Sou uma pessoa, diria eu, de necessidades básicas. Sendo assim, visto que as pessoas que me são queridas estão bem de saúde, que continuo linda e magra e que mantenho os meus dois empregos, factor importantíssimo para a manutenção dos meus vícios e vida boémia, posso dizer que o ano correu bem. Mas depois, a consciência pede sempre, em tom de estímulo para um processo evolutivo e de aprendizagem enquanto ser humano, para fazer uma avaliação das partes menos boas do ano que está a acabar. Não foi difícil, bastaram dois segundos apenas para me lembrar daquela fatídica noite de Verão. Estava eu, alcoolizada, a dançar de olhos quase fechados enquanto a minha amiga de 1,82m estabelecia contacto com um indivíduo de 1,85m. Lembro-me que do alto dos meus 1,50m apenas via peitos e sovacos, até que uma criatura com cerca de 1,57m, de sexo supostamente masculino, cabelo à top-model, camisola de cavas, e calções cor-de-rosa-bebé decide iniciar uma conversa com a frase 'Então o meu amigo e a tua amiga estão a falar, ahn?'. Ao que eu respondi 'Tu és gay, não és?'. Foi mesmo isso, um homem borderline nos critérios do nanismo, vestido de cor-de-rosa, teve a ousadia de vir falar comigo. Não entendi muito bem o que se passou a seguir, mas conversa para cá, conversa para lá, desconfio que ele tomou como missão convencer-me da sua heterossexualidade. Coisa que não conseguiu. Mesmo assim houve beijos. Pronto, cá está a revelação, a humilhação, eu perder a pose e revelar ao mundo a vergonha do meu pior e mais embaraçoso episódio de 2012. Que aconteceu no dia em que o beijei outra vez. Sóbria.
Antes que saiam todos de casa de catana na mão à minha procura, asseguro-vos que fingi que tinha um drama pessoal terrível, coisa que me deixou super-sensível ao ponto de me ter ofendido com uma coisa fictícia gravíssima que ele me disse, mas que nunca lhe esclareci o que foi e desapareci.