quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Do oculto

Sheila é a mulher dos sete ofícios. Cabeleireira, manicure, pedicure e estetiscista. Sendo brasileira, mamalhuda e sempre de mini-saia mesmo chovam sapos, suponho que os outros três ofícios sejam de cariz sexual. Mas, do meu ponto de vista, Sheila é a mulher do mistério. Sheila fala uma língua que eu não entendo. Anos e anos de telenovelas brasileiras e tudo o que aquela mulher diz parece que vem numa linguagem codificada que eu não consigo interpretar. Não consigo. Ou então ela anda sempre mocada. 
Um dia destes disse-me que Deus devia ter criado todas as mulheres com unhas vermelhas e blush na cara. Dia esse, em que vim para casa a perguntar-me se ela estaria farta do seu part-time no salão de cabeleireira, se estava com vontade de se dedicar em exclusivo à actividade das danças exóticas ou se afinal vai à missa todos os domingos mas trabalha como maquilhadora num bordel e o conflito interior que isso provoca começa a ser insuportável. Intriga-me, a Sheila. 
Também já me disse que está farta disto tudo em Portugal, que gostava de ir para Moçambique, casar-se com um preto e ter um filho castanho. Fiquei a pensar se o 'tudo' seriam todas as pilas do bairro incluindo as dos ciganos, se acha que já está na altura de fazer um upgrade pilométrico na sua vida ou se simplesmente gosta muito de chocolate. Perturba-me, a Sheila. 
Hoje, enquanto me arranjava o cabelo, perguntei-lhe se estava tudo bem. Ela disse que precisava de algo novo na vida, de um novo estímulo, de algo por descobrir. Respondi um "sim" apenas e decidi não perguntar ao que se referia, porque, de qualquer maneira, não ia perceber. Disse apenas "sim" e sorri. Ela sorriu também. Devolveu a pergunta, se estava tudo bem comigo. Respondi que está tudo bem, tirando uma pequena dor na anda esquerda que me anda a incomodar há uns dias. Sheila respirou fundo e apenas disse, num tom sereno "Ah minina, isso devi sê uma tendjinitji na virilha, sábi?... Temos qui fazê uins exércícios dji fortalecimento nessa zona, viu?". Hum... Sheila conhece um fisioterapeuta? Sheila gostava de ser fisioterapeuta? Sheila já sabe que sexo na minha vida nos últimos tempos népias e acha que isto são as virilhas e arredores a atrofiar? Sheila virou fufa e quer ajudar-me a fortalecer as imediações das minhas virilhas? Quando Sheila diz 'temos', está a referir-se exactamente a quantas pessoas? Tenho medo da Sheila.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

É bom que estejas a morrer, senão mato-te

Era uma vez uma menina muito linda, de longos cabelos pretos e com um sorriso contagiante. Certa noite de copos, um jovem marinheiro amigo de amigos da menina, acabou a noite a trocar copos de cerveja, conversa animada e risos inocentes com ela. Ditou o destino que os dois dividissem um taxi nessa noite, já que se dirigiam os dois para a mesma zona da cidade. A certa altura ela disse ao taxista para parar no próximo cruzamento, que era aí que vai ficar, ao que o marinheiro respondeu que gostava de ficar mais um pouco e continuar a conversa. Receosa de não controlar a sua libido patologicamente agressiva, a menina diz a medo que tem mesmo que ir dormir e sai a correr do taxi, com este ainda em andamento. As bebedeiras têm destas coisas, não se percebe se é o carro que ainda está a andar ou se é a rua que anda à roda, mas a memória da última vez que as vizinhas a apanharam a lambuzar-se com um jovem advogado à porta de casa ainda é recente e isso não é coisa que a bebedeira atenue. Não tendo trocado contactos com o marinheiro, este, intrigado com essa morena que gosta de dar mergulhos no asfalto, procurou através dos amigos comuns e conseguiu voltar a entrar em contacto com a sua princesa Diana Ross versão cara pálida. E durante as semanas seguintes houve mensagens, telefonemas, conversas pela noite dentro e um convite para um copo e quiçá mais copos ou outras cenas. Ela, não admitindo, estava entusiasmada, escolheu a roupa, o perfume, as botas, o casaco e as jóias. Dispôs tudo em cima da cama para avaliar a combinação. E ia tomar um refrescante banho, quando... "Adormeci no sofá... Levas a mal se me cortar hoje?". 
Tampa. 
A menina acabou de levar uma tampa.

Se levo a mal? Não... Desde que estejas a mentir em relação ao suposto cansaço após um dia de trabalho e na verdade tenhas sido atacado por uma matilha de cães vadios, que te arrancaram uma perna e agora estejas na urgência de um hospital qualquer, com uma algália enfiada na pila sem anestesia, enquanto os funcionários de um matadouro da margem sul vêm a caminho de Lisboa para abater os cães, dissecarem os seus estômagos, encontrarem os pedaços da tua perna e depois fazerem a reconstrução do membro tipo puzzle com super cola três, eu não levo nada a mal... Disse perna? Ah, enganei-me. Tomates. Queria dizer tomates.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Serei eu a única pessoa... #5

... a quem o anúncio publicitário onde o senhor diz 'mini-raquelete' 68 vezes desperta instintos homicidas?

Vá, só me dá vontade de aviar uma galheta na pessoa que estiver mais perto. Que por sorte é a preta. Se lhe fizer um olho negro, quase ninguém vai dar por nada, né?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Recado à burguesia

É, sou uma labrega da terrinha que gosta de salada de orelha de porco. É, já comi túbaros. É, e gostei, vê tu bem! É, túbaros são gónadas de animais. É porque o caviar não, queres ver? É, gosto de pescoços e de patinhas de galinha. É, gosto de comer partes nojentas de animais. É porque as ostras nhanhosas que comes vivas, que mais parecem um bocado de meita com guelras, são mais limpinhas que as minhas patas de galinha lavadinhas e com as unhas cortadas, queres ver? O quê? As patas das galinhas andam na merda? É porque nos cus onde andaram as pilas que metes na boca nascem sabonetes, queres ver? Parvalhona.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Saudades do Verão

Daquelas noites quentes em que sais e bebes e danças e bebes e cais no chão e bebes mais e chegas a casa com os pés todos cagados e pisados e com queimaduras de cigarros e com o verniz das unhas todo lascado e enquanto decides se lavas os pés antes de ir para cama ou se resolves isso quando acordares ainda tentas perceber se foste violada ou se passaste a pé por um curral de porcos a caminho de casa... Ah... saudades do verão...


