quarta-feira, 31 de julho de 2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Pensamento do dia.

Cuspir na sopa é feio. Ora analisemos esta questão a fundo. Esta atitude é feia até no sentido estético, no sentido de não ser agradável à vista por parte de quem presencia o acto e poderá inclusivamente provocar reacções adversas psicossomáticas como tonturas ou náusea. Por outro lado, ao analisarmos isto no âmbito das relações sociais e familiares, esta atitude também é feia, é desrespeitosa, envergonha familiares, amigos, colegas de trabalho e desconhecidos num raio de 10 metros. Para além disso, é nojento. Posto isto, se de repente um número considerável de pessoas, de idades, estratos sociais e beleza variáveis, começassem a cuspir na sopa, à vista de todos, na rua, em eventos sociais, no trabalho, em casa ou numa paragem de autocarro, isso faria com que cuspir na sopa fosse bonito? Não. Porque cuspir na sopa é feio. E isso era motivo para começarmos todos a cuspir na sopa? Não. Porque é feio. Feio.

Agora, que já expus o meu ponto de vista sobre a matéria, deixo-vos uma só palavra para vossa reflexão: alpercatas.

sábado, 13 de julho de 2013

Lambisgoia's open day

Não. Não vou deixar a porta de casa aberta e ficar escancarada à espera de visitantes. Vou para a rua. Já ontem fui. Copo de cerveja na mão. Cigarro na outra. Música. Goza com gordas. Goza com gays. Goza com feios. Goza com homens de calções cor de rosa. Goza com ingleses bêbados. Bate palmas à passagem das vítimas. Vê um anão. Grita e foge. Bebe mais cerveja. Mais música. Goza com toda a gente que passa. Comenta que esta música ainda é do tempo em que tinha pintelhos. Ninguém acha graça, mas ri sozinha na mesma durante cinco minutos. Vem para casa e tem sonhos eróticos com o Billie Joe. Hoje há mais e amanhã também. A quem a reconhecer ela promete tirar uma foto. É de aproveitar. Num qualquer passeio marítimo perto de si.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O dia em que deixei de beber café no trabalho

Tudo começou no dia em que chamei queijada a uma tarte. Do outro lado da caixa registadora, uma foca inchada com uma boca cheia de dentes podres e meia dúzia de cabelos oleosos, informava-me em tom altivo que as tartes são tartes e que se queira comer uma tarte que pedisse uma tarte. Após uma noite e meio dia de trabalho, fiquei meio atordoada com a resposta torcida da charroca mal fodida, pelo que pedi desculpa às tartes, queijadas e todas as coisas redondas do planeta pela ofensa e que era escusado a mocinha ficar aborrecida comigo por causa de uma equívoco tão pequeno. A foca careca, ainda sedenta de armar confusão, atira do outro lado da caixa que não são as batas brancas que dão inteligência às pessoas e que ela, mesmo sem bata, se sente no direito de ficar aborrecida com os erros parvos dos outros. Oi oi oi oi alto lá! Então mas esta pindérica acordou com vontade de me foder o juízo? Oh filha, o tamanho da tua peida também me parece errado e não é por causa disso que te vou falar dessa maneira, por isso dá-me mas é a merda da queijada ou da tarte ou lá que tu lhe quiseres chamar e não me moas mais a cabeça! Pronto. Isto era o que eu devia ter respondido. Mas ela é muito grande e, se eu a irritasse mais, ela começava a falar com mais força e o cheiro a cárie ainda vinha para o meu lado do balcão e depois a merda do bolo caía-me mal. E foi assim que comecei a ruminar um dos meus mais antigos ódios de estimação, estávamos no bonito ano de 2009. A partir daí foi o fortalecer de uma relação platónica, parca em palavras, mas cheia de emoções e sentimentos incontroláveis. Várias vezes fizemos o nosso jogo favorito: "são dois cafés - são 90 cêntimos - estica a nota de 20 - dá troco em moedas - provoca fila de 10 pessoas para conferir o troco - bufa que nem uma porca - sorri, conta moedas devagar, deixa cair duas ou três e volta a contar do início". Isto é bonito, senhores. Bonito também, é a ursa cair nisto vezes sem conta. E várias outras situações bonitas e amorosas como esta foram acontecendo ao longo destes anos, até que chegamos à semana passada. Lá fui eu ao café do costume e a morsa com bigodes e sem cabelo já não estava atrás da caixa, mas sim atrás do balcão a tirar cafés. Não aguentei e tive de lhe dar os parabéns: 'Então? Fomos despromovidas?'. Ela respondeu amorosa, quase em surdina: 'Olha, vai para o caralho'. Também em surdina, respondi: 'Não preciso, sabes? O caralho vem até mim... Mas tu é melhor ires, ou então és capaz de morrer sem conhecer nenhum...'. Não respondeu.  Eu já estava a terminar o meu café e preparava-se para sair vitoriosa. Estava quase a sair, quando ela rematou: 'Pensa duas vezes antes de voltares aqui para beber café ou para comer seja o que for. Eu agora toco no que tu comes...', enquanto fez o som estridente de quem puxa uma escarreta bem das entranhas da árvore brônquica. Nada mais há a dizer. A porca ganhou. E eu deixei de beber café no trabalho. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

