entrar e batumar isso tudo agora?". Lembrou-me do canalizador que me explicou "Isto é só esfregar aqui o buraquinho com vaselina até isto tudo escorregar sem prender, mas olha que isto é vaselina industrial, não é da que tu conheces....". Lembrou-me do senhor que veio arranjar o frigorífico numa manhã de verão em que eu estava de ressaca e que me deu o número pessoal de telefone depois de eu ter justificado o cheiro esquisito que estava em casa com "Este cheiro é aqui do bacalhau... por estar molhado... desde ontem... o que está no alguidar... que o resto cheira tudo bem.". Disse-lhes então que o microondas avariou durante as minhas férias. Houve gritos de alegria. Uma começou a fazer chá e logo apareceram pacotes de bolachas em cima da mesa. Dezenas de olhos brilhavam expectantes. Disse-lhes que a preta tratou de pedir à mãe um microondas velho que ela tinha lá para casa para desenrascar. Houve suspiros de desilusão. Os olhares estavam dispersos, uns pregados no chão, outros perdidos no infinito. A chaleira já fervia, mas ninguém se chegava para acabar o chá. Disse-lhes que a preta não conseguiu levar o microondas da mãe sozinha porque era muito pesado e pediu a uns homens lá do bairro para levá-lo a nossa casa. A água quente começou a ser distribuída nas chávenas e houve brindes com chá. Alguém barrava doce de morango nas bolachas que distribuía pelas restantes colegas entre gargalhadas eufóricas. Alguém pediu silêncio e fez-me sinal para continuar. Disse-lhes que aconteceu tudo na minha ausência e que quando cheguei das férias já tinha a peça de museu na cozinha e o microondas morto no lixo. Chávenas foram atiradas ao chão. Murros foram dados na mesa. Murros foram dados na cara umas das outras. Pessoas saíram com facas de barrar doce e colheres de chá em punho e não voltaram. Outras choravam e soluçavam desoladas. A preta ainda não chegou a casa. Estou preocupada.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Purificação da alma

Já tinha lido vários folhetos informativos dos Jeovás sobre o chamamento. Normalmente não lhes dou muita conversa, mas fico sempre com os livrinhos, não vá a preta esquecer-se de renovar a biblioteca da casa de banho. E foi precisamente no jantar de aniversário da preta que senti que tinha de fazer algo diferente. O mega-homem novo que a freak trouxe para nos mostrar era de facto intrigante. Mais velho, com uma forma envolvente de falar, embebedou-nos a todos e deixou-nos falar entusiasmados sobre o nosso assunto favorito. Ria-se, o malandro. Levou-nos à exaustão e começou então a dissertar sobre a juventude de hoje e sobre o conceito, da sua autoria diz ele, da prostituição intelectual. Não me lembro da explicação que deu sobre a sua teoria. Na minha cabeça as coisas fluíram sozinhas. Estava na hora. Depois de caminhar a estrada da minha putificação, chegara o tempo de purificar a minha alma. Mas depois lembrei-me que Jesus tinha uma amiga que fez isso e ainda por cima a tipa vestia-se mal e eu não gosto desse tipo de misturas. Reflecti um pouco e lembrei-me desta: o que eu podia mesmo fazer era ser um Siddhartha dos tempos modernos. Então, mudei de planos, larguei tudo e fui para o Caribe. Chegada lá, deixei logo de parte o gin e o vinho e entreguei-me de coração aberto ao rum, com celebrações matinais e durante o resto do dia também. Falei com estrelas do mar, com palmeiras, com pretos de camisas às flores, e até com uma sanita depois de um banho de piscina em grupo durante a madrugada, todos em cuecas e debaixo de uma abençoada chuva tropical, do qual a minha digestão não gostou muito. Durante essa conversa mística com a sanita, reparei no seu pequeno ralo. Bem mais pequeno que os ralos das sanitas lusas. A da minha casa nunca entupiu com vomitado. Aquela entupiu. Embriagada, porém piedosa, salvei-a da asfixia antes de me deitar. Mas, no dia seguinte voltei a entupi-la, desta vez com material fecalóide. As lagostas eram mesmo grandes, pensei eu. Quatro visitas diárias ao buffet provoca hiperplasia do cagalhão, teorizei eu. Quem é bom para comer, também é bom para cagar e, se tiver tempo, para trabalhar também, lembrei-me eu. Respirei fundo, fiquei orgulhosa por não ter aumentado a intensidade do cheiro na mesma escala do aumento do tamanho do bicho e voltei a desentupi-la. E desentupi a do bar da praia. E desentupi a da discoteca. Fazia-o e olhava para mim, como se o meu espírito tivesse saído do meu corpo, ali empenhada em descarregar dezenas de vezes autoclismos até os meus detritos seguirem caminho. Cada vez mais morena, cada vez mais barriguda e com um futuro promissor no mundo da canalização caribenha. Mas depois acabei por perceber que o meu espírito estava sempre no mesmo sítio, que havia era muitos espelhos nas casas de banho e que eu é que estava sempre bêbeda e cada vez mais gorda. Lembrei-me com saudade de vomitar com estilo, magra e bonita, entre a porta do taxi e a porta de casa. Lembrei-me com nostalgia das vezes em que já íamos a sair de casa e de dizer suavemente, com uma falsa timidez, que tinha de ir a casa num instante só para fazer uma coisa, subir as escadas a suar e cagar como uma rainha um cagalhãozinho de princesa. Outrora, a pequena diva da minha rua. Agora, um pequeno buda das sanitas. Saber quando desistir também é uma virtude. Decidi voltar.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Momentos polaroid

A preta faz anos amanhã. A preta quer uma comemoração simples, disfarçada de petiscada, com o seu recatado e pacato grupo de amigos. Apenas cinco pessoas convidadas: a preta, a anã mamalhuda, a freak com pregos na boca, a loira burra, a girafa açoriana e a bicha histérica. A preta está triste porque faz 29 anos, passou a semana a correr todas as repartições de finanças da cidade só para armar confusão, diz que anda com falta de sexo e tudo é desculpa para fala em pilas. A anã mamalhuda vai apanhar um avião no dia seguinte e vai estar arrependida de apanhar uma bebedeira nessa noite ainda antes de começar a beber, não consegue dizer duas frases sem largar um palavrão, diz que anda com falta de sexo e por causa disso só fala em pilas. A girafa açoriana não sai de casa há 1 mês, gosta de ter conversas sérias e intelectuais, mas de momento diz que anda com falta de sexo e por causa disso só fala em pilas. A bicha histérica vai chegar atrasada porque antes do jantar vai a um casamento lésbico não sei onde, farta-se de pinar, mas mesmo que não pinasse só consegue falar em pilas. A loira burra não tem assunto e fala do que os outros estiverem a falar. A freak com pregos na boca, que tem andado desaparecida, limitou-se a responder ao convite com 'Vou levar um amigo especial, mega queca, mega corpo, alto partidaço... Por favor, sejam normais.'. Pelo sim pelo não, levo máquina fotográfica.