... porque os pés lavam-se e as unhas voltam a ficar bonitas... As botas de camurça bege, não.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Injustiça!

Mulher solteira toma banho, gasta perfume, escolhe cuidadosamente a roupa, arranja o cabelo e maquilha-se antes de sair de casa. Nunca se sabe quando pode aparecer um homem de sonho. Se as casadas também o fazem é porque são umas porcas. Não têm nada que interferir neste processo de caça. 
Portanto, ontem fui fazer noite, não sem antes ter tido todos os cuidados com a apresentação. Porquê? Não faço ideia. Primeiro, porque chego lá e visto uma bata por cima disto tudo. Depois, porque acontecem fenómenos químicos naquele sítio. Começou com a senhora da patareca mal lavada, depois foi o velhinho da fralda cagada, depois foi o monhé vomitado e depois foi o bêbado que queria que lhe pusessem os dedos no sítio porque tinha 'andado à porrada na tasca' e respingava sangue por todo o lado. E em menos de uma hora, todos estes entraram, saíram e deixaram na minha sala cheiros intensos e fluídos orgânicos. E claro, só depois do quadro do caos se compor, é que apareceu o polícia sexy com algemas e um cacetete comprido. Claro que, quando ele entrou, eu estava sozinha rodeada de cheiro a cona velha mijada, merda, caril azedo e vomitado e rodeada por nódoas no chão num degradé entre o vermelho-sangue, o amarelo-diarreia e o verde-bilis. Claro que eu o cumprimentei com um "boa noite senhor agente'" meloso e ele respondeu com um "b'noite" seco e a controlar o impulso do vómito. 
Hoje fui à loja do cidadão tratar do passaporte. Pensava eu que ia passar mais uma tarde a gozar com pessoas feias e mal vestidas. Ainda assim, antes de sair de casa, tive todos os cuidados com a apresentação. Porquê? Não faço ideia. Já não bastava as olheiras mal disfarçadas por ter trabalhado durante a noite, como ainda fiquei com mau humor e com vontade de enfiar todas as crianças de colo e as putas das senhas de prioridade dentro um saco e atirá-lo ao rio. Também ponderei enfiar dentro do saco a avó que dizia ao netinho que não tinha mais de cinco anos "tens que sorrir para a foto amorzinho, senão ficas com cara de assassino e violador". De início, não percebi muito bem de que planeta ela vinha, mas depois apareceu o pai da criança, que olhava para todas as mulheres como se elas estivessem sem roupa e percebi os receios da pobre senhora. Apesar dos contratempos e de todas estas aflições, ainda tive tempo de retocar a maquilhagem e compor o cabelo. Entretanto, as minhas aflições acalmaram quando chegou a minha vez de ser atendida. Claro que, no meio disto tudo, apareceu um homem lindo, morenão e com barba por fazer, no momento em que eu tirava a foto com essa regra estúpida das orelhas de fora. Tentem imaginar que têm 50 Kg de cabelo preto encaracolado e terem que o prender por trás das orelhas de modo a que estas fiquem visíveis. Claro que me distraí quando o Deus da loja do cidadão passava. Claro que a máquina da foto disparou nessa altura. Claro que a senhora gritou do outro lado do balcão "Eu disse para não se mexer nem rir". Claro que isso chamou a atenção do homem lindo. Claro que ele olhou na minha direcção a tempo de ver a minha foto no monitor com cara de predadora sexual, sorriso de tarada e orelhas de abano a olhar para a sua direcção. Claro que nada disto está certo!

Só para avisar que vem aí história macabra da boa

Fiz turno de noite e agora vou um bocadinho até à loja do cidadão. A reportagem completa, hoje, à hora do jornal da noite.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mundos desconhecidos

Hoje, uma mulher minha conhecida decidiu conversar comigo sobre a sua vida íntima, sexo sem fins reprodutivos, sem o recurso a métodos contraceptivos e quais as estratégias que está a pôr em prática. Ela é testemunha de Jeová. O marido também. Tive a sensação que estava a ouvir uma dissertação sobre os hábitos sexuais de uma nova espécie endémica de pinguins da Gronelândia. O quê? Não há pinguins na Gronelândia? Pois.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Cuidado, mulheres!

A Alta Autoridade para a Segurança das Pachachas Sem Macho Residente (AASPSMR) decretou esta tarde o alerta vermelho, o máximo numa escala de quatro (verde, amarelo, laranja e vermelho), para a presença de um predador de grande porte que anda a monte pela capital lusa. Trata-se de um indivíduo de origem angolana, 23 anos, com uma cirurgia cardíaca recente, pele chocolate de leite e com um apetite sexual voraz, com vítimas-alvo do sexo feminino, entre os 30 e os 35 anos, de baixa estatura e elevado perímetro peitoral. Foi visto pela última vez esta tarde, em tronco nu e exibindo uns bicípites bem torneados, tendo a vítima escapado ilesa ao ataque. Reproduzimos aqui o ataque, para prevenir outras mulheres incautas:

- Trabalhas aqui há pouco tempo, né?
- Já há uns aninhos...
- Então começaste novinha. É giro, o teu trabalho, yah! Gostas?
- Do meu trabalho? Sim, claro.
- És casada?
- Não. (vítima cora sem motivo)
- Mas tens alguém na tua vida, né?
- Eeeerrrr.... (vítima cora ainda mais e não consegue responder)
- Tou a ver que não.
- Eeeerrrr... (vítima continua corada e teme estar a ter um AVC)
- Vais tendo, né? Yah, tou a ver.
- Eeeerrrr... (vítima acha que foi drogada ao almoço)
- Onde costumas sair à noite? Vais ao Docks?
- Eeeerrrr... (vítima pensa "Docks??!!! Ninguém vai ao Docks, caralho!!!" mas continua a vocalizar como se fosse um surdo-mudo com Alzheimer)
- Vá, isso é informação a mais, eu sei yah. Mas dá-me o teu mail para eu te adicionar no facebook e combinarmos uma saída aí.
- Eeeeerrr.... (vítima cora, transpira e pede para aparecer uma bala perdida a voar em direcção à sua testa)
- Não queres dar, mas eu vou saber. Já fiz este exame antes, o teu nome vem no relatório, é só procurar-te. Para além de que já sei onde trabalhas, se te quiser ver ao vivo outra vez, yah.
- Eeeerrr.... (vítima levanta-se, sai da sala e pede a outra pessoa para ajudar o individuo a sair)

A vítima recebeu apoio psicológico, no gabinete de apoio à vítima da AASPSMR, após apresentar sinais severos de trauma, com ideações homicidas direccionadas à senhora da perfumaria que lhe vendeu o creme anti-rugas e discurso incoerente com frases dispersas: "pilas pretas gigantes a cuspirem-me em cima", "deve ser alguma coisa no meu cheiro... falta de foda deita cheiro?" e "não sei se ele falava comigo ou com as minhas mamas, mas olhava para elas como se elas lhe respondessem e eu não" (sic).

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Às minha futuras visitas - um internamento na psiquiatria nunca esteve tão perto

Num mundo ideial, uma pessoa à noite dorme e não trabalha. Mas mesmo que trabalhe, acaba-se o turno às 8h da manhã, vai-se ver o saldo bancário como se tinha planeado e vai-se para casa dormir (depois de chorar um bocadinho) em vez de ter de trabalhar até às 16h. Mas mesmo que se trabalhe até às 16h, tem-se mais cinco colegas que podem aliviar a carga de trabalho e ajudar a ter um dia mais calmo. Mas mesmo que duas dessas colegas tenham pedido para chegar mais tarde, uma delas tenha ficado em casa com a filha doente e os outros dois estejam encurralados na IC19 porque um poste eléctrico caiu na estrada, pode-se sempre pedir à chefe para sair mais cedo. Mas mesmo que a chefe seja uma cabra com as letras todas maiúsculas e não deixe ir cedo para casa uma pessoa que esteve a trabalhar uma noite inteira e que leva logo a seguir com o trabalho de 6 pessoas sem ter tempo sequer de ir lavar a cara, fazer um xixi, ir ao multibanco ou sentar-se um bocadinho para recuperar forças, há sempre aquela fé que tudo tem um retorno e as restantes pessoas reconhecem o seu valor e espírito de sacrifício. Mas, na realidade, vive-se o pior dia de trabalho de toda a carreira, ninguém reconhece ou agradece porra nenhuma e a primeira colega que chega para supostamente aliviar o sofrimento, em vez de dizer "Boa miúda! Descansa um bocadinho agora, vá...?", diz "Credo mulher, estás despenteada.". Despenteada? Puta que os pariu a todos. 

Às minha futuras visitas

Não sei se é de estar a trabalhar a esta hora (vide hora de publicação do post, por favor), mas sinto uma coisa má a crescer aqui dentro. "Será uma indisposição? Será uma cólica? Gases não são certamente e a diarreia não bate assim...", pensava eu. Só percebi que podia ser um ataque de mau feitio, porque fui fumar um cigarro à rua e no regresso tive vontade de agarrar um pau e desfazer a cabeça da velha que quase me ia atropelando de cadeira de rodas. Porra, pode ser entrevada, mas não é cega! Parvalhona da velha! A última vez que senti isto assim foi há 3 anos, quando não olhei bem para simulação do IRS e fiquei uns meses a achar que ia receber 500€, mas no fim tinha era de pagar e quando dei por mim, tinha menos 1000€ do que aquilo que achava que ia ter no fim desse mês de setembro. Quem pagou a factura da minha ira foi a cigana que teve o azar de tentar passar à minha frente na fila do autocarro e acabou a levar uma bofa na cara. E eu tive a sorte de existirem ciganos modernos, desses que não matam pessoas. Estava aqui a lembrar-me disso e então fez-se luz...é que quando sair daqui, vou ver o meu saldo bancário depois de receber o meu primeiro ordenado com o efeito "IRS 17,5%". Juro que tive vontade de me levantar e sair a correr com a cadeira na mão e rebentar com a cabeça da primeira pessoa que encontrasse. Até podia ser a velha da cadeira de rodas que não deve dar muita luta e isto não são horas de andar a brincar à apanhada com ninguém. Mas fiz só uma carinha triste e suspirei. Pode ser que não seja assim tão mau...
Portanto, meus caros, isto é assim: se amanhã até às 12h eu não der notícias, é porque estou internada na psiquiatria por ter tido um surto psicótico e ter partido uma caixa multibanco à cabeça e espancado a pessoa que estava atrás de mim até ela cuspir dentes. Digo 12h, porque assim dou-vos tempo de arranjarem uma marmita com arroz de pato ou bacalhau espiritual para me trazerem durante a hora da visita, que é às 16h, já que eu não gosto da comida do hospital. Sim, vocês vêm visitar-me. Ah, e tabaco. Muito tabaco. Álcool não devem deixar, mas ouvi dizer que o lexotan dá mocas porreiras. E preservativos, se não for pedir muito. Às vezes pode haver um ninfomaníaco giro, moreno, com barba e ar de bandido internado. Meus filhos, estamos em crise mas duas bocas com fome no mesmo corpo é tortura bárbara e desumana e, que eu saiba, não sou pessoa de fazer mal a ninguém para merecer isso.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Serei eu a única pessoa... #4

... que ao acordar cedo num domingo de chuva pensa "Fogo pá... logo hoje que eu queria dar uma corridinha matinal é que está a chover.", mas não se lembra da última vez que "Ai que bom, que manhã linda e cheia de sol... vou começar o dia com uma boa corrida matinal!" lhe passou pela cabeça?

sábado, 19 de janeiro de 2013

Castigos divinos

Gosto de cegos. Até certa altura da minha vida eram-me indiferentes e limitava-me a afastar-me das suas bengalitas e seguir caminho. Mas depois aconteceu o episódio do cego que todos os dias apanhava o mesmo metro que eu de manhã, na companhia do seu cão guia. Saíam sempre na mesma estação que eu, ele e o cão guia. Já tinha lido numa revista sobre curiosidades, daquelas onde se fala sobre a diferente actividade cerebral durante o orgasmo em homens e mulheres, sobre as propriedades nutritivas do gafanhoto, sobre como o mundo vai acabar daqui a não sei quantos milhões de anos e sobre muitos outros assuntos de extrema importância para a vida quotidiana, que não se deve interagir com cães-guia de cegos. E foi por isso que, no dia em que o cego não saía do metro na mesma estação que eu como fazia todos os dias, me dirigi directamente a ele para perguntar se precisava de ajuda. O cego começou a andar com o seu cão, irado e ofendido com a pergunta e a gritar que lá porque era cego não precisava da caridade de ninguém, que podia fazer fazer a vida dele sozinho, que o cão lhe chegava bem e por aí fora. Como ele não me conseguia ver, limitei-me a afastar-me devagar, para as outras pessoas não perceberem que aquilo era comigo e fui para o outro lado da estação. No meio da multidão continuei a ouvi-lo gritar "Eu consigo tomar conta de mim! Está a ouvir-me?? Ouviu bem??" até o próximo metro chegar e abafar os gritos do cego com o seu abençoado barulho. Nesse dia passei a odiar cegos. Mas uns anos mais tarde, ia também de metro com a minha irmã e presenciámos um milagre. Um choque frontal entre dois cegos que, obviamente, não se viram um ao outro, com direito a bengalinhas pelo ar e um deles a pedir desculpa a uma parede porque já não sabia para que lado estava o outro cego. Rimos as duas até chorar e quase sufocar. Ainda hoje rimos até chorar quando nos lembramos desta história. Nesse dia passei a simpatizar com cegos. Simpatia essa que, este ano, foi elevada a adoração, depois de ter visto uns vídeos sobre competições de futebol para cegos. A sério, das coisas mais intrigantes que já vi: uma bola e uns gajos desorientados a dar chutos no ar. Hilariante. Tive dores abdominais de tanto rir durante três dias. Agora estava ali a arrumar uns pratos na cozinha. Abri a porta do armário, arrumei uns quantos, fui buscar mais uns, não vi que tinha deixado a porta do armário aberta e lá vai cornada. Acredito que seria hilariante para alguém que estivesse na cozinha ter-me visto dar com os cornos na porta e cair para trás agarrada à cabeça. Mas não estava mais ninguém na cozinha. Podem vocês dizer que isto é castigo divino por ser má pessoa e pelo que disse aqui no post de ontem, mas duvido que assim seja. É que hoje passei o dia inteiro cheia de gases. Peidos mesmo. Muitos peidos. Isto sim, cheira-me a castigo divino. À minha colega de casa apenas lhe cheirou mal.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sinas e outras maldições

Hoje tenho um plano diabólico. 
Sempre me disseram que inventar desculpas para 'descombinar' coisas, para além de ser feio, pode ter o efeito karma e a mentira virar-se contra nós. A verdade, é que eu sou uma prova mais que real dos poderes desta maldição e desde diarreias explosivas, perder as chaves dentro de casa com a porta trancada ou entalar um dedo numa lata de ananás, na porta de um carro ou na boca de um cão, já me aconteceu de tudo. O que, vendo as coisas por outro lado, até não foi mau de todo, porque tinha como provar que a minha mentira era, afinal, verdadeira. 
Outra coisa também importante no meu plano, prende-se com aquela máxima de ter cuidado com o que se pede, porque isso pode mesmo acontecer. Uma vez pedi a um ex-qualquer-coisa-já-não-me-lembro um pinanço à bruta até me partir toda. No dia seguinte tive de tomar voltaren em dose cavalar só para conseguir ir trabalhar.
Importante também, é a fé. Deus ouve-nos e está em todo o lado. 

O plano. Já de seguida:

Hoje não vou sair à noite porque vou estar a pinar até amanhã de manhã. Caralhos me fodam se estou a mentir. Ámen.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Da coerência

Sabem aquelas pessoas que conseguem quase sempre ter uma resposta parva para quase tudo? Sou eu. Coisas sem nexo, é certo, mas sempre coerente, uma vez que digo sempre merda. Algumas dessas respostas são recordadas pelo meu grupo de amigos como verdadeiros episódios épicos das nossas vidas. Lembram-se do gajo muito grande e muito feio que certa noite de copos andava a rondar uma amiga minha, ela a dar para trás, ele a insistir e ela a dar para trás, ele a tentar através de outras pessoas do grupo, o grupo todo a dar para trás, até que vem ter comigo e diz que a minha amiga devia ter muito mau feitio para não falar cordialmente com as pessoas... sorri... e disse que ele estava enganado... mas para se afastar de mim porque cheirava mal da boca. Passei o resto da noite a fugir dele como medo de levar porrada. Lembram-se também da noite de inverno em que voltávamos dos copos e íamos ficar em minha casa a descansar um pouco e eu vinha pela rua um pouco mais à frente do resto do grupo, fazendo do chapéu de chuva uma bengala porque a taxa de alcoolemia intensifica o vento e eu tinha medo de cair. É nesta altura que passa uma carrinha frigorífica de transporte de carne, conduzida por um brasileiro gordo, que abranda e faz-me o convite de me dar boleia. Até casa dele. As pessoas que me seguiam ouviram-me dizer 'se conseguires conduzir com o meu chapéu de chuva enfiado pelo cu acima, podes levar-me onde quiseres'. Depois temi que ele aceitasse a minha proposta e desatei a correr. Lá no trabalho o mito também já existe, desde o episódio em que uma senhora da limpeza que é coxa foi apanhada pelas câmaras de segurança a levar na bilha com o auxiliar marreco. Um dos seguranças quis mostrar-me o vídeo, como se tivesse em mãos a obra prima da arte da pornografia. Ao que eu declinei e disse disse que faço vídeos caseiros muito melhores. Acho que ele não se esqueceu dessa resposta porque ainda hoje pisca-me o olho. É ele a piscar-me o olho e eu a acelerar o passo até saber que ele já me perdeu de vista. Ontem uma senhora muito gorda, terrivelmente mal cheirosa e definitivamente cigana, que andava a passo de caracol amparada por duas bengalas, pediu-me ajuda. Perguntei-lhe o que precisava. Disse que as collants estavam a escorregar-lhe pelas pernas abaixo e se eu podia puxá-las para cima. Fiquei desarmada. Não consegui dizer nada. Arrepiei-me. Puxei-lhe as meias para cima. Tive vontade de vomitar. Ela agradeceu com mau hálito e cuspiu-me a cara toda. E eu sem conseguir dizer nada. Mas sei que sou uma mulher coerente. A seguir só me lembro de estar a correr.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A sabedoria dos 80 anos

"As pessoas esperam demasiado dos outros, por isso são infelizes. As pessoas só serão realmente felizes quando se capacitarem de que já não há mulheres virgens nem homens santos. Eu sei que você sabe do que estou a falar."

Vou mudar de perfume. Hoje vim para casa desconfiada que cheiro a pecado.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Porque eu não sirvo para confidente

Eu tenho um trabalho peculiar. Tão peculiar, que trabalho às escuras e tenho de dizer coisas esquisitas às pessoas. Tão esquisitas como 'Quando eu disser, engole!', 'Agora, de barriga para cima,' ou 'Esses dentes são seus ou consegue tirá-los?'. Hoje perguntei a uma senhora se os dentes eram dela. Ela disse-me 'Sim, são meus... quer dizer, alguns não são de nascença, mas fui eu que comprei a prótese...'. Fiquei a achar que a senhora se drogava. Deve ser uma droga parecida com a que a minha mãe toma, porque na última vez que lhe pedi para me marcar uma consulta no dentista lá da terrinha, disse-lhe que queria consulta e limpeza. Ela perguntou-me ao que queria marcar limpeza. Eu respondi-lhe, sarcasticamente, que queria ver se o dentista tinha vagar para vir aqui limpar-me os canos a casa porque estavam entupidos. E ela ficou calada porque não percebeu a piada. Depois ficou zangada e disse que eu devo andar metida nas drogas para fazer esse tipo de piadas para a 'mãezinha'. Fraco sentido de humor, o da minha mãe... Por falar em conversas parvas, hoje um amigo meu, a meio de uma conversa sobre folhados de carne e a consequente halitose, também me disse uma coisa esquisita. Perguntou-me se eu alguma vez já tinha ficado tão louca de desejo por uma pessoa, ao ponto de não me importar com detalhes como a falta de cuidados com a depilação íntima, com um possível aparelho nos dentes ou de acordar a vizinhança com o barulho da mobília a partir-se. Fiquei calada e não percebi se vai colocar um aparelho nos dentes e quer-me saltar em cima cheio de pintelhos, se acha que eu não me depilo e vai tratar disso com ferros na boca, se anda a rondar a minha casa ou se simplesmente não gosta da minha mobília. Fiquei calada e não percebi se ele anda a dar na droga ou se é simplesmente tarado. Fiquei calada porque simplesmente não percebi a piada. Ao ver a minha cara, esclareceu-me que estava a falar dele e não de mim, mas que precisava desabafar e saber a minha opinião. Hoje vou ter pesadelos com o meu amigo a comer uma gaja pintelhuda... e com aparelho nos dentes... e carpinteira... carpinteirO... Oh my God, o meu amigo é gay!

domingo, 13 de janeiro de 2013

Morte às sonsas!

Acabei de libertar um gás e lembrei-me das sonsas. Não é que as associe a qualquer tipo de cheiro nauseabundo. Nada disso. Até tenho uma grande admiração pelas sonsas. Aliás, sempre lhes invejei a arte da sonsice. Já nos tempos de escola, ficava encantada quando uma amiga mais sonsa me relatava uma das suas quaisquer conquistas: que se tinha interessado por determinado rapaz, que o tinha seduzido, que o tinha comido, que se tinha fartado e que já o tinha deixado. Tudo isto sem ninguém ter dado por nada, o que muitas vezes incluía a namorada do gajo no grupo 'ninguém'. Lógico que contavam o que tinham feito, mas nunca como o tinham feito. E é assim que quem não nasce sonsa, nunca chegará a sonsa. Talvez seja por isso que, ainda hoje, quando me interesso por alguém e dou abertura à época de caça, o gajo percebe, os amigos dele percebem, os meus amigos percebem, toda a gente percebe e, caso haja uma namorada (coisa que só acontece de vez em quando e porque eu sou distraída e às vezes não reparo na existência das mesmas), a minha cabeça já está a prémio mesmo antes de eu chegar a trocar duas palavras com o moço. Às vezes acho que me nascem neons na cabeça. Deve ser algum efeito secundário das minhas hormonas. Os meus vizinhos também costumam reparar, mas isso, mais um vez, é porque eu dou demasiado nas vistas... neste caso nos ouvidos. Mas ninguém pode ser censurado por extrapolar a sua alegria de forma sonora, pode? Se calhar pode. É que a falta de recato faz com que pessoas como eu sejam rotuladas de porcas. E, pior ainda, acusadas não só dos seus próprios deslizes, mas também dos deslizes das outras. E é aqui que voltamos aos peidos, porque o que libertei agora parecia o rebentar de uma bomba. E há dias larguei um parecido no trabalho. E eu até estava sozinha na sala, mas o cabrão fez-se ouvir no corredor e por mais que eu argumentasse que tinha sido um dos aparelhos que devia estar quase a avariar-se que tinha feito um som estranho, ninguém acreditou em mim. Merda para o meu registo criminal nessa área. E foi assim que a partir desse dia passei a ser culpada pelos meus peidos e pelas bufas das outras. A minha vida não é justa.

Já desconfiava

Hoje, durante uma viagem de metro, descobri...

... que o Peter Pan é gay.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Porque isto também podia ser um fashion-blog

A saída de ontem à noite teve como consequência natural uma valente ressaca. Dado que esta também faz parte da rotina de descompressão semanal, é encarada como um ritual que inclui não tomar banho,  bezzerrar o dia inteiro por vários cantos da casa e ir comprar coca-cola e cigarros à tasca aqui da rua. Claro que, tratando-se de um ritual, possui um dess code aprimorado e apurado ao longo dos anos. Creio que o dono e clientes habituais da tasca pensam que me prostituo / drogo / mato pessoas / sou uma badalhoca aos fins de semana. 


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O preto

Figura mítica já várias vezes referenciada nestas escrituras. O preto cruzou-se na minha vida há coisa de 3 anos e foi paixão imediata. Porque o meu preto não é um preto qualquer. Primeiro, porque é um preto inteligente. Depois, porque é um preto que está a ficar careca. Depois, porque é preto que bebe comigo como se eu fosse outro preto. E depois, porque sair à noite com o preto é como viajar até Narnia. Uma das vezes que saí com ele, foi porque me mandou uma mensagem a dizer que precisava espairecer. Claro que acudi o meu amigo e fui ter ao seu encontro perto do bairro alto, onde ele me esperava com outro amigo seu. O amigo dele perguntou-me se eu sabia o que se passava, porque só tinha saído devido a uma mensagem que o preto lhe tinha mandado a dizer que precisava arejar as ideias. Disse-lhe que comigo se passava o mesmo, mas não sabia mais nada. Quando lhe perguntámos se tinha acontecido algo, o preto disse que estava tudo bem, apenas tinha vontade de sair e desta forma há sempre um ou dois tansos que caem no esquema. Senti-me ultrajada, mas cada vez mais fã do meu preto. Horas mais tarde, bem bebida, e sem saber de onde saiu este desabafo, disse-lhe 'Sabes, P (diminutivo de preto), apetece-me beijar na boca.'. Ele disse sorridente 'A mim não, L (diminutivo de Lambisgóia), beija o meu amigo.'. Olhei para o amigo dele e sorri, pelo que ele me perguntou o que se passava. Eu respondi 'Oh C (diminutivo de cabrão), o P disse para eu te beijar na boca'. Ao que o C disse 'Está bem.'. E foi assim que aconteceu uma das histórias de engate mais rápidas da noite lisboeta. Outra noite que saímos juntos, lembro-me de estarmos perdidos já de manhã num bar do Cais do Sodré e de ver o P, um travesti e o segurança do bar, que comia um pacote de batatas fritas, com caras de quem estava a discutir. Cheguei perto e perguntei ao segurança o que se passava enquanto lhe roubava batatas. 'Ele está a importunar a senhora e você não toca mais nas minhas batatas' - 'Ela não é uma senhora, é um homem feio vestido de senhora' (mais duas batatas) - 'É uma senhora, não a chame de feia e já disse que não toca mais nas minhas batatas' - 'Ok, és uma senhora linda, pena é calçares o 44 (olhava para o travesti e tirei mais duas batatas)'. Fomos expulsos e tive que pagar o pacote de batatas. Para compensar, houve outra noite em que, à porta de uma discoteca, o preto começou a cantar uma música, com letra e composição da sua autoria, cujo poema dizia 'Tu vais beber, tu vais dançar na discoteca, a última vez que estivemos aqui, fiquei a dançar sozinho porque tu foste dar uma queca'. Teve direito a aplausos dos seguranças, que nos deixaram entrar sem pagar e ainda hoje me fazem um cumprimento como se eu fosse uma qualquer figura conhecida da TVI. Bem, não me alongo mais. Apenas quero alertar o mundo que o planeta amanhã pode ter duas luas e girar ao contrário, uma vez que a TMN acabou de registar a seguinte troca de mensagens:

Preto: 'Bairramos hoje, L?'
Snail: 'És o demónio e eu sigo a tua profecia.'
Preto: 'Amo o meu rebanho.'
Snail: 'Amen.'

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Podia ter sido um monólogo

Carnaval? Carnaval??? Puta que pariu o Carnaval! Foda-se! Ainda agora foi Natal! Estou ainda tão cheia de Natal que se arrotasse agora ainda podia matar alguém com um bocado de azevia contra a testa! Mas quem é que gosta do Caranaval, senhores? Serpentinas e confetis e o caralho.... Confetis só me fazem lembrar menstruação à conta da gorda do anúncio dos pensos! Já para não falar que no último ano que saí à noite no Carnaval, até nas cuecas tinha confetis quando cheguei a casa! E adultos mascarados... Gajos vestidos de putas? Ainda se se mascarassem de caralhos e viessem atrás de mim! Isso sim, era de homem! E os corsos? Ai mãe, os corsos! Yah, bué fixe, estou aqui toda despida a abanar a peida e as mamas, porque o samba é uma cena bué portuguesa, tás a ver? E com as unhas dos pés roxas porque em Portugal faz um calor do caralho em Fevereiro, percebes?! Isto não é o Brasil! Foda-se! Mas vocês são anormais ou quê?! 

"A Ana estava aqui a mostrar as fotos da filha mascarada no corso de Carnaval do ano passado..."

Ah... Ok.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Futurologia

Eu tenho o estendal da roupa no patamar das escadas. Sorte a minha, que vivo no último andar do prédio. Sorte a minha, que seco a roupa sem sujeitá-la à poluição da rua nem debilitar as cores com a luz do sol. Estendo lá todo o tipo de roupa, desde os panos de cozinha aos lençóis da minha cama de casal. Estranhamente, quando alguém vai lá a casa, comenta apenas que já viu as minhas cuecas.
Ainda outra história que envolve o meu estendal da roupa, passou-se na última primavera e é igualmente intrigante. Saí à noite com o meu amigo preto e bebemos muito. Ele nessa noite estava especial e contagiantemente deprimente, com uma conversa redundante sobre sermos duas pessoas especiais mas sem a capacidade de mantermos relações amorosas a longo prazo, porque o facto de sermos tão especiais faz com que a oferta seja demasiada e demasiado tentadora, tornando-nos más pessoas, o que, aos olhos dos demais, nos torna especiais e incrivelmente apetecíveis. Conversa esta, que fez com que eu bebesse ainda mais que o normal para tentar diluir tanta parvoíce. Isto fez com que eu decidisse ligar a uma amiga por volta das 6 da manhã enquanto subia as escadas de gatas até ao 3º andar, não conseguisse abrir a porta de casa, tenha decidido dormir no patamar das escadas debaixo do estendal e tenha chorado 3 segundos antes de adormecer, porque a minha amiga disse algures que o meu ‘amigo toyboy’ da altura tinha dançado nessa noite com uma mulher vestida de palhaço. Estranhamente, no dia seguinte toda a gente comentou que eu estava apaixonada porque tinha chorado com ciúmes da palhaça.
Ontem trabalhei 17 horas. Turno da noite sem pregar olho, turno da manhã pesado a toque de cafeína, reunião depois de almoço com a duração de uma hora, tendo eu resistido estoicamente de olhos abertos mais de 90% do tempo. Estranhamente, hoje toda a gente comentou como foi engraçado eu ter acordado com o som dos meus próprios roncos nos últimos 5 minutos da reunião. Difamação! Eu estava acordada e claramente tive um ligeiro ataque de tosse que me fez tombar a cabeça para trás e fechar os olhos um bocadinho.
Agora, já terminado o trabalho do dia, estava em conversa animada com um jovem médico do serviço, que contava que hoje ia ter consulta no dentista. Em tom de brincadeira disse que não gostava que lhe ‘metessem aquela coisa na boquinha’. Entrei na brincadeira e disse no mesmo tom ‘se quiseres, vou lá ter contigo e eu meto-te a coisa na boquinha com jeitinho’ exactamente no momento em que uma auxiliar abriu a porta, desistiu de entrar e voltou para trás sem dizer nada. Amanhã vou meter baixa e não venho trabalhar.

domingo, 6 de janeiro de 2013

A arte de sedução do Poupas

Sem mais palavras, fica aqui, a título demonstrativo, uma conversa protagonizada pelo próprio Poupas. Fica também patente a explicação para a perversão de toda uma geração. Atentem ao paleio do gajo entre os 3'20 e 3'35. Um ano da minha vida acabou de ser explicado.


sábado, 5 de janeiro de 2013

Time gap

Há pessoas que não entendem onde fica o passado. Que fica lá longe. Isto é muito complicado para alguns, incluindo aquele gajo com quem andei em 2011, que não percebe que já estamos em 2013 e hoje mandou-me uma mensagem a perguntar se eu já tinha planos para hoje à noite. Não percebe em que ano estamos, não percebe que eu passei um ano inteiro a dizer que já tinha planos cada vez que ele me mandou uma mensagem com conteúdo semelhante e eu não percebo o que o leva a pensar que em 2013 a resposta iria ser diferente. Ia mandar-lhe uma mensagem a dizer 'escolher entre a direita e a esquerda nem sempre é uma questão de política', mas tive medo que ele achasse que eu estava a falar de matraquilhos. E é uma pena o meu sentido de humor tão peculiar ser desperdiçado no vácuo. Ele até nem é um homem feio. Lembrei-me agora de uma rapariga que eu conheço que é loirinha, com caracóis, tem um narizinho redondinho e uma boca rosada e carnuda, ou seja, tinha tudo para ser bonita, mas depois é gorda e aquilo tudo junto fá-la parecer um gorila albino. Ele é alto, meio loiro, com um nariz arrebitado e uma boca pequenina e fofinha e com um rabo bem robusto e firme, ou seja, tinha muito para ser bonito, mas depois tem um pescoço tão comprido que aquilo tudo junto fá-lo parecer o Poupas da Rua Sésamo. Não me perguntem é o motivo para eu ter andado com ele. Todos os dias há, pelo menos, uma mulher que se envolve com um anão, com um coxo ou com um talhante e ainda ninguém conseguiu explicar esses fenómenos muito mais insólitos e descabidos que este. Só consigo perceber que eu, de facto, devo ser uma bomba na cama. Ou que ele deve andar com os tomates cheios. Ou as duas coisas. E agora acabei de bolsar um bocadinho por me ter armado em Margarida Rebelo Pinto.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O perigo!

O facebook. Confesso o meu vício. Não sou pessoa para expor a minha vida lá de perna aberta, mas agradeço aos que o fazem. É que às vezes estou aqui aborrecida, sem nada para fazer, a Casa dos Segredos não dá o ano todo e eu tenho que me distrair com alguma coisa. Com a vida dos outros, claro... Mas convenhamos, uma foto de uma gorda de biquíni na praia, de um gajo sem dentes num jogo do Benfica ou de um jantar de amigas recém-divorciadas com ar de quem se está a iniciar em grupo no mundo da prostituição de baixo custo, alegra qualquer um. 
Sim, eu conheço gente desta, eu cresci na margem sul. 
Ainda há dias, um rapazito lá da minha terra, meio atarracado, com ar de ter um atraso mental ligeiro e que lança mísseis de saliva num raio de 50 metros cada vez que fala, actualizou o seu estado para 'casado'. Entusiasmada com o que se previa ser uma meia hora de pura diversão, ia comentar 'LOL'. Mas, nesse momento, um sujeito de seu nome Bradley Wanderley comentou: 'Maravilha Bro!'. Fiquei sem respirar. Segundos depois, comenta a Suely: 'Meu irmão tudo di bom to torcendo nesse amor viu!'. Tive uma dor aguda no peito. Poucos minutos depois, o estado do atarracado é actualizado para 'casado com Eliany-não-sei-quantas'. Entrei em estado de choque. O atarracado, para além de talvez não ser gay como todos sempre suspeitámos, acabava de se casar com uma brasileira. Pesquisei, estavam noivos há dois meses e meio e conheceram-se no início do verão, o que, muito provavelmente, faz com que o seu grau de atraso mental seja mais grave do que o inicialmente diagnosticado. Isto deu para conversa no chat durante duas horas com mais de 10 pessoas. E as fotos do casamento... senhores, as fotos do casamento! 
Outra coisa que me diverte são os pedidos de amizade de homens feios. Opa... a sério. Há uns tempos, foi um homem lá do trabalho, 40 anos no facebook, provavelmente 50 na vida real. Fotos dele a comer gelados num parque, a participar em corridas ribeirinhas e à pesca num barquinho a motor. Um fofinho. Diverti-me durante 5 minutos com isto, recusei o pedido e fui ver mais fotos de gordos. 
Hoje, estava eu na minha hora de almoço a matar tempo nas cusquices facebookianas e aparece-me esse gajo lá no serviço, para actualizar a base de dados dos números de série dos equipamentos. Fingi não o reconhecer. Com uma conversa que não lembra sequer às testemunhas de Jeová, perguntou se eu gosto de peixe fresco, se eu faço exercício, se eu gosto de passeios pedestres e se eu conheço a prima dele que trabalha num hospital da concorrência. Respondi pronta e seca, já fartinha de o ouvir 'Oiça lá, se eu não o conheço a si, como hei-de saber quem é a sua prima?". Resposta do outro lado: "Não seja por isso, chamo-me Rui-não-sei-de-onde. Então... agora já pode ser minha amiga no facebook, não é?". 
Morri. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Irrita-me

Irrita-me qualquer tipo de movimentos em massa. Irrita-me saber que há pessoas que vão a manifestações só 'porque toda a gente vai'. Irrita-me aquela malta que se acha um génio dos tachos só porque assiste religiosamente aos Masterchefs, Top Chefs, Nigellas, Olivers e Ramseys, que até já chama basílico ao manjericão e para quem o leite-creme passou a ter um nome francês. Irrita-me o Instagram e todos os talentos da fotografia que 'nasceram' o ano passado. Irrita-me que meia Lisboa tenha decidido ir hoje à loja do cidadão levantar o cartão único fazendo com que eu tivesse mais de 100 marmanjos à minha frente quando lá cheguei. Eu não papo disto, meus amigos! Eu sou diferente! Eu vim-me embora e vou lá amanhã! Ah, já me esquecia, hoje fiz um frango do campo ao forno aromatizado com alecrim e um toque de mostarda Dijon que mata pessoas. Ia tirar-lhe uma foto, mas o telemóvel estava no quarto.

Ainda do ano novo

Qual é o resultado de festejar a entrada do ano com um vestido caríssimo e uma pulseira baratucha?
É ter agora um vestido caríssimo cheio de malhas puxadas pela pulseira baratucha que se mantém intacta.
Creio ser possível tirar uma lição de vida a partir disto.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2013 promete

José, taxista de profissão, chega a casa às 0 horas e 38 minutos de 1 de Janeiro de 2013, beija Maria, dá-lhe os desejos de bom ano novo e conta o último serviço do turno, primeiro do ano. 

Sabes lá, deviam passar dois ou três minutos da meia noite, passo ali pela Praça de Espanha e vejo 3 gaiatas, bonitas pá, a correr de braços no ar. Uma alta como tudo, uma baixinha com caracóis e uma loira com calças de cabedal. Entram-me no carro, a rir como loucas e a tresandar a vinho tinto. Contaram-me que jantaram em casa da pequenina, com mais 3 amigos e que planearam passar a meia noite num bar para os lados de Santa Apolónia, que já saíram tarde de casa e que os outros 3 tinham conseguido apanhar um taxi e que elas não. Disseram que, por ser ali perto, ainda tentaram entrar na festa do Teatro da Comuna, mas que lhes pediam 20 euros às 23:57 e que elas acharam demais, então passaram o ano no estacionamento do Teatro a ver o fogo de artifício do Hotel Açores. Pediram-me para levá-las para o Cais do Sodré porque, pelo que percebi, os outros três encontraram uma fila enorme para entrar no tal sítio para onde iam, mudaram de planos e passaram a meia noite dentro de um taxi a caminho de lá. A pequenita só se ria, dizia que a vida dela é um filme russo sem legendas e começou a contar que o ex-namorado dela estava numa festa de ano novo que estava a acontecer na garagem do pai dela. O telemóvel dela começa a tocar e ela desata aos gritos, porque era o ex-namorado e ela não podia atender enquanto não estivesse rodeada de gente a fazer barulho. E ria-se. Deve ser doida. 



Tavares, taxista de profissão, chega a casa às 7 horas e 13 minutos de 1 de Janeiro de 2013, beija Alzira, dá-lhe os desejos de bom ano novo e conta o último serviço do turno. 

Sabes lá, no meio de tanto bêbado do Cais do Sodré, apanho 3 gaiatas, bonitas pá, a correr de braços no ar. Uma alta como tudo, uma baixinha com caracóis e uma morena com trança. Entram-me no carro, a rir como loucas e a tresandar a vinho tinto, aguardente de medronho e cerveja. Contaram-me que eram um grupo de 6, que se separaram sem querer, que passaram o ano uns no meio da rua e os outros dentro de um taxi. A pequenita só se ria, dizia que a vida dela é um filme árabe sem legendas e que se sentia mal-disposta e ia abrir a janela do carro e desabafou que quando bebe só faz asneiras. Contou que discutiu com um rapaz à saída do bar onde estiveram porque ele foi mal educado quando lhe disse que ela estava a passar à sua frente na fila para o bengaleiro, que caiu das escadas para cima de duas raparigas e que discutiu com elas porque elas perguntaram se ela estava bem, que o ex-namorado lhe ligou perto da meia noite e que ela não atendeu logo porque não queria atender enquanto não estivesse rodeada de gente a fazer barulho, mas que assim que chegou a um sitio barulhento lhe ligou e contou que passou o ano num parque de estacionamento e contou-me ainda, palavras dela, que arreou a primeira poia do ano num bar do Cais do Sodré. E ria-se. Deve ser doida.