- Então miúda? Casaste ou quê?
- Não... Mas lavo-lhe as cuecas. É quase a mesma coisa.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Aleluia.
Há uns tempos, publiquei uma foto com cerca de vinte pares de sapatos numa rede social. Quarente e oito pessoas - quarenta e sete mulheres e um gay - gostaram da foto. Se ele não é gay, perdeu a oportunidade de ficar sossegado, pensei eu na altura. Pensei também em dar-lhe uma palavrinha sobre isto, porque perder coisas pode deixar uma pessoa um bocado fodida mas no mau sentido, mas entretanto fui de férias. Fui de férias e aconteceu o seguinte. E passo a relatar. A coisa ia correndo mal logo no início, porque deixei-me dormir e ia perdendo o avião. Já ia meio fodida porque tive a triste ideia de ir beber copos na véspera e isto das ressacas já não são o que eram há 10 anos atrás. Devo ter perdido o fígado algures. Passado o stress inicial e a ressaca, lá comecei a aproveitar a coisas, road trip pela Europa, faz e desfaz malas em cada paragem, até que dou por mim e: como é que uma pessoa consegue perder três peças de roupa interior em menos de uma semana??? Como??? Olhei para o tecto, como as Divas fazem nos filmes, e disse ''Eu não sei que tipo de mensagem queres passar, meu... mas isso de me fazeres perder coisas 'tá a deixar-me fodida!''. Os dias lá passaram, ainda perdi um isqueiro, um frasco de gel de duche e 50 euros numa multa de trânsito. E é na última tarde que reúno mentalmente tudo isto e traço a seguinte regra teórica, a meio de uma caneca de cerveja: perder coisas é mau, nada de bom vem por ter perdido coisas, não tenho as coisas e estou fodida, foda-se, estou tão fodida. E ora que chega a última noite, roupa fancy, perfume, jantar num bom restaurante, saída para uns copos, discoteca, malta muito bêbeda, rapaz lá ao fundo a sorrir, Oh Deus não pode ser!, Snail?, Zé?, Tu aqui?.
Graças a Deus que perdi a virgindade, e há já muitos anos. Todas as regras têm uma excepção, e algumas têm mais que uma. Fui fodida, foda-se, fui tão fodida.
domingo, 6 de abril de 2014
Momentos de reflexão
Faria sentido voltar com um pedido solene de desculpas devido à ausência prolongada, não era? Era. Um treinador bonzaço lá do ginásio também pede sempre para eu me desculpar quando me baldo mais de dois dias seguidos. Nas últimas semanas aconteceram-me várias coisas caricatas. Após cada uma delas pensei, ''Olha, isto até dava um post!''. Algumas foram no trabalho. Houve o jovem que pediu-me para eu lhe beliscar os mamilos. Houve a senhora que me acusou de ter roubado o casaco ao marido. Houve o vendedor de suplementos para desportistas que conhece o meu treinador bonzaço. Outras foram no ginásio. Há o chinês meio gay que tanto diz que gosta de mim, como da cinquentona fresca, como do treinador bonzaço e que diz que temos todos de ir beber café e passear no parque uma noite destas. Não percebi se ele ainda não fala bem português ou que raio de hábitos eles têm lá na China de ir passear no parque em pleno Inverno, mas temo que ele queria combinar uma espécie de double date. Coisa que, dado a sua orientação sexual dúbia, me deixa com igual probabilidade de calhar com ele, com a cinquentona ou com o bonzaço. Qualquer uma destas situações davam para criar um post com uma mensagem subtil de orientação espiritual? Dava. A verdade é que eu não sei bem o que se passa comigo. Ainda hoje de manhã pensei em escrever qualquer coisa, e até foi uma manhã engraçada, porque acordei com um olho inchado e percebi logo que a chuva tinha ido embora e que as alergias tinham voltado. Depois almocei e comi feijoada, e enquanto comia a fruta senti uma ligeira turbulência intestinal e pensei "Eh lá, que o peido já está em