A Ti que estás aí em cima e que nunca me deixas desamparada

O calor dá-me transtornos. Ontem fui petiscar com a preta durante a tarde e apanhei uma bebedeira sem querer. Fui apanhada de surpresa mas, apesar de não gostar de surpresas, até gostei. E hoje, tal como já esperava, trabalhei de ressaca. Disso já não gostei. E estava eu perdida e triste no meio de toda esta situação que eu não gosto quando me batem à porta do gabinete. Quatro homens estavam de pé do outro lado da porta. Um presidiário mulato, alto, cara de bandido, algemas, tatuagens, cheiro a sexo. Três guardas prisionais, altos, morenos, barba, ombros largos, cassetetes compridos, fedor a sexo. O mulato era o doente e não podia separar-se dos guardas. Eu achei que estava no céu. Disse para entrarem na sala. O mulato perguntou o eu queria que ele fizesse enquanto entrava. Os guardas entraram sem perguntar nada. Eu só disse 'peito destapado e deita de barriga para cima'. O mulato obedeceu. Os guardas não. Ora pois que fiquei desiludida. Com tanto aparato ainda fiquei na esperança que algum fã, admirador ou simples simpatizante tivesse tido a ideia brilhante de me surpreender no meu posto de trabalho com quatro stripers masculinos, pelo que estive vai não vai para tirar a bata e pedir-lhes que me apertassem as mamas com força e me arreassem com o cassetete nas nádegas. Mas não era nada disso. Rapidamente percebi que Deus estava de novo a mandar mensagens à sua rebelde favorita. Dois dias depois de ter despachado o preto de volta para a Pretolândia, terra dos ciumentos possessivos pseudo-libertinos, o Senhor manda-me a imagem desta espécie subjugada ao poder dos Deuses do Reino da minha líbido: barbas, ombros largos, peles morenas, maus feitios sexy, fardas. Vim para casa e pus música de brancos aos berros para não me ouvir a pensar, enquanto rabos masculinos e revestidos de fardas viris desfilavam na minha cabeça. Lembrei-me então, desse belo verão em que fiz a minha incursão pelas forças armadas. Um oficial do exército seguido de um oficial da marinha. Ainda tentei a força aérea, mas entretanto chegou o outono e a consequente época baixa de caça. Estava pois, triste e abatida, nostálgica e melancólica, de ressaca e a beber uma mini, quando um ex-estagiário que passou há uns meses lá pelo serviço mandou uma mensagem porque precisava de ajuda com um caso clínico. Coisa que podíamos fazer, sugestão do estagiário tesudo, durante uma imperial ou duas ao fim da tarde. Sorri ao lembrar-me dos seus ombros robustos dentro da bata, da sua barba escura sempre impecavelmente por fazer, da forma súbita como desapareceu e nunca mais ninguém ouviu falar dele. Sorri e perguntei que era feito dele para só agora estar a trabalhar no relatório de estágio. Disse-me, depois de me pedir para guardar segredo, que é comando e que esteve em missão. Os meus lábios humedeceram-se e ficaram entreabertos. A minha boca continuou a sorrir.