Há umas semanas, em conversa de pausa para café, as mulheres crescidas lá do trabalho falavam disto: como é bonito ser-se independente mas sem o desatino dos 20 anos, de não fazer tudo de cabeça quente, de controlar melhor os impulsos e de viver as coisas serenamente em nossa casa. Nesse dia, chamei velhas frígidas a todas elas. Uma delas limitou-se a responder-me 'daqui a uns tempos, falamos'. E ontem à noite, estava aqui eu aborrecida e pensei: Olha, estou aqui a mamar sushi e vinho tinto feita parva e a olhar para a televisão... isto queria era que eu me passasse dos cornos e fugisse de casa e conduzisse sem destino, desse boleia a gajo lindo de morrer e com uma pila da largura do meu punho, que encostássemos num sítio qualquer e pinássemos até ser dia. Mas depois pensei: Oh filha, deixa-te mas é de coisas que já estás em pijama e fugir de casa quando se vive sozinha é assim um bocado a dar para o estúpido, para além de que tu não conduzes nem tens carro e isso de engatares gajos na carreira 731 da Carris não é boa ideia que ainda te sai um traficante de bairro ou um cliente do traficante, sendo que isto é quase indiferente porque o grau de putrefação dos dentes deve ser semelhante, e quando desses por ti estavas a pinar no campo de futebol do Olivais e Moscavide, e com o frio que está na rua ainda apanhavas uma pneumonia. Desmoralizei um pouco e considerei que o meu plano inicial era levemente megalómano, que os riscos podiam ser realmente elevados, pelo que a minha revolta ficou-se apenas por adormecer no sofá com a televisão ligada e ter acordado sobressaltada de madrugada, gelada, com o nariz a transbordar de ranho, enquanto sonhava com uma pinadela à antiga, daquelas com mamas aos saltos como quando a Bo Derek cavalgava em pelota. Foi assim que acordei no dia em que completo 35 anos. E não, não estou a ficar velha, foi aquela puta que me lançou bruxedo. Parabéns a mim.