gestação!". Depois estive a limpar a casa e enquanto aspirava foi um tal de me libertar, o que até foi giro, porque senti que fazia parte de uma linha de produção industrial de gás natural, o tubo a engolir ar e eu a soltá-lo como um homem. E uma parte importante da vida é isto, sentirmos que fazemos parte de alguma coisa, não é? É. O treinador bonzaço lá do ginásio também diz que sim. O que eu quero explicar é isto, é que eu penso em fazer as coisas, mas depois distraio-me não sei bem com o quê, o que é uma pena. Pena também, é o sexo continuar a não fazer parte da minha vida. Ainda no outro dia lamentei-me disto com uma amiga, e disse-lhe que estava a precisar de férias, imperiais e sexo. ''Férias e imperiais vais tu ter já para a semana, quanto ao resto não te posso ajudar nem estou interessada.'', disse-me a bruta. O mais engraçado é que três dias depois, conforme as escrituras, um antigo quase-namorado, que por acaso é muita giro, ressuscitou sob a forma de um sms a perguntar como estou e que gostava de beber um café um dia destes. Café a puta que o pariu, que essa conversa já eu conheço. Não foi preciso muito esforço para saber que se separou e que anda a 'sentir-se sozinho'. Mas isto é como diz um treinador bonzaço lá do ginásio, que por acaso também é muita giro e muita divorciado: ''Tu é que tens razão Snail, não vamos perder tempo com o passado.''. Mas isto tudo, se calhar, é cansaço e não ter tido tempo para muita coisa nos últimos tempos, nem para as noitadas. Ainda hoje estava a falar com o treinador bonzaço lá do ginásio na net, ele estava a contar-me que ontem foi sair e que anda destreinado dos copos, que só de beber duas coisinhas ficou meio torto e que por isso é que me mandou mensagens a dizer "Anda daí!" e "Zimboraaaaa!" quando sabia perfeitamente que eu estava a trabalhar. Eu ri-me e disse-lhe que também ando enferrujada nisso dos copos e ele propôs que fossemos só os dois sair, sem mais ninguém ver, para treinarmos os fígados para o Verão que se aproxima sem passarmos a vergonha de andarmos fraquinhos. Ele é engraçado, não é? Eu também acho. E pronto. Já me baralhei toda. Acho que é aquilo da semana antes de entrarmos de férias que deixa as pessoas assim meio tontas e sem conseguir pensar na mesma coisa durante muito tempo, não é?
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Pequeno exercício sobre a ordinarice e a insanidade mental
Os pressupostos:
- Um grupo de pessoas vai trabalhar, da parte da tarde, para um local fora da cidade onde vivem.
- Esse grupo é composto por três pessoas, dois homens, condutores, chamados Guilherme e António, e uma mulher, não condutora, chamada Snail.
- Guilherme, simpático, tinha prometido boleia à Snail, porém Guilherme terminou o seu serviço mais cedo, pelo que pergunta a António se pode ser ele a levar a Snail a casa, já que os dois vão terminar o serviço sensivelmente à mesma hora.
Cenário 1, assumindo que os três são pessoas normais.
Guilherme: António, podes dar tu boleia à Snail?
Snail: Oh, não é preciso, eu vou de comboio...
António: Vais agora de comboio... Claro que te dou boleia.
Snail: Desde que não te faça transtorno... Aceito...
Cenário 2, assumindo que Guilherme é um ordinário.
Guilherme: António, podes dar tu boleia à Snail? Se quiseres, até lhe podes dar uma à bruta, que ela gosta.
Snail: Ordinário! Não é preciso, eu vou de comboio...
António: Ele é parvo, não ligues. Claro que te dou boleia.
Snail: Desde que não te faça transtorno... Aceito...
Cenário 3, assumindo que Guilherme e António são uns ordinários.
Guilherme: António, podes dar tu boleia à Snail? Se quiseres até lhe podes dar uma à bruta, que ela gosta.
Snail: Ordinário! Não é preciso, eu vou de comboio...
António: E chupas? Se chupares dou-te boleia.
Snail: Ordinário! Desde que não te faça transtorno... Aceito... A boleia, claro!
Cenário 4, assumindo que Guilherme, António e Snail são uns ordinários.
Guilherme: António, podes dar tu boleia à Snail? Se quiseres até lhe podes dar uma à bruta, que ela gosta.
Snail: Sim, só se for à bruta. Para fazer festinhas, prefiro fazê-las eu sozinha.
António: E chupas? Se chupares dou-te boleia.
Snail: Só se pagares.
Cenário 5, assumindo que os três são uns ordinários e que não são bons da cabeça.
Guilherme: António, podes dar tu boleia à Snail? Se quiseres até lhe podes dar uma à bruta, que ela gosta.
Snail: Sim, só se for à bruta. Para fazer festinhas, prefiro fazê-las eu sozinha.
António: E chupas?
Snail: Só se pagares.
Chefe dos três: Esse tipo de brincadeiras fora da sala de espera! Já não é a primeira vez que vos aviso aos três!
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
TPC - A homenagem a uma professora.
Uma menina de baixa estatura, esbelta e em boa forma física, foi ajudar a descarregar móveis de uma carrinha. Responda a cada alínea, escolhendo a hipótese correcta.
1) Com base na imagem seguinte, indique qual a afirmação verdadeira:
b) existem garrafas maiores que certas saias;
c) a imagem representa uma saia que não devia ser usada e uma garrafa que já foi usada;
d) para pequenas saias, grandes garrafas;
e) é um cinto e uma garrafa.
e) é um cinto e uma garrafa.
2) Considere que vai a passar na rua, dentro do seu carro, e que olha na direcção da menina. Que posição/movimento terá ela de fazer para que consiga ver as suas cuecas?
a) entrar de cabeça para dentro do carro, com o rabo empinado e virado para a estrada;
b) inclinar-se levemente para a frente e coçar um joelho;
c) levantar um braço;
d) espirrar;
e) se ela se mexer muito vê-se mais do que as cuecas.
domingo, 23 de fevereiro de 2014
Snail, a alegrar a vida das pessoas desde 1978
Ontem fiz uma boa acção. Ajudei uma amiga a fazer o quartinho novo para o filho dela. Lá fomos as duas buscar a mobília, encaixar tudo na carrinha, ir em alegre cavaqueira até casa dela, descarregar tudo e montar os móveis. Achava eu que a minha boa acção do mês tinha sido só isso, até ter acontecido a seguinte troca de mensagens com um amigo meu.
- Ontem vieste à terrinha e não disseste nada...
- Como é que sabes?
- Vi-te à porta da casa da Márcia.
- Não te vi...
- Passei de carro. Estavam a descarregar qualquer coisa do carro dela. O preto fica-te bem.
- Deixa-te de merdas. Tenho aquele casaco há anos!
- As cuecas. Vi-te as cuecas.
Fuck You Mini Saia!!!
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
Olimpíadas de Inverno e Recordes Mundiais
Quase todos os dias, partilho o elevador de manhã com um vizinho do andar de cima. Eu acho que ele fica à espera que eu saia de casa e faz isto de propósito. Ele tem um rabo bem estruturado, anda sempre de fato e pisca-me o olho enquanto diz bom dia, mas não é assim muito giro. Só que no outro dia vinha de braguilha aberta e tive vontade de meter a mão lá dentro. Isto da vida celibatária dá conta da cabeça a uma pessoa, e se antes ficava 4 horas a pensar em pilas, agora fico 4 ou cinco dias a sofrer. Até já pensei em agarrar numa chávena, subir um andar e bater numa das portas ao acaso com a desculpa que o açúcar acabou e fazer uma conversa que vi há dias num documentário sobre um canalizador que foi fazer uma reparação a casa de uma loira mamalhuda e que depois foi violado à má fila. Também há um preto que vive num dos andares acima do meu. A largura dos ombros dele provoca-me espasmos. Uma dia subimos juntos no elevador, eu saí no meu andar, ele continuou. Resumindo, eu posso ir à procura do sexy mother fucker que partilha o elevador comigo de manhã e propor-lhe sexo desesperado com uma caneca na mão para disfarçar, correndo o risco de ser um preto de ombros largos a abrir a porta. Posto isto, posso avançar para a parte importante deste texto, que é: até quando me engano, sou a maior e algo mágico acontece. Há uns meses atrás, no trabalho, tinha de escrever um relatório sobre um doente hipertenso oriundo de uma ex-colónia que tinha urgência em entregá-lo na embaixada, pelo que escrevi a coisa um bocado à pressa. Reparem no cuidado que tive agora em escrever 'oriundo de uma ex-colónia' em vez de escrever preto outra vez. Bem, voltando ao assunto, escrevi o tal relatório à pressa, mandei imprimir e qual não foi o meu espanto, quando a administrativa tira as folhas da impressora e pergunta-me histéria: "Oh porca, viste a pila ao preto?". Eu, serena como sempre, ia começar a dizer que já vi a pila de um preto, mas não foi a deste, e que isso de experimentar e depois só querer pretos não é bem assim, porque também já vi pilas de outras cores igualmente generosas, quando a histérica , lavada em lágrimas e com falta de ar, agarra num marcador rosa-choque e sublinha, na conclusão do meu relatório, o meu engano. Foi nesse dia que esteve por um fio, um preto sair daquele hospital com um relatório a dizer "hipertesão" na conclusão. Esse mesmo papel esteve pendurado até hoje por cima da impressora, qual troféu da melhor gaffe do serviço. Desde então, tenho tido cuidados redobrados cada vez que tenho de escrever a palavra hipertensão. Faço o meu trabalho, descrevo anomalias morfológicas, descrevo anomalias funcionais, descrevo coisa com nomes esquisitos, mas quando tenho de escrever a palavra hipertensão, tudo tem de andar mais devagar para garantir que não me vou enganar. Hoje, mandei imprimir umas coisas, e de repente vejo a histérica a ficar vermelha e a arfar como da outra vez. Disse-lhe logo que escusava de estar com coisas, porque eu tinha escrito tudo com atenção. Sem me responder, só a vejo arrancar sem misericórdia o épico relatório do qual acabei de vos falar, para o substituir por outro com uma frase sublinhada a rosa-choque. Com andar pesado, avancei. Por mais que me custasse, tinha de saber quem me tinha destronado. Olhei para a frase sublinhada, onde leio à primeira vista 'parâmetros funcionais dentro do normal', mas depois reparo no erro. Na verdade dizia 'funiconais'... funi... conais... com 'o'... de cona, claro está. Devagar, olho para o espaço onde consta o nome do operador. Snail da Silva. O orgulho. A sensação de me superar a mim própria é impagável.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Era uma vez uma história de amor.
Venho de uma terra onde a poesia paira no ar. As manhãs começam com o cantalorar dos passarinhos, há senhoras a ir comprar o pão em robe e chinelos de quarto, os hálitos dos homens já cheiram a bagaço e os cães vadios ainda dormem junto aos contentores do lixo. É com saudade que guardo estas imagens na minha memória, enquanto as semanas passam e eu estou longe da casa dos meus pais. Mas, com grande alegria, acaba sempre por chegar aquele fim de semana do mês em que vou fazer a visita obrigatória e abastecer-me de laranjas e limões. Com o saco de desporto ao ombro, lá saio de casa para apanhar o autocarro, e pelo caminho até à estação, lá vou reconhecendo uma cara ou outra do meu passado. "Epa, já não via este/a gajo/a há séculos...", penso eu, enquanto reconheço um buço ou um ou outro vigoroso coçar de tomates, "deixa-me lá sacar dos óculos escuros da mala e baixar a cara antes que algum deles se lembre de mim". Já na estação, na fila para o autocarro, já não são só as caras que despertam reacções na minha memória, os comportamentos também. E se há coisa que se faz bem na minha terra, é engatar. O franzir de sobrancelhas, a mão que não sai da própria genitália, o fumar com o cigarro meio esmagado de forma viril entre o indicador e o polegar, são especialmente exuberantes nos machos da minha terra. O fingir-se desentendida mas sedutora, a ajeitar o decote enquanto se espeta o salto alto sem capas nas pedras da calçada e se cai meio desamparada, porém sorridente, com as mamas escarrapachadas em cima do macho, enquanto se faz uma dissertação sobre qualquer assunto especialmente intelectual, são líricos nas fémeas lá do bairro. Pois que, este sábado, chego à estação para apanhar o autocarro e deparo-me com um destes rituais de acasalamento. Casal na casa dos vinte, cabelo com as famosas madeixas californianas que fizeram furor este verão e que não levaram nenhum retoque desde que foram feitas de um lado, fato completo de ganga lavada, com ténis brancos e anel de ouro em dois dedos de cada mão do outro. Sorri e tirei o auriculares dos ouvidos. Música para quê? A magia estava no ar. Entrámos no autocarro, éramos apenas 4 ou 5 passageiros, mas mesmo assim sentei-me no banco atrás do casal. Deus me livre de fazer esta viagem sem me presentear com o vosso romance, meus pombinhos. Ela, claramente, estava na fase de se mostrar uma mulher super-interessante, super-culta, super-viajada e super-séria. Ele comia-lhe as mamas com os olhos. Ela começou por falar de viagens. Viagens, só para destinos com cultura, arquitectura e história. Rapidamente passou para as maravilhas naturais do mundo e para as praias paradisíacas que já tinha visitado. Ele continuava a comer-lhe as mamas com os olhos. Ela começou a falar em quadros e pintores, museus e desenhos animados. Ele comia-lhe as mamas com os olhos. Ela passou a falar de vinhos, agricultura, restaurantes e hotéis. Ele sorriu. Comia-lhe as mamas com os olhos Ela sorriu de volta e perguntou se ele já tinha combinado jantar com alguém. Ele hesitou. Ela não desarmou e adiantou logo que se não desse para jantar, podiam sair depois para beber um copo. Ele hesitou mais um pouco, pousou a mão no ombro dela e, enquanto lhe comia as mamas com os olhos, disse docemente "Isso não sei, mas eu depois posso ligar-te à noite... dá para foder?". E foi isto. Até me vieram as lágrimas aos olhos. E isto acaba por ser assim em todo o lado. Com menos delicadeza no resto do mundo, é certo, mas isto é assim. E eu gostava mesmo que as pessoas soubessem que isto é assim. Sempre. Porque se as pessoas soubessem que é assim, aquele anormal que não me conhece de lado nenhum, feio como as noites de tempestade, com verdete nos dentes e glaciares de caspa na cabeça, e que do nada decidiu perseguir-me até me encontrar e encetar a primeira conversa da vida dele comigo com um "Tens um cabelo bonito" seguido de 30 convites para passear pela cidade, já tinha percebido o que eu quero dizer exactamente com os meus repetitivos "Não, não vai dar.".
domingo, 26 de janeiro de 2014
Tempo de Antena
Querido diário,
Desde ontem que a minha colega de trabalho anda a causar-me alguma preocupação.
Dei-lhe boleia para o trabalho, não porque goste dela, mas tenho um carro novo e sou um grande cagão.
Pelo caminho, vimos um senhor a passear o animal de estimação.
Desatou-me aos gritos no carro "Olha que lindos que são os tomates daquele cão!".
Feita louca, esteve cinco minutos a imitar o balançar dos ditos enquanto trauteava uma canção.
Só parou porque lhe dei um chapadão.
Feita louca, esteve cinco minutos a imitar o balançar dos ditos enquanto trauteava uma canção.
Só parou porque lhe dei um chapadão.
Durante o resto da manhã, tudo o que ela dizia tinha a ver com colhão.
Ainda exemplificou, franzindo a cara, como ficam arrepiados os tomates dos homens antes da ejaculação.
Diz ela que tem saudades de senti-lo com a mão.
Descobri que ela não anda só com falta de sexo, ela precisa mesmo é que alguém lhe dê um valente fodão.
Descobri também que sou um poeta.
Guilherme, colega de trabalho da Snail.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Snail, a educar os portugueses com subtileza desde 1978
- Oh menina! Menina! Olhe, este sítio está muito mal organizado! Um gajo vem fazer um exame, até chega mais ou menos a horas e depois perde-se porque isto não está nada sinalizado, e anda aqui ao tio ao tio a perguntar onde isto se faz e ninguém sabe responder blá blá blá.
- Bom dia, antes de mais...
- Olhe, bom dia só se for para si. Eu já estou farto de andar aqui perdido. Veja lá se me sabe dizer onde se faz o exame, que já estou atrasado e como vocês não gostam muito de trabalhar, é a função pública que temos neste país, basta um gajo chegar atrasado uma hora e já dizem que não podem fazer o exame porque têm muitas marcações e blá blá blá.
- Eu posso tentar ajudar, mas sem saber qual é o exame não consigo...
- Está aqui escrito no papel! Tenho o papel virado para si desde que estou a falar consigo. É uma eco, mas escusa de me mandar para o sítio onde fazem as ecos ao coração que já lá estive e disseram que é noutro departamento. Agora, em vez de fazerem as ecos todas no mesmo serviço, que era mais fácil para toda a gente, têm as ecos separadas como se uma fossem mais importantes que as outras!...
(Snail fofinha, suspira enquanto olha para a folha A4 que o senhor teima em abanar à sua frente)
- Ah! Essas ecos são feitas no piso de cima, onde se fazem as ecos às partes moles. Bom dia!
(Snail sorri e vai à sua vida. Ninguém manda o senhor ser mau para a Snail quando pede indicações para fazer um "eco peniano")
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
A diferença entre amar e não amar
Há muitos anos eu tinha namorado. Num domingo de sol, juntamente com o nosso grupo de amigos, bebemos umas cervejas a mais e ficámos ligeiramente embriagados. Estávamos de férias, algures na costa alentejana, havia mato com silvas, formigas e tabaco de enrolar. A felicidade era tanta, que eu e o meu namorado abraçámo-nos sem motivo, começamos a rodopiar devagar, até que terminámos de mãos dadas a rodar cada vez mais rápido, com as cabeças levemente inclinadas para trás e olhos fechados. Não me contive. Larguei-lhe as mãos e ele caiu de costas nas nas silvas. Eu achei giro, mas ele não. Uns meses depois acabámos. Chorei 1 dia.
Há 5 anos que tenho o meu portátil. No domingo passado, chovia lá fora e eu estava a ressacar no sofá. Numa súbita vontade de vomitar pela quarta vez, levantei-me a correr e o portátil voou. A bateria deixou de carregar, desde esse momento. Pensava eu que era do cabo e, mesmo de ressaca, saí de casa para comprar um novo. Não era do cabo. Não consigo dormir, não consigo comer e ainda não consegui parar de chorar.
Há 5 anos que tenho o meu portátil. No domingo passado, chovia lá fora e eu estava a ressacar no sofá. Numa súbita vontade de vomitar pela quarta vez, levantei-me a correr e o portátil voou. A bateria deixou de carregar, desde esse momento. Pensava eu que era do cabo e, mesmo de ressaca, saí de casa para comprar um novo. Não era do cabo. Não consigo dormir, não consigo comer e ainda não consegui parar de chorar.
sábado, 11 de janeiro de 2014
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Quão errado é desligar uma chamada na cara do chefe?
De todo errado, dirão vocês.
Chefe é chefe e subalterno é subalterno. Se o chefe telefona ao subalterno é porque o chefe quer falar com o subalterno. E o facto de não ter nada de interessante ou pertinente a dizer, segundo os critérios do subalterno, não dá o direito ao subalterno a dar a conversa por terminada, nem sequer se invocar motivos de força maior, muito menos se desligar a chamada sem aviso. Ora, eu, que chefio algumas pessoas, por vezes estou aborrecida e ligo a um qualquer elemento dos patamares mais baixos da hierarquia profissional, apenas para ordenar que me digam que eu sou linda, para lhes perguntar o que estão a fazer ou para saber se não me querem trazer um café. Às vezes também ligo a fingir que sou dos recursos humanos a dizer que vão ser despedidos ou que foram destacados para inventariar corpos não identificados na morgue durante uma semana. Muitas vezes chamam-me atrasada mental ou desocupada, mas é com carinho. Outras vezes desligam sem dizer nada e eu volto a ligar para informar que não se desliga uma chamada na cara da chefe. Mas a minha vida não é perfeita. Eu também tenho chefes. Isso e o síndrome da juventude crónica, patologia gravíssima que se traduz clinicamente, entre outras manifestações de infantilidade, por crises sazonais de acne. Pois que hoje, quase todas as coisas erradas da minha vida se manifestaram, qual alinhamento cósmico do insólito. Acordei esta manhã cheia de sono e mau humor, e tudo piorou quando me olhei ao espelho antes do banho. Perfeita fusão entre a Diana Ross e uma estrela Bollywodesca, vi a minha cara rodeada pela minha farta cabeleira encaracolada e com uma borbulha roliça, fresca e de cor vermelho-rubi entre as sobrancelhas. Tive vontade de chorar, mas como já estava atrasada, fui tomar banho, vesti-me e saí de casa. Ainda mal tinha ligado o meu computador no trabalho, quando o meu chefe telefona para falar sobre papéis e toalhetes. Num acesso de simpatia matinal, perguntou a certa altura se eu estava 'bem dispostinha'. Cabisbaixa, respondi que estava mais ou menos.... "Acordei com uma borbulha gigante entre as sobrancelhas...", disse-lhe desanimada. Ele riu-se, simpático, e respondeu "E consegue andar...?". Nem deixei que terminasse a pergunta, respondi rápido, a explicar um detalhe importante nesta história emocionante, mas não tão emocionante como a que eu achava que ele estava a ouvir. "Entre as sobrancelhas! So-bran-ceeeeeeeeee-lhas!!!". Calmamente, respondeu-me: "Sim, querida... eu percebi onde era. Só ia perguntar se, vaidosa como eu a conheço, consegue andar assim na rua....".
Sim, meus queridos, às vezes está certo fingir que se ficou sem rede, que a bateria do telefone foi-se, que parte do edifício evaporou ou que se teve morte súbita e simplesmente ficar-se mudo de vergonha durante dez segundos para depois desligar a chamada ao chefe sem aviso.
domingo, 5 de janeiro de 2014
Comunicado
Não tenho a certeza se já disse isto aqui, mas nunca é demais reforçar: a sabedoria dos nossos velhos é de uma riqueza inestimável. Muitas vezes, quando vou passar o fim de semana lá na minha casa de campo, vulgo casa dos meus pais na terra que me viu crescer, o meu pai conta a história de uma noitada nas festas de uma terra vizinha. Naquele tempo, ele conduzia uma mota Famel e não usava capacete. Conta-me esta parte para me explicar que eu levo muitas coisas dentro da mala e que, depois de beber uns copos a mais, corro o risco de perder artigos de valor. Naquele tempo, ele deixava a mota em casa e ia de autocarro ou comboio para as festas das outras terras. Conta-me esta parte para me relatar a alegria de uma noite de festa, o que inclui a ida e a volta, que no autocarro iam todos juntos e podiam rir das palhaçadas uns dos outros no regresso, coisa que não podia acontecer na Famel porque só restava lugar para mais um e isso era um grande risco, porque se o outro tivesse bebido demais podia vomitar-lhe a cabeça e ele ia sem capacete. Naquele tempo, ele comprava logo bilhete de ida e volta porque depois de beber duas cervejas já não sabia fazer contas e corria o risco de não ter como voltar para casa. Conta-me isto e acaba sempre a contar a noite em que só tinha bilhete de ida, os amigos já tinham ido embora mas ele quis ficar na festa até fechar a última tasca e, sem ninguém para lhe emprestar dinheiro nem para lhe dar boleia, acabou por adormecer encostado a uma árvore e só acordou quando um cão vadio lhe mijou nas pernas e que depois teve de fazer 5 km a pé. Depois disto, entre sorrisos saudosos e suspiros ao relembrar os seus gloriosos tempos de juventude, termina o seu discurso a explicar-me que devemos sempre sair da festa enquanto ela ainda está a ser boa, pois assim só guardamos boas recordações. "E assim deve ser tudo na vida..." - diz-me ele a enrolar as pontas do bigode grisalho -"... se já não te dá gozo, se já te faz dores de barriga, se já te faz sono, se já te faz ficar aborrecida a pensar que já foi bom, segue para outra coisa. Tudo tem o seu tempo e cada um tem o seu."
E é isso que vou fazer.
Por aqui, declara-se oficialmente encerrada a festa de Ano Novo.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Snail, a apimentar os relacionamentos dos outros desde os finais de 2013.
Este ano tive uma passagem de ano diferente. Entre emigrações e novos namoros, o grupo do costume dissipou-se em escolhas diferentes para a noite de ano novo, pelo que acabei por passá-la com uma amiga de guerras antigas. Pessoa que partilha comigo o gosto pela vida boémia, teve uns aninhos de ausência devido a uma relação séria. Relação essa, que começou numa de tantas saídas nocturnas e que terminou recentemente. Enquanto combinávamos o plano para o jantar da 'grande noite do ano', que se realizou na minha casa, ela pediu-me se podia trazer um amigo e uma amiga. Disse que sim, claro, quantos mais melhor. E qual não é o meu espanto quando os três chegam e eu reparo que o amigo é uma antiga paixão dessa minha amiga. Entre olhares subtis, percebo que há ali qualquer coisa a rolar, consigo perguntar entre dentes, ela cora e diz um tímido 'ainda não'. Fiquei feliz pela minha amiga. Eles entram, despem os casacos e de imediato faço a apresentação da casa. Assim que mostro o quarto, a minha amiga exclama com voz trémula e emocionada ''Ah!!! A tua cama! Saudades da tua cama!''. Naqueles tempo em que saíamos juntas, ainda eu morava num T0 em que aquela cama era a maior peça de mobília da minha casa, e as noites terminavam religiosamente com o pessoal todo ao monte sentado na cama a comer massa com atum e a rir até adormecermos um para cada lado. Eu rio-me com cumplicidade, mas segundos depois reparo no ar desconfiado do 'amigo'. Tento salvar a minha amiga.
Posto isto, e antes de continuar com esta linda história de amizade, vou só ressalvar alguns pontos importantes que podem facilmente identificar na breve nota introdutória do monólogo que se segue. Eu sou uma pessoa boa. Eu não me esqueço dos meus amigos. Eu aceito que eles voltem à minha vida. Eu sou generosa. Eu aceito receber pessoas novas em minha casa, só para garantir o bem estar de todos. Eu sou uma heroína. Eu dou o peito às balas para salvar as pessoas de quem gosto. A vida não é justa.
- Ela já conhece a minha cama...
Amigo continua desconfiado.
- Oh, que cara é essa? Ela está assim porque já foi muito feliz aqui...
Amigo mostra-se desconfortável.
- Epá, calma! Ela esteve na minha cama, mas eu também estava!
Amigo arregala os olhos num misto de sensação de facada no peito e excitação sexual.
- Epá, isto agora soou mal, não foi? Não interpretes isto mal! Eu estava na cama com ela com ela, mas também estavam mais pessoas...
Amiga puxa amigo pelo braço, faz cara de má e manda-me calar.
Ah, a ingratidão